22/02/2021 - 11:49
Os sonhos nos levam ao que parece uma realidade diferente. Eles também acontecem enquanto estamos dormindo. Portanto, você não pode esperar que uma pessoa em meio a um sonho vívido seja capaz de discernir perguntas e fornecer respostas para elas. Mas um novo estudo publicado na revista “Current Biology” mostra que, de fato, isso é possível.
“Descobrimos que os indivíduos em sono REM podem interagir com um experimentador e se comunicar em tempo real”, disse o autor sênior Ken Paller (@ kap101), da Northwestern University (EUA). “Também mostramos que os sonhadores são capazes de compreender perguntas, engajar-se em operações da memória de trabalho e produzir respostas.”
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Ele prosseguiu: “A maioria das pessoas pode prever que isso não seria possível – que as pessoas acordariam ao fazer uma pergunta ou não responderiam e certamente não compreenderiam uma pergunta sem interpretá-la incorretamente.”
Porta para investigações futuras
Embora os sonhos sejam uma experiência comum, os cientistas ainda não os explicaram adequadamente. A narração de sonhos de uma pessoa também é repleta de distorções e detalhes esquecidos. Então, Paller e seus colegas decidiram tentar se comunicar com as pessoas durante os sonhos lúcidos.
“Nosso objetivo experimental é o de encontrar uma maneira de falar com um astronauta que está em outro mundo, mas nesse caso o mundo é inteiramente fabricado com base nas memórias armazenadas no cérebro”, escreveram os pesquisadores. Eles perceberam que encontrar um meio de se comunicar poderia abrir a porta em investigações futuras para aprender mais sobre sonhos, memória e como o armazenamento da memória depende do sono, dizem os pesquisadores.
Os pesquisadores estudaram 36 pessoas que almejavam ter um sonho lúcido, no qual a pessoa tem consciência de que está sonhando. O artigo é incomum, pois inclui quatro experimentos conduzidos de forma independente usando diferentes abordagens para atingir um objetivo semelhante. Além do grupo da Northwestern University (EUA), equipes conduziram estudos na Universidade de Sorbonne (França), na Universidade de Osnabrück (Alemanha) e no Centro Médico da Universidade Radboud (Holanda).
“Colocamos os resultados juntos porque sentimos que a combinação dos resultados de quatro laboratórios diferentes usando diferentes abordagens atesta de forma mais convincente a realidade desse fenômeno de comunicação bidirecional”, disse Karen Konkoly, doutoranda na Northwestern University e primeira autora do estudo. “Dessa forma, vemos que diferentes meios podem ser usados para comunicar.”
Sonho interativo
Um dos indivíduos que conseguiram sucesso imediato com a comunicação bidirecional tinha narcolepsia e sonhos lúcidos frequentes. Entre os outros, alguns tinham muita experiência em sonhos lúcidos e outros, não. No geral, os pesquisadores descobriram que era possível para as pessoas, enquanto sonhavam, seguir instruções, fazer operações aritméticas simples, responder a perguntas com sim ou não ou dizer a diferença entre variados estímulos sensoriais. Eles podem responder usando movimentos dos olhos ou contraindo os músculos faciais. Os pesquisadores se referem a isso como “sonho interativo”.
Segundo Konkoly, estudos futuros sobre o sonho podem usar esses mesmos métodos para avaliar as habilidades cognitivas durante os sonhos versus vigília. Eles também podem ajudar a verificar a precisão dos relatos dos sonhos pós-despertar. Fora do laboratório, os métodos podem ser usados para ajudar as pessoas de várias maneiras, como resolver problemas durante o sono ou oferecer a quem sofre de pesadelos novas maneiras de lidar com a situação.
Experimentos de acompanhamento realizados por membros das quatro equipes de pesquisa têm como objetivo aprender mais sobre as conexões entre o sono e o processamento da memória, e sobre como os sonhos podem lançar luz sobre esse processamento da memória.