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Com 1.919 espécies de aves (atrás apenas da Colômbia), segundo o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, o Brasil atrai binóculos do mundo inteiro. Mas os brasileiros não estão entre os maiores praticantes dessa atividade criada na Europa e conhecida pelo termo em inglês “birdwatching”, que significa observação de aves (em português, o equivalente é “passarinhar”).

Embora não soubesse que fazia isso, desde pequena Izalete Tavares já acompanhava o pai, policial militar hoje aposentado, em expedições pela mata em Goiás e no Tocantins. Observar os animais a levou a fotografar, aos 14 anos: “Passei a me interessar por fazer fotos e isso foi ficando viciante”. Ela também não sabia então que o Tocantins é o maior hotspot (área que concentra grande biodiversidade) de pássaros do país: ali se encontram 30% das espécies de aves brasileiras, tanto do Cerrado quanto da Amazônia e da Caatinga.

Ciente disso tudo, Izalete, hoje com 21 anos, busca informar as pessoas sobre a importância dos pássaros, a começar por sua família. Sempre que possível, ela leva seus primos menores e ensina-os sobre o papel das aves no controle biológico, na polinização, na dispersão de sementes e até na limpeza do ambiente.

“Os brasileiros parecem mais interessados em caçar do que em apreciar. É difícil convencer um fazendeiro de que o pica-pau não derruba uma fruta (só come a larva da árvore) ou que nem todos os gaviões comem pintinhos”, afirma. Mesmo jovem, Izalete já coleciona imagens de espécies raras, como o bacurau-norte-americano (Chordeiles minor), e de momentos únicos, como o cortejo entre um casal de corujas-buraqueiras (Athene cunicularia) ou o faminto araçari-de-bico-riscado (Pteroglossus inscriptus).

Além de proporcionar contato com a natureza e atividade para a família, passarinhar tem impacto positivo na saúde física e mental dos envolvidos. Não só um corpo mais saudável e em forma, quando envolve caminhadas, mas também uma melhora na concentração, por se tratar de foco em animais geralmente pequenos e muito ágeis.

E ainda vai mais longe. Um estudo recente da Universidade de Exeter (Inglaterra) revelou que observar aves reduz a tendência a desenvolver depressão, estresse e ansiedade. Ao avaliarem a influência de uma vizinhança arborizada na qualidade de vida das pessoas, os pesquisadores notaram que os níveis mais baixos de depressão, estresse e ansiedade estavam ligados ao número de aves que elas viam à tarde.

Prova de que não é preciso mergulhar na selva ou estar em um hotspot para obter esses benefícios. Disso Izalete já sabia há algum tempo. Ela descobriu que a lagoa da cidade onde mora, Porangatu (GO), embora algo esquecida pelo poder público e pela população, abriga vários exemplares interessantes da avifauna. Ela avistou ali o frango-d’água-pequeno (Porphyrio flavirostris) e a mãe-da-lua (Nyctibius griseus). “O frango-d’água foi um achado, já não se vê facilmente. E a mãe-da-lua me encantou com sua beleza e capacidade de se camuflar perfeitamente à árvore seca.” E você, já passarinhou hoje pelas redondezas?