País enfrenta falta de gasolina e fechamento de postos após ataques seguidos da Ucrânia contra refinarias de petróleo. Acordo discreto com Zelenski pode ser uma saída para o Kremlin.A crise de combustível na Rússia desencadeada por ataques de drones ucranianos continua a piorar. Uma refinaria após a outra está tendo que fechar para reparos, e os volumes de produção diminuem significativamente.

Como resultado, os preços dos combustíveis na bolsa de valores atingiram níveis recordes. Os preços também estão subindo nos postos de gasolina. No entanto, ainda não de forma tão drástica, pois o governo os mantém artificialmente baixos. Mas, como na era soviética, a regulação de preços está levando à escassez.

Quais danos os drones causaram?

De acordo com fontes abertas analisadas pela DW, drones ucranianos atingiram nos últimos meses inúmeras refinarias de petróleo na Rússia. Entre elas, Afipsky, Ilsky e Slavyansk, no Território de Krasnodar, assim como instalações em Volgogrado, Novokuybyshevsk, Novoshakhtinsk, Ryazan, Samara, Saratov, Syzran e Ukhta. No total, quase metade de todas as refinarias na Rússia foram atacadas pelo menos uma vez.

As autoridades russas mantêm os dados oficiais de produção em segredo. A extensão dos danos só pode ser estimada com base em relatos anônimos de fontes internas e especialistas. De acordo com pesquisas da agência de notícias Reuters e da revista The Economist, até 20% da capacidade das refinarias poderia ter sido temporariamente comprometida.

Um participante do mercado confirmou uma estimativa semelhante à do jornal russo Kommersant: em setembro, houve uma escassez de cerca de 400 mil toneladas de gasolina – de um volume total de 2 milhões de toneladas. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, também afirmou que a escassez de gasolina na Rússia havia chegado a 20%.

Por que falta gasolina na Rússia?

A crise já havia se manifestado em meados do ano, mesmo antes de as refinarias terem a produção afetada. Vários fatores convergiram: um aumento sazonal na demanda, manutenção programada em algumas refinarias e reparos não programados em outras. Além disso, as empresas petrolíferas aumentaram significativamente suas exportações.

Quando a escassez elevou os preços a níveis recordes, as autoridades impuseram uma proibição temporária de exportação. Isso inicialmente esfriou o mercado. No entanto, especialistas alertaram desde o início que o efeito diminuiria rapidamente se novas interrupções ocorressem – como ataques massivos de drones. E foi exatamente isso que aconteceu.

Um fator-chave também pode ter sido a mudança de tática das Forças Armadas da Ucrânia, que estão atacando as mesmas refinarias repetidamente e impedindo que elas retomem os trabalhos. Por exemplo, a usina em Ryazan, uma das maiores do país, foi atingida pelo menos seis vezes, e as de Volgogrado e Syzran, quatro vezes cada.

“Antes, por volta de 2024, cada refinaria era atacada apenas uma vez, de modo que os danos podiam ser reparados em poucos dias ou semanas”, explica Sergei Vakulenko, especialista do Centro Carnegie Rússia-Eurásia, em Berlim.

Como a Rússia tenta controlar os preços

Os fabricantes russos têm que vender pelo menos 15% de sua gasolina na bolsa. Os preços lá subiram mais de 40% desde o início do ano. Ao mesmo tempo, o governo mantém o mercado interno artificialmente estável com os chamados pagamentos de amortecimento: as petrolíferas vendem gasolina internamente a preços regulamentados e recebem indenização do Estado por quaisquer perdas. A autoridade antimonopólio também monitora os aumentos de preços e anunciou no fim do mês passado inspeções em postos de gasolina em diversas regiões.

Os preços da gasolina no varejo subiram 8,36% desde o início do ano (até 24 de setembro), segundo a Rosstat, agência de estatísticas do governo. Embora esse percentual seja o dobro da taxa geral de inflação, ainda é moderado. O problema é que postos de gasolina que não são afiliados a petrolíferas e não compram combustível diretamente delas não recebem o pagamento do governo. Eles precisam comprar combustível na bolsa, onde os preços são próximos aos do varejo.

Impacto nos postos

“Isso não é um colapso nem um pesadelo. Os problemas surgem porque o mercado estava acostumado a uma situação em que a gasolina era geralmente abundante”, explica Sergei Vakulenko. “Há problemas logísticos porque uma refinaria após a outra está fechando. Redes de postos de gasolina independentes são forçadas a parar de comprar porque a gasolina está muito cara para elas na bolsa”, acrescenta.

Muitos postos de gasolina independentes estão fechando para evitar prejuízos. De acordo com a agência OMT-Consult, o número deles caiu em cerca de 360 estabelecimentos entre 28 de julho e 22 de setembro. Isso pode parecer pequeno à primeira vista, mas em algumas regiões – como Rostov, Mari El e a Região Autônoma Judaica – até 14% dos postos tiveram que fechar. Na península ucraniana da Crimeia, que foi anexada pela Rússia, metade de todos os postos de gasolina está fechada. De acordo com a OMT-Consult, as regiões do Extremo Oriente estão particularmente em risco. Em outras regiões onde nenhum posto de gasolina fechou, o fornecimento de gasolina, entretanto, é limitado.

Como Moscou está reagindo?

O embargo às exportações de combustível vigorou inicialmente até o final de agosto, mas foi prorrogado até o final de 2025. A Rússia agora importa mais gasolina de Belarus, mas mesmo isso pouco contribui para aliviar a escassez.

De acordo com o jornal Kommersant, o vice-primeiro-ministro Aleksandr Novak propôs a abolição das tarifas sobre as importações da China, Coreia do Sul e Singapura, para garantir o abastecimento dessas regiões. Outra proposta é permitir que os fabricantes utilizem monometilanilina, um aditivo que permite a produção de gasolina a partir de matérias-primas de baixa qualidade. A Rússia proibiu seu uso em 2016, alinhando-se assim aos padrões europeus de emissões.

A eficácia dessas medidas é incerta – especialmente com a continuidade dos ataques por drones. Em algumas refinarias, diz Sergei Vakulenko, “nada mais funciona”. A longo prazo, a liderança russa pode ser forçada a considerar um acordo tácito com a Ucrânia – uma renúncia mútua a ataques a instalações energéticas.