A covid-19 já fez mais de 4 milhões de mortes no mundo e mais de 590 mil no Brasil e, para conter os desfechos negativos, cientistas buscam entender quais os mecanismos envolvidos na mortalidade pela doença. Um estudo publicado na Biomedicine & Pharmacotherapy avaliou o papel de duas enzimas no sangue de pacientes hospitalizados por covid-19. Os resultados apontam que ambas podem ser biomarcadores prognósticos, ou seja, podem indicar risco de mortalidade para a equipe médica dar andamento nos tratamentos mais adequados.

A pesquisa identificou aumento nos níveis da metaloproteinase (MMP) 2 e 9 em pacientes que morreram pela covid-19. As MMPs formam uma família de 25 enzimas que atuam na degradação das proteínas da matriz celular, que promovem a união das células. Essa destruição leva à remodelação, que é a necessidade de o corpo promover a cicatrização dos órgãos.

“Entre as patologias relacionadas às mudanças provocadas pela MMP-2 e MMP-9 estão: infarto agudo do miocárdio, inflamação pulmonar e aneurisma da aorta abdominal. Identificamos que essas duas metaloproteinases estavam em níveis maiores no sangue dos pacientes que morreram por complicações da covid-19”, conta Christiane Becari, líder do estudo e professora no Programa de Pós-Graduação em Clínica Cirúrgica do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

Degradação de macromoléculas

De acordo com a professora, as enzimas degradam a complexa rede de macromoléculas do pulmão, que desempenham um papel fundamental na sustentação estrutural do órgão. “Quando há uma alteração no equilíbrio dessas macromoléculas pulmonares e das MMPs, já temos na literatura científica evidências de que essas enzimas contribuem para o desenvolvimento das doenças pulmonares, atuando na remodelagem do tecido pulmonar, bem como no estímulo para migração das células inflamatórias”, explica.

Os pesquisadores contaram com dois grupos: um era composto de 53 pacientes internados nas Unidades de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP) e o outro, de 29 pessoas saudáveis. “Nosso estudo é o primeiro a demonstrar o papel da MMP-2 na covid-19 e pode contribuir para o entendimento da fisiopatologia da doença, ou seja, entender os mecanismos de atuação do coronavírus no organismo”, explica.

Contribuição para o estado inflamatório sistêmico

Outro resultado da publicação é que a MMP-2 foi reduzida e a MMP-9 foi aumentada no grupo de pacientes internados por covid-19. “Na literatura, esse achado foi reportado em pacientes com sepse por outros motivos e a falta de MMP-2 em modelo animal de lesão pulmonar se relacionou com dificuldade de resolver a inflamação. Como a MMP-2 é uma enzima predominantemente anti-inflamatória, sua supressão na covid-19 grave provavelmente está relacionada e contribui com o estado inflamatório sistêmico desses pacientes”, afirma.

O estudo tem como primeira autora a aluna Carolina D’Avila Mesquita, da FMRP. Além disso, conta com pesquisadores da FMRP e da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), ambas da USP, Fiocruz-Minas e Mayo Clinic, dos Estados Unidos da América (EUA).

Mais informações: e-mail cbecari@usp.br, com Christiane Becari