Telefones celulares, tablets e e-readers com conectividade de banda larga podem ser a resposta para levar educação multidisciplinar de alta qualidade às pessoas em todo o mundo, sobretudo nas comunidades mais pobres ou isoladas. A afirmação vem da Comissão de Banda Larga para o Desenvolvimento Digital, da ONU, durante sua 11ª reunião, realizada em fevereiro na sede da Unesco, em Paris.

Um relatório do Grupo de Trabalho da Comissão de Educação, liderado pela Unesco, indica que, no mundo, mais de 60 milhões de crianças em idade escolar não vão às aulas hoje e quase 50% delas nunca irá. A situação se agrava conforme as crianças crescem: mais de 70 milhões de adolescentes não estão matriculados no ensino médio. Computadores em sala de aula podem ajudar, mas a falta de recursos continua crítica.

Se oito crianças em média compartilham um computador em sala de aula em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na África professores lutam para que 150 ou mais alunos compartilhem um computador. Com dispositivos móveis cada vez mais sofisticados e poderosos, porém, a comissão avalia que os aparelhos pessoais sem fio conectados à banda larga podem ser a solução.

Dados da International Telecommunication Union, agência da ONU especializada em tecnologias da informação e das comunicações (TIC), mostram que a banda larga móvel é a tecnologia que mais cresce na história. O número de assinantes de telefonia móvel já supera a população mundial, de cerca de 7 bilhões, e as assinaturas de banda larga móvel ativas ultrapassam 2,1 bilhões – três vezes mais do que os 700 milhões de conexões de banda larga fixa no planeta. A maior parte desse progresso tem ocorrido nos paí­ses em desenvolvimento, responsáveis pelo aumento global de 90% no número de celulares e de 82% no de novos usuários da internet desde o início de 2010.

Criada em 2010, a Comissão de Banda Larga é um órgão de alto nível que se concentra em estratégias para tornar a banda larga mais disponível e acessível no mundo. É comandada por Paul Kagame, presidente de Ruanda, e Carlos Slim Helú, empresário mexicano, e tem Houlin Zhao, secretário-geral da UIT, e Irina Bokova, diretora-geral da Unesco, como vice-presidentes. Como o prazo para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio se aproxima rapidamente, os comissários se concentram agora em garantir que a banda larga seja reconhecida como um pilar fundamental dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que serão acordados na próxima Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, em setembro.

 

À prova de obstáculos

“A educação é um dos usos mais poderosos que a conectividade de banda larga pode ter”, disse na reunião Houlin Zhao. “Pela primeira vez na história, a banda larga móvel nos dá a chance de levar a educação a todos, independentemente da localização de uma pessoa, das estruturas linguísticas e culturais ou do pronto acesso à infraestrutura, como escolas e transportes. A educação vai conduzir o empreendedorismo, sobretudo entre os jovens, e por isso devemos nos esforçar mais para obter redes de banda larga ativas a preços acessíveis.”

Para Paul Kagame, a banda larga deve ser considerada um serviço público básico, como água e eletricidade. “A banda larga permite que empresários e empreendedores sociais encontrem formas de oferecer educação de classe mundial a baixo custo para populações que nunca tiveram acesso a ela. Já existem centros de conhecimento, mas, para usá-los de modo produtivo, os países em desenvolvimento e as comunidades isoladas vão precisar de internet mais rápida, confiável e acessível. O mesmo princípio se estende a um governo, sobretudo na prestação de serviços essenciais. A tecnologia de banda larga pode melhorar a eficiência da administração pública e a prestação de contas aos cidadãos, não importa onde eles vivam.”

Na ocasião, Carlos Slim Helú pediu que os comissários avaliem se o poder das TIC está sendo bem explorado nos ambientes escolares de hoje. “Precisamos ter certeza de que o potencial da banda larga para a educação é totalmente aproveitado, a fim de que iniciativas bem-sucedidas, como as novas plataformas de cursos online, e muitos conteúdos valiosos de educação e treinamento fiquem rapidamente disponíveis. A tecnologia deve ser usada para a inclusão, e temos de fazer esforços vigorosos para garantir isso.”