O sistema imunológico dos papuas (povos indígenas da ilha da Nova Guiné) modernos provavelmente evoluiu com uma pequena ajuda dos denisovanos, um misterioso ancestral humano que cruzou com Homo sapiens antigos. A afirmação está em um novo estudo liderado por Irene Gallego Romero, da Universidade de Melbourne (Austrália), publicado na revista PLOS Genetics.

Os papuas devem até 5% de seu genoma aos denisovanos, um grupo extinto intimamente relacionado aos neandertais que são conhecidos apenas por seu DNA e restos esparsos na Sibéria e no Tibete. A fim de entenderem melhor o significado dessa contribuição genética, os cientistas pesquisaram os genomas de 56 indivíduos papuas para ver se eles carregavam sequências de DNA denisovano ou neandertal e, em seguida, previram como essas sequências podem afetar o funcionamento de diferentes tipos de células.

Com base na localização das sequências não humanas, a equipe descobriu que em papuas, o DNA denisovano – mas não o DNA neandertal – parece afetar forte e consistentemente as células e funções imunológicas. Testes adicionais em culturas de células confirmaram que as sequências de DNA denisovano regulam com sucesso os genes próximos, aumentando ou diminuindo sua expressão de maneiras que podem afetar a maneira como as pessoas respondem às infecções.

Múltiplas características afetadas

O novo estudo sugere que as sequências de DNA denisovano alteraram a resposta imune nos primeiros humanos modernos que viveram na Nova Guiné e nas ilhas próximas, potencialmente ajudando-os a se adaptar ao ambiente local. Os pesquisadores concluem que explorar ainda mais como o DNA de ancestrais humanos extintos afeta a expressão gênica pode ser a chave para entender as consequências do cruzamento entre humanos antigos e outros grupos. Os resultados também apoiam a ideia de que o DNA arcaico teve um amplo impacto na formação da diversidade genética e evolução dos humanos modernos, e provavelmente afetou múltiplas características em pessoas que herdaram o DNA denisovano e neandertal.

O dr. Davide Vespasiani, da Universidade de Melbourne, primeiro autor do estudo, acrescentou: “Mostramos que não apenas o DNA neandertal, mas também o DNA denisovano, provavelmente contribuem para a expressão gênica em populações humanas. Outras validações revelarão se esses efeitos são principalmente específicos do tipo de célula ou consistentes entre as células”.

A drª Irene Gallego Romero, autora sênior, concluiu: “Parte do DNA denisovano que persistiu em indivíduos papuas até hoje desempenha um papel na regulação dos genes envolvidos no sistema imunológico. Nosso estudo é o primeiro a esclarecer de forma abrangente o legado funcional do DNA denisovano nos genomas dos humanos atuais”.