8_PL513_OLIMPIADA4A poluição nas águas que banham o Rio de Janeiro, em especial a Baía de Guanabara, já é um problema conhecido há muito tempo e objeto de programas de limpeza desde os anos 1990. Como nenhum deles teve continuidade, principalmente por falta de recursos, a escolha da capital fluminense como sede das Olimpíadas, em 2009, reacendeu a esperança de que, enfim, algo mais concreto seria feito nesse sentido. A despoluição da baía chegou a ser apresentada então como o maior legado do evento para a cidade.

Mais uma vez, porém, as promessas das autoridades locais se acumularam sem resultados práticos. O atual governador, Luiz Fernando Pezão, havia se comprometido de início a despoluir até 80% da Baía de Guanabara – uma das atribuições assumidas em 2009 no dossiê de candidatura do Rio a sede da Olimpíada –, mas voltou atrás meses depois. (Hoje, ele admite que os investimentos feitos tratam 49% do esgoto despejado na baía.) Enquanto isso, aumentava o receio de que os atletas de vela (cujas competições ocorrerão na baía), remo (Lagoa Rodrigo de Freitas) e triatlo e maratona aquática (praia de Copacabana) se defrontassem com lixo e microrganismos prejudiciais à saúde.

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Além dos rivais, os velejadores enfrentarão lixo e microrganismos perigosos na Baía de Guanabara

A trégua sobre o tema acabou no fim de julho, quando a agência Associated Press (AP) divulgou um estudo encomendado à Universidade de Novo Hamburgo (RS). Os pesquisadores concluí­ram que os esportistas têm probabilidade alta de contrair infecções se tiverem contato com a água dos locais de prova (veja quadro ao final da reportagem). Embora o diretor médico do COI, Richard Bludgett, afirme na própria matéria da AP que não há risco “significativo” para a saúde dos atletas, o lado negativo da notícia teve repercussão internacional. Órgãos como a redes de TV NBC (americana) e BBC (britânica) e os jornais The New York Times (americano), The Guardian (britânico) e El País (espanhol) abordaram o assunto.

Dentro dos padrões

Em resposta ao artigo, o Comitê Rio 2016 alegou que a qualidade da água e a saúde dos atletas são “inegociáveis” e que confia nas análises do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), responsável pela verificação dos níveis dos coliformes fecais E. Coli e enterococcus. O Inea, por seu lado, informa que desconhece as metodologias usadas no estudo da universidade gaúcha e os resultados obtidos. Ele alega ainda que não há padrões de balneabilidade para vírus e que a água está dentro dos padrões europeu e americano para a realização dos eventos-teste e das competições olímpicas.

O governo fluminense também se posicionou contra o estudo, afirmando em nota que a Universidade de Novo Hamburgo “segue outros critérios de medição, que não foram utilizados em nenhuma edição anterior dos Jogos Olímpicos”. O texto acrescenta que, nos últimos seis anos, “não há informações oficiais de alguém que tenha contraído doença por contato com a água da Baía de Guanabara ou da praia de Copacabana”. Leonardo Espíndola, secretário-chefe da Casa Civil do estado, conclui na nota: “Estamos tranquilos: a qualidade da água está dentro dos padrões internacionais”.

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Remo na Lagoa Rodrigo de Freitas: a federação internacional do esporte pediu testes virais

Numa demonstração de que o quadro não é tão tranquilo assim, alguns dias após a divulgação do estudo da AP, o governo do Rio anunciou um novo plano de metas de recuperação da Baía de Guanabara até 2030, em parceria com sete universidades e três centros de pesquisa estaduais. O plano envolve a realização de diagnósticos sobre as condições ambientais e socioeconômicas atuais da área da baía para embasar um plano de intervenção e obras de despoluição, a ser apresentado no fim do ano. Além disso, as instituições participantes vão monitorar a qualidade das águas e auditar os resultados. Na ocasião, Rogério Valle, coordenador do Laboratório de Sistemas Avançados de Gestão da Produção (Sage) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), minimizou a preocupação dos estrangeiros com a poluição da baía.

“Há muitos problemas, mas ainda há vida na Baía de Guanabara”, afirmou. Ele lembrou também que a Baía de Sydney, usada nos Jogos Olímpicos de 2000, também não estava totalmente despoluída quando a competição ocorreu. “[Os australianos] não conseguiram limpar, mas ao cabo de dez anos apresentaram uma baía razoa­velmente limpa. Propusemos essa ideia. Nem mesmo em Sydney se despoluiu 100% e nem é essa a ideia”, afirmou. Por via das dúvidas, a Federação Internacional de Remo pediu testes de vírus para as águas da Lagoa e a cidade de Búzios, na Região dos Lagos, já se ofereceu para sediar as provas de vela da Olimpíada carioca.

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