19/01/2021 - 9:39
Os lobos-pré-históricos (também conhecidos como lobos-terríveis) foram extintos há cerca de 13 mil anos. No entanto, graças aos restos fósseis, análises de DNA e um pouco da ajuda da série de TV Game of Thrones, sua lenda continua viva. Uma pesquisa publicada na revista “Nature” revelou que esses animais se separaram dos outros lobos há quase 6 milhões de anos e eram apenas parentes distantes dos lobos de hoje.
O estudo mostra que os lobos-terríveis eram tão diferentes de outras espécies caninas, como coiotes e lobos-cinzentos, que não eram capazes de cruzar entre si. Análises anteriores, baseadas apenas na morfologia, levaram os cientistas a acreditar que os lobos-terríveis eram intimamente relacionados aos lobos-cinzentos.
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A pesquisa envolveu cientistas da Universidade de Durham e Universidade de Oxford (Reino Unido), da Universidade Ludwig Maximilian (Alemanha), da Universidade de Adelaide (Austrália) e da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA, nos Estados Unidos), entre outras instituições.
Primos muito distantes
Pela primeira vez, a equipe internacional sequenciou o DNA antigo de cinco subfósseis de lobos-terríveis dos estados americanos de Wyoming, Idaho, Ohio e Tennessee, datados de mais de 50 mil anos atrás. Suas análises mostraram que lobos-terríveis e lobos-cinzentos eram, na verdade, primos muito distantes.
Essa é a primeira vez que o DNA antigo foi retirado de lobos-terríveis, revelando uma história complexa desses predadores da era do gelo. A colaboração de 49 pesquisadores em nove países analisou os genomas de lobos-terríveis juntamente com os de muitas espécies diferentes de canídeos semelhantes a lobos. Suas análises sugerem que, ao contrário de muitas espécies de canídeos que aparentemente migraram repetidamente entre a América do Norte e a Eurásia ao longo do tempo, os lobos-terríveis evoluíram apenas na América do Norte por milhões de anos.
Embora os lobos-terríveis se sobrepusessem a coiotes e lobos-cinzentos na América do Norte por pelo menos 10 mil anos antes de sua extinção, não foram encontradas evidências de que eles cruzaram com essas espécies. Os pesquisadores sugerem que suas profundas diferenças evolutivas significavam que eles provavelmente estavam mal equipados para se adaptar às mudanças nas condições do final da era do gelo.
A autora principal, drª Angela Perri, do Departamento de Arqueologia da Universidade de Durham, disse: “Os lobos-terríveis sempre foram uma representação icônica da última era do gelo nas Américas e agora um ícone da cultura pop graças a Game of Thrones. Mas o que sabemos sobre sua evolução e história tem se limitado ao que podemos ver pelo tamanho e forma de seus ossos e dentes”.
História complicada
Ela acrescentou: “Com esta primeira análise de DNA antigo, revelamos que a história dos lobos-terríveis que pensávamos conhecer – particularmente uma relação próxima com os lobos-cinzentos – é na verdade muito mais complicada do que pensávamos anteriormente. Em vez de estarem intimamente relacionados a outros canídeos norte-americanos, como lobos-cinzentos e coiotes, descobrimos que os lobos-terríveis constituem um ramo que se separou de outros milhões de anos atrás, representando o último de uma linhagem agora extinta.”
A coautora principal, drª Alice Mouton, da UCLA, acrescentou: “Descobrimos que o lobo-terrível não está intimamente relacionado com o lobo-cinzento. Além disso, mostramos que o lobo-terrível nunca cruzou com o lobo-cinzento. Em contraste, lobos-cinzentos, lobos-africanos, cães, coiotes e chacais podem intercruzar, e o fazem. Os lobos-terríveis provavelmente divergiram dos lobos-cinzentos há mais de 5 milhões de anos, e foi uma grande surpresa que essa divergência tenha ocorrido tão cedo. Esta descoberta destaca o quão especial e único o lobo-terrível era.”
Um dos carnívoros pré-históricos mais famosos da América do Pleistoceno, o lobo-terrível foi extinto há cerca de 13 mil anos. Conhecidos cientificamente como Canis dirus, que significa “cachorro temível”, eles se alimentavam de grandes mamíferos como o bisão. A equipe sugere que a grande divergência evolutiva entre os lobos-terríveis e os lobos-cinzentos os coloca em um gênero totalmente diferente – Aenocyon dirus (“lobo terrível”). Isso foi proposto pela primeira vez pelo paleontólogo John Campbell Merriam há mais de 100 anos.
Realidade mais interessante
O coautor principal do estudo, dr. Kieren Mitchell, da Universidade de Adelaide, comentou: “Os lobos-terríveis são às vezes retratados como criaturas míticas – lobos gigantes rondando paisagens congeladas desoladas. Mas a realidade acaba sendo ainda mais interessante. (…) Apesar das semelhanças anatômicas entre os lobos-cinzentos e os lobos-terríveis – sugerindo que eles talvez pudessem ser relacionados da mesma forma que os humanos modernos e os neandertais –, nossos resultados genéticos mostram que essas duas espécies de lobo são muito mais parecidas com primos distantes, como humanos e chimpanzés.
Mitchell prosseguiu: “Embora os humanos antigos e os neandertais pareçam ter cruzado, assim como os lobos-cinzentos e os coiotes modernos, nossos dados genéticos não forneceram evidências de que os lobos-terríveis cruzaram com qualquer espécie canina viva. Todos os nossos dados apontam para o lobo-terrível como sendo o último membro sobrevivente de um linhagem antiga distinta de todos os caninos vivos”.
O autor sênior, dr. Laurent Frantz, da Universidade Ludwig Maximilian de Munique, acrescentou: “Quando começamos este estudo, pensávamos que os lobos-terríveis eram apenas lobos-cinzentos reforçados. Então, ficamos surpresos ao saber como eles eram geneticamente diferentes, tanto que eles provavelmente não poderiam ter cruzado. A hibridização entre as espécies de Canis é considerada muito comum. Isso deve significar que os lobos-terríveis estiveram isolados na América do Norte por um longo tempo para se tornarem geneticamente distintos”.