Um esforço internacional liderado por David Rounce, professor assistente de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Carnegie Mellon (EUA), produziu novas projeções de perda de massa de geleiras ao longo do século sob diferentes cenários de emissões. Os resultados preocupantes estão em um artigo publicado na revista Science.

As projeções foram agregadas em cenários de mudança de temperatura global para apoiar as discussões de adaptação e mitigação, como as da recente Conferência das Partes das Nações Unidas (COP 27). O trabalho mostrou que o mundo pode perder até 41% de sua massa total de geleiras neste século – ou apenas 26% – dependendo dos esforços atuais de mitigação das mudanças climáticas.

Rounce e sua equipe descobriram que, em um cenário futuro com investimento contínuo em combustíveis fósseis, mais de 40% da massa glacial desaparecerá dentro do século e mais de 80% das geleiras em número podem desaparecer. Mesmo no melhor cenário de baixas emissões, onde o aumento da temperatura média global é limitado a +1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, mais de 25% da massa glacial desaparecerá e quase 50% das geleiras em número deverão desaparecer. A maior parte dessas geleiras perdidas é pequena (menos de um quilômetro quadrado) para os padrões glaciais, mas seu desaparecimento pode impactar negativamente a hidrologia local, o turismo, os riscos das geleiras e os valores culturais.

Influência desproporcional

O novo trabalho fornece um melhor contexto para a modelagem de geleiras regionais e seus autores esperam que isso estimule os formuladores de políticas climáticas a reduzir as metas de mudança de temperatura além da marca de 2,7°C que as promessas da COP-26 devem atingir. Regiões glaciais menores, como a Europa Central e o oeste do Canadá e os Estados Unidos, serão afetadas desproporcionalmente por temperaturas subindo mais de 2°C. Com um aumento de 3°C, as geleiras nessas regiões desaparecerão quase completamente.

Rounce observou que a maneira como as geleiras respondem às mudanças climáticas leva muito tempo. Ele descreve as geleiras como rios extremamente lentos. Cortar as emissões hoje não removerá os gases de efeito estufa emitidos anteriormente nem pode interromper instantaneamente o processo pelo qual eles contribuem para a mudança climática, o que significa que mesmo uma interrupção completa das emissões ainda levaria entre 30 e 100 anos para se refletir nas taxas de perda de massa das geleiras.

Muitos processos determinam como as geleiras perdem massa, e o estudo de Rounce e sua equipe mostra como os modelos explicam diferentes tipos de geleiras, incluindo geleiras de maré e geleiras cobertas de detritos. As geleiras de maré referem-se a geleiras que terminam no oceano, o que faz com que percam muita massa nessa interface. Geleiras cobertas de detritos referem-se a geleiras cobertas por areia, rochas e pedregulhos. Trabalhos anteriores de Rounce mostraram que a espessura e a distribuição da cobertura de detritos podem ter um efeito positivo ou negativo nas taxas de derretimento glacial em uma região inteira, dependendo da espessura dos detritos. Neste trabalho mais recente, ele descobriu que a contabilização desses processos teve relativamente pouco impacto nas projeções globais de geleiras, mas diferenças substanciais na perda de massa foram encontradas ao se analisarem geleiras individuais.

O modelo também é calibrado com uma quantidade sem precedentes de dados, incluindo observações individuais de mudança de massa para cada geleira, que fornecem uma imagem mais completa e detalhada da mudança de massa da geleira. O uso de supercomputadores foi, portanto, essencial para apoiar a aplicação de métodos de calibração de ponta e os grandes conjuntos de diferentes cenários de emissões.