Até 2025, os níveis atmosféricos de dióxido de carbono (CO2) provavelmente serão mais altos do que eram durante o período mais quente dos últimos 3,3 milhões de anos, de acordo com nova pesquisa de uma equipe da Universidade de Southampton (Reino Unido). Seu estudo foi publicado hoje (10 de julho) na revista “Nature Scientific Reports”.

A equipe estudou a composição química de pequenos fósseis, do tamanho de uma cabeça de alfinete, coletados em sedimentos oceânicos no leito do Mar do Caribe. Esses dados foram usados para reconstruir a concentração de CO2 na atmosfera da Terra durante o Plioceno, cerca de 3 milhões de anos atrás. Nessa época, nosso planeta estava mais de 3 °C mais quente do que hoje, com calotas polares menores e níveis mais altos do mar no mundo.

O dr. Elwyn de la Vega, que liderou o estudo, disse: “O conhecimento do CO2 durante o passado geológico é de grande interesse, porque nos diz como o sistema climático, as camadas de gelo e o nível do mar responderam anteriormente aos níveis elevados de CO2. Estudamos esse intervalo específico com detalhes sem precedentes, pois ele fornece ótimas informações contextuais para o nosso estado climático atual”.

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A composição de conchas de zooplâncton fossilizadas permitiu a reconstrução do pH e do CO2 do passado. Crédito: Universidade de Southampton
Medição cuidadosa

Para determinar o CO2 atmosférico, a equipe utilizou a composição isotópica do elemento boro, presente naturalmente como uma impureza nas conchas do zooplâncton, chamadas foraminíferos. Esses organismos têm cerca de meio milímetro de tamanho e gradualmente se acumulam em grandes quantidades no fundo do mar, formando um tesouro de informações sobre o clima passado da Terra. A composição isotópica do boro em suas conchas depende da acidez (pH) da água do mar em que os foraminíferos viviam. Existe uma estreita relação entre o CO2 atmosférico e o pH da água do mar, o que significa que o CO2 passado pode ser calculado a partir de uma cuidadosa medição do boro em conchas antigas.

O dr. Thomas Chalk, coautor do estudo, acrescentou: “Concentrando-se em um intervalo quente do passado, quando a insolação recebida do Sol era a mesma de hoje, nos dá uma forma de estudar como a Terra responde à ação do CO2. Um resultado impressionante que descobrimos é que a parte mais quente do Plioceno tinha entre 380 e 420 partes por milhão (ppm) de CO2 na atmosfera. Isto é semelhante ao valor de hoje, de cerca de 415 ppm, mostrando que já estamos em níveis que no passado estavam associados a temperaturas e nível do mar significativamente mais altos do que hoje. Atualmente, nossos níveis de CO2 estão subindo cerca de 2,5 ppm por ano, o que significa que em 2025 teremos superado qualquer coisa vista nos últimos 3,3 milhões de anos”.

Tratamento químico cuidadoso para separar o boro dos foraminíferos e medir sua composição isotópica no Laboratório de Geoquímica da Universidade de Southampton. Crédito: Universidade de Southampton
Níveis em ascensão

O professor Gavin Foster, que também esteve envolvido no estudo, continuou: “A razão pela qual ainda não vemos temperaturas e níveis do mar semelhantes aos do Plioceno hoje é porque leva um tempo para o clima da Terra se equilibrar totalmente em relação aos níveis de CO2. E, por causa das emissões humanas, os níveis de CO2 ainda estão subindo. Nossos resultados nos dão uma ideia de o que é provável que ocorra quando o sistema atingir o equilíbrio”.

De de la Veja concluiu: “Tendo superado os níveis de CO2 do Plioceno até 2025, é provável que os futuros níveis de CO2 na Terra não tenham sido experimentados em nenhum momento nos últimos 15 milhões de anos, desde o Ótimo Climático do Mioceno Médio, um período de calor ainda maior que o Plioceno”.