31/01/2025 - 11:25
Economia brasileira vai muito bem em comparação com outros países. Clima político, porém, não é mais dominado por fatos, mas sim pela interpretação das redes sociais.Fiquei um mês fora do Brasil. As notícias que chegaram a mim sobre a economia brasileira eram sombrias. O teor: aumento da inflação, juros ainda mais altos, ameaça de estagnação econômica. Investidores alertavam sobre um provável aumento ainda maior de gastos pelo governo Lula, apesar de o orçamento nacional já estar no vermelho. “São cinco para o meio-dia, os alarmes estão tocando”, comentou a Faria Lima.
Como prova disso, o Real estava numa montanha-russa nos últimos dois meses. A moeda brasileira se desvalorizou 27% em relação ao dólar no ano passado e se tornou uma das mais fracas do mundo. O mesmo se aplica ao índice de ações brasileiras, que teve um dos piores desempenhos entre as bolsas mundiais, com queda de 10%.
Mas a economia brasileira parece diferente no país! É verão e, no Nordeste, as cidades estão cheias de pessoas consumindo, comprando, saindo. Os hotéis e restaurantes estão lotados. Os eventos de Carnaval estão em alta, e seus organizadores não param de aumentar os preços.
Há obras por todos os lados. Novas lojas são abertas. Para mim, um teste simples de como a conjuntura anda são os pequenos centros e ruas comerciais nas grandes cidades: há um ano, havia muitas lojas vazias, agora tudo está alugado para pequenos empreendedores.
Os números oficiais também não apontam para uma crise: a economia cresceu 3% em 2024, enquanto os economistas esperam um crescimento de 2% neste ano. A inflação aumenta, mas se mantém em 4,8%. A indústria brasileira cresceu 4,6% no terceiro trimestre do ano passado, duas vezes mais do que o setor no mundo. A Volkswagen informou que as vendas de carros na América do Sul aumentaram 15% – enquanto caem no resto do mundo.
A taxa de desemprego continuou em queda no ano passado. Em novembro, foi de 6,1% – o menor patamar desde o início da série histórica em 2012. O número de empregados subiu para 103,9 milhões, um aumento de 1,4 milhão em comparação com o trimestre anterior. Mais empregos foram criados, principalmente nos setores de varejo e construção.
Empresas estrangeiras seguem investindo pesado no Brasil. Em 2024, o país atraiu cerca de 71 bilhões de dólares em investimentos estrangeiros diretos – o que representa um aumento de 14% em comparação com o ano anterior. No primeiro semestre do ano passado, o Brasil foi o segundo país que mais recebeu investimentos externos diretos em todo o mundo, atrás somente dos Estados Unidos.
Ânimos ditados pelas redes sociais
Reiterando: não há dúvida de que a política fiscal do governo não é convincente. E é evidente que também não há um plano para a economia.
Mas se compararmos a situação atual do Brasil com a da Alemanha, onde a economia está estagnada pelo terceiro ano consecutivo, os investimentos estão sendo maciçamente retirados e o clima é muito pessimista, é difícil entender por que o governo Lula tem uma reputação tão ruim. Atualmente, 37% da população tem uma visão negativa do governo – seis pontos percentuais a mais do que há seis semanas. Metade da sociedade considera que o governo está no caminho errado, segundo a Quaest.
A fake news propagada pelo deputado de direita Nikolas Ferreira se encaixa bem nesse contexto. Há duas semanas, ele afirmou falsamente que o governo queria introduzir um imposto sobre o Pix. Estima-se que o vídeo ultrapassou 200 milhões de visualizações. Uma notícia falsa que perturbou a população e forçou o governo a entrar na defensiva e voltar atrás na medida administrativa.
Minha impressão é de que a situação econômica em si não é mais decisiva para a população ser contra ou a favor de um governo. A frase “É a economia, estúpido!”, segundo a qual uma boa economia segura qualquer governo, não se aplica mais de maneira categórica. Na realidade, é a interpretação nas redes sociais que determina os ânimos.
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Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.