MILÃO, 22 JAN (ANSA) – Um eclipse total do Sol quase 4,5 mil anos atrás pode ter revolucionado as práticas funerárias do Antigo Egito e levado ao fim da era das grandes pirâmides.

Essa é a hipótese do arqueoastrônomo italiano Giulio Magli, do Politécnico de Milão, em um estudo que aguarda revisão por pares na plataforma arXiv.

A Quarta Dinastia (de 2,6 mil a 2,45 mil a.C., aproximadamente) representa o auge da arquitetura egípcia, com a construção das pirâmides de Dahshur e Gizé, incluindo a Grande Pirâmide de Quéops.

No entanto o breve reinado do faraó Seberquerés marcou uma reviravolta radical: sua tumba não era uma pirâmide, como as de seus antecessores, mas sim uma maciça estrutura retangular e plana conhecida como “mastaba” e inspirada em ritos arcaicos de Buto, local sagrado no delta do Nilo.

Esse monumento-túmulo também não era visível de Heliópolis, centro do culto ao deus do Sol, Rá, ao contrário das pirâmides.

O motivo dessa mudança, segundo Magli, estaria no céu.

Dados históricos mostram que, em 1º de abril do ano de 2471 a.C., houve um eclipse solar total, com o percurso do fenômeno quase centrado em Buto. A área de Gizé e a antiga capital do império, Mênfis, também estavam próximas da zona de totalidade do eclipse.

A ocultação inesperada do disco solar pode ter sido interpretada como “um presságio divino”, explica Magli. “Isso teria levado Seberquerés a romper com a tradição”, diz o pesquisador, desencadeando “uma crise que levou ao fim do predomínio do culto solar nas escolhas arquitetônicas régias”.

Seberquerés foi provavelmente o último faraó da Quarta Dinastia, e sua decisão de abandonar a necrópole de Gizé é motivo de debates entre os egiptólogos. Outras hipóteses cogitadas por especialistas envolvem disputas de poder entre o rei e sacerdotes de Rá ou uma economia em declínio que o teria levado a projetar um túmulo mais modesto. (ANSA).