De acordo com uma nova pesquisa publicada na última quarta-feira (22/03) na revista Current Biology, uma amostra de DNA de fios de cabelo do compositor Beethoven está ajudando a descobrir o que pode ter causado sua morte.

Os pesquisadores revelaram que Beethoven carregava vários fatores de risco genético para doença hepática. Esse risco elevado – junto com uma possível infecção hepática e o suposto alcoolismo do compositor – pode ter apressado a morte prematura de Beethoven aos 56 anos, segundo Tristan Begg, antropólogo biológico da Universidade de Cambridge.

A carreira de Beethoven foi interrompida pela perda auditiva progressiva que deixou o compositor completamente surdo aos 45 anos. Ele também sofria de problemas gastrointestinais e uma deterioração do fígado. Acredita-se que esse órgão defeituoso seja o responsável pela pele do compositor ter ficado amarela no verão de 1821.

A causa raiz da infinidade de problemas de saúde de Beethoven tem sido uma fonte de fascínio para muitos, mas descobrir o que afligia um homem que viveu há quase dois séculos não é tarefa fácil. Os pesquisadores tiveram que confiar em notas das duas autópsias do compositor, realizadas depois que ele foi exumado em 1863 e 1888, e outros documentos históricos.

Pistas, no entanto, podem estar escondidas no DNA de Beethoven. Em 2014, Begg e seus colegas decidiram reconstruir o genoma de Beethoven. Primeiro, a equipe precisava de uma peça do próprio compositor. Felizmente, cerca de 30 mechas separadas de cabelo atribuídas a Beethoven sobreviveram, na posse de colecionadores e descendentes de pessoas que receberam o cabelo pela primeira vez no século XIX.

Em parceria com entusiastas de Beethoven, Begg pediu aos proprietários dessas madeixas que entregassem alguns fios para serem estudados. A equipe conseguiu coletar amostras de oito mechas que teriam sido cortadas de 1821 a 1827.

Uma amostra de cabelo não produziu DNA suficiente para análise. Dos outros fios, dois não poderiam ter vindo do compositor. Um deles pertencia a uma mulher com ascendência consistente com os judeus Asquenazes, descobriram os pesquisadores.

Mas cinco das mechas, que vieram de várias fontes, claramente pertencem a um único indivíduo com ascendência da Europa Central, que Beethoven teria. A degradação natural do DNA ao longo do tempo nessas madeixas também foi consistente com o cabelo que data do início do século XIX.

Essas características comuns, juntamente com um registro claro de quem possuía essas mechas de cabelo separadas ao longo dos séculos, deixaram Begg “extremamente confiante” de que essas mechas são de Beethoven.

Os pesquisadores usaram alguns dos fios mais bem preservados para reconstruir o genoma do compositor. Esta análise não descobriu nenhum marcador genético para surdez ou problemas intestinais. No entanto, a equipe identificou vários fatores de risco para doenças hepáticas, incluindo uma variante do gene PNPLA3 que teria triplicado o risco do compositor desenvolver problemas hepáticos durante sua vida.

Esses fatores de risco sozinhos não deveriam ter condenado Beethoven, mas os cientistas também encontraram vestígios do vírus da hepatite B, que danifica o fígado, em um dos fios supostamente coletados logo após a morte de Beethoven.

O risco para o fígado de uma infecção por hepatite B teria sido agravado pelo uso regular de álcool, segundo os pesquisadores. Alguns especialistas ainda afirmaram que o compositor estava bebendo muito no final de sua vida.

No entanto, o cromossomo Y nas cinco amostras de cabelo não corresponde aos de cinco pessoas que compartilham um ancestral do século 14 com Beethoven, o que pode ser um sinal de que o cabelo não é autêntico ou, mais provavelmente, um dos ancestrais diretos de Beethoven por parte de pai teve um filho fora do casamento, possivelmente em algum momento entre os séculos 14 e 16, segundo Begg.