A proteção do meio ambiente é um dever de todas as instâncias do governo. Mas, para que as iniciativas sejam efetivas e realmente beneficiem o planeta e quem nele vive, é fundamental que haja um real comprometimento de pessoas físicas e jurídicas em se engajar na preservação dos recursos naturais do mundo que, diferentemente do que parece para alguns, são finitos. Afinal, todos habitamos o planeta e precisamos do que a natureza nos oferece para sobreviver.

É por acreditar em tudo isso que, no meu entender, não há mais espaço no mundo para organizações que praticam a insustentável economia linear. Isso quer dizer companhias cujas dinâmicas de produção se limitam a extrair recursos naturais do meio ambiente, produzir seus produtos, descartar no planeta os resíduos dessa produção, vender o item e lucrar. Algo totalmente desalinhado aos padrões do conceito ESG tão propagado no mundo corporativo e fora dele.

As empresas mais produtivas, competitivas, conscientes e focadas no futuro já operam pelo conceito da economia circular, que, como o próprio nome sugere, defende que o ciclo de vida de um produto considere um círculo e não uma linha reta. Na prática, isso quer dizer que durante todo o desenvolvimento do produto, o criador considera reduzir ou eliminar o desperdício de recursos e os impactos negativos ao meio ambiente em diferentes etapas do ciclo de vida do item: design, produção, transporte/distribuição, consumo, reparo, reutilização pelo consumidor final, recolhimento e reciclagem.

A logística reversa defende que, após a utilização, o produto deve retornar à organização que o produziu para que as peças em boas condições de uso sejam utilizadas para a produção de um novo item e que aquelas que não têm mais condições de uso sejam descartadas de maneira adequada no meio ambiente. É uma forma inteligente e estratégica de reduzir a extração de recursos naturais do planeta e, se essa informação for bem trabalhada e propagada, ainda contribui para fortalecer a imagem corporativa do negócio, seja para o público interno ou externo.

Aqui na Trocafone, a economia circular e a logística reversa estão no nosso DNA. Fazemos isso ao comprar celulares seminovos de pessoas físicas para reparar e revender a pessoas que não querem ou não podem investir em um aparelho novo. Fazemos isso ao firmar parcerias com varejistas e operadoras de telefonia celular para realizar esse mesmo processo de compra e revenda quando o consumidor oferece seu aparelho antigo como parte do pagamento de um celular novo. Nessa dinâmica, também damos o destino certo a peças que não têm mais condições de uso.

Até o momento, já fomos responsáveis pela volta de 1,5 milhão de aparelhos para o mercado e pelo descarte adequado de 17 toneladas de resíduos eletrônicos. O resultado disso é menos extração de recursos do meio ambiente, como ouro, prata, alumínio, estanho e coltan. Isso sem falar na redução do consumo de água e energia. É um orgulho, ainda, dizer que, de certa forma, com o nosso negócio, contribuímos para a inclusão digital.

No mundo atual já percebemos e tivemos provas de que uns precisamos dos outros para viver e sobreviver, todos temos responsabilidade sobre o ciclo de vida de um produto. Quem desenvolve precisa prever esse ciclo. Quem fabrica precisa se preocupar com os resíduos que gera. Quem vende deve promover o consumo consciente e se colocar à disposição para recolher produtos que, eventualmente, as pessoas não queiram mais. Quem compra deve dar destino adequado a itens que não lhe servem mais.

As empresas que estão morrendo e as pessoas que estão perdendo espaço na sociedade são aquelas que pensam apenas em si mesmas, no próprio lucro e benefício. Basta olhar ao redor para constatar que não é exagero o que estou dizendo.

* Guille Arslanian é cofundador & Co-CEO na Trocafone