31/10/2025 - 15:09
Nova vitrine cultural do país, maior museu do mundo dedicado a uma única civilização levou décadas para ser concluído e abrirá completamente em novembro. Local concentra peças inéditas de Tutancâmon e outras dinastias.Nos arredores do Cairo, ao lado das famosas Pirâmides de Gizé, ergue-se do deserto uma fachada monumental de vidro e arenito claro. Atrás dessa estrutura de aproximadamente 800 metros de comprimento, foi criada uma verdadeira homenagem à história. O projeto cultural recente mais ambicioso do Egito, o Grande Museu Egípcio (GEM), foi concluído e agora celebra sua inauguração completa – após anos de atraso.
Projetado pelo escritório irlandês Heneghan Peng Architects, o imponente edifício ocupa cerca de 500 mil metros quadrados – o equivalente a cerca de 70 campos de futebol. Ele tem espaço suficiente para mais de 100 mil artefatos que representam sete milênios de história egípcia, incluindo antiguidades faraônicas, gregas e romanas. Isso o torna o maior museu do mundo dedicado a uma única civilização.
O grande destaque da exposição permanente é a coleção completa do faraó Tutancâmon, que inclui mais de 5 mil artefatos recuperados de sua tumba que serão expostos pela primeira vez, além de sua lendária máscara funerária de ouro. Outro item da coleção é o barco funerário de 42 metros de comprimento e mais de 4 mil anos do faraó Quéops, também conhecido como barco de Khufu, a maior e mais antiga embarcação de madeira encontrada no Egito.
As galerias principais contam com diversas seções temáticas relacionadas à realeza, sociedade e religião. Os elementos centrais do museu são uma imponente escadaria que se estende por todos os andares e um átrio com uma estátua de 11 metros de altura do faraó Ramsés 2º sentado em seu trono.
Um projeto monumental, décadas em construção
Planejado desde os anos 1990 e com construção iniciada em 2004, o projeto sofreu vários adiamentos. Os motivos incluíram a pandemia da covid-19 e as tensões políticas no Oriente Médio. Desde outubro de 2024, o museu está em fase de abertura gradual, permitindo a visitação de áreas selecionadas e reservas de tours especiais.
Agora, a inauguração de todo o complexo se aproxima, e o primeiro-ministro do Egito, Mostafa Madbouly, espera que diversos chefes de Estado participem da cerimônia de abertura no dia 1º de novembro. Será “uma noite inesquecível”, prometeu o ministro do Turismo e Antiguidades, Sherif Fathy, à revista The National, de Abu Dhabi.
A lista de celebridades internacionais da política, cultura e entretenimento é extensa. O presidente alemão Frank-Walter Steinmeier e a ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes, já confirmaram presença.
A abertura contará com uma procissão à luz de tochas, durante a qual os famosos achados do túmulo de Tutancâmon serão transportados do antigo museu na Praça Tahrir, no Cairo, para o novo ambiente.
O mundo dos faraós em um só lugar
O que torna a exposição especial é que ela rompe com antigas formas de apresentação.
O novo conceito busca proporcionar aos visitantes a compreensão de um panorama mais amplo, e não apenas de objetos individuais. Poder, cotidiano e crenças são narrados ao longo das diversas dinastias.
“No passado, artefatos do Antigo, do Médio e do Novo Império eram exibidos separadamente”, explicou o arqueólogo Magdi Shakir ao jornal turco Daily Sabah. “Agora, cada tema é apresentado em uma narrativa panorâmica. Cada objeto no Grande Museu Egípcio segue uma história curatorial única, oferecendo uma nova perspectiva até mesmo sobre peças familiares. Tornando a experiência inédita.”
Cultura e identidade no século 21
Mostafa Madbouly defende que o museu fortalecerá a posição do Egito como destino cultural mundial. Sua proximidade com as famosas Pirâmides de Gizé (cerca de 4 km) é uma vantagem, ja que turistas do mundo inteiro que visitam as pirâmides dificilmente deixarão de conhecer o museu. Em entrevista à rádio egípcia Nile FM, o egiptólogo Mustafa Al-Waziri descreveu o GEM como “um ícone, celebrando a rica herança do Egito e reforçando seu status como um dos principais destinos culturais e turísticos”.
Além de criar novas oportunidades para o turismo – estima-se que receberá de cinco a oito milhões de visitantes por ano – o GEM também impulsionará a ciência. Ele abriga uma das instalações de restauração mais modernas do mundo e um centro de pesquisa com laboratórios especializados em múmias, madeira, metal e pedra.
Diante da crise climática, o design do edifício seguiu exigentes normas ecológicas: conta com resfriamento passivo, iluminação otimizada e reciclagem. O complexo deve consumir até 60% menos energia e 34% menos água do que construções convencionais de tamanho equivalente. Possui usina de energia solar própria, telhado refletivo e proteção solar externa. A orientação do edifício aproveita o vento para resfriamento natural.
Vozes críticas
No entanto, o projeto não está livre de controvérsias. O jornal britânico Financial Times cita custos de construção superiores a 1 bilhão de dólares (R$ 5,3 bilhões), financiados em parte por empréstimos japoneses, fundos governamentais e receitas de exposições itinerantes no exterior.
Críticos reclamam da longa duração da obra e questionam se tal quantia está sendo bem empregada em um país que enfrenta sérios desafios sociais e econômicos. O GEM também é criticado por centralizar o turismo e eventualmente prejudicar outras regiões do Egito.
Há também a questão da influência política, já que o próprio presidente egípcio Abdel Fatah Al-Sisi preside o conselho de curadores, responsável pela direção estratégica e pelas operações do museu.
Ainda assim, para muitos egípcios, o GEM é um marco da identidade nacional. O museu já é considerado o novo símbolo cultural do país, que une tesouros antigos e alta tecnologia. Para assistir à inauguração ao vivo, o evento será transmitido no TikTok oficial do Grande Museu Egípcio no dia 1º de novembro às 18h (13h no horário de Brasília).
