Um indígena ianomâmi que deu entrada no Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista, na última sexta-feira (3), testou positivo para Covid-19. A informação foi divulgada na noite desta terça-feira (7), pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) que atende a região.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde de Roraima, o paciente chegou à unidade com um quadro de síndrome respiratória aguda grave (SRAG). O jovem de 15 anos de idade recebeu, primeiramente, um falso positivo na testagem, mas teve o diagnóstico confirmado ao ser submetido novamente ao teste.

Ao todo, 549 dos 667 pacientes de Covid-19 que faleceram no Brasil tiveram como causa de morte a SRAG, de acordo com o Ministério da Saúde. A insuficiência respiratória própria do quadro pode levar a uma disfunção dos órgãos vitais do corpo, exigindo internação do paciente.

LEIA TAMBÉM: Covid-19: Brasil conhecerá dimensão da pandemia nas próximas semanas

A Agência Brasil entrou em contato com o DSEI, o ministério e a Secretaria de Estado da Saúde de Roraima, solicitando mais detalhes sobre o caso do ianomâmi. Até o momento, a reportagem não teve resposta.

Registros

Os números oficiais do governo federal, atualizados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), às 17h de ontem – antes, portanto, da divulgação do caso pelo DSEI Ianomâmi –, indicam um total de 21 casos suspeitos, 5 confirmados e 26 descartados. Os DSEIs que mais têm investigado suspeitas da doença são o do Ceará e o do Litoral Sul, cada um com seis casos.

Quatro casos confirmados foram registrados nos DSEIs do Alto Rio Solimões e outro em Manaus. Na relação dos casos descartados, os distritos que apresentam maior número são Bahia e Interior Sul, com oito e cinco casos, respectivamente.

Na última sexta-feira (3), o Instituto Socioambiental (ISA) lançou a plataforma Covid-19 e os povos indígenas, que atualiza os casos da doença registrados em municípios próximos a terras indígenas e entre as etnias. Pelo site, também é possível acompanhar a disponibilidade de leitos e conferir a distribuição dos DSEIs em todo o país.

Desde o início da pandemia, a organização não governamental tem atentado para o fato de que as viroses respiratórias provocaram genocídio indígena em diversos momentos da história do Brasil. O histórico de como as epidemias afetaram as populações indígenas desde a colonização pelos portugueses, em 1500, também consta da plataforma do ISA.

Risco de propagação rápida

Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) fez observações sobre como o adensamento populacional dos indígenas pode torná-los mais suscetíveis à transmissão viral e tem recomendado que as lideranças proíbam a entrada de visitantes, turistas, vendedores e mesmo garimpeiros e madeireiros nas aldeias. “O nosso modo de vida comunitária pode facilitar a rápida propagação do vírus em nossos territórios caso algum de nós seja contaminado”, escreveu, em 22 de março.

Para a Apib, assegurar que o acesso a territórios indígenas por pessoas não autorizadas seja impedido é uma responsabilidade do governo federal. Em uma segunda mensagem, a organização faz esse apelo e lista outras medidas que julga fundamentais para a proteção dos povos indígenas durante a pandemia.

Apesar de nenhum óbito de indígena estar indicado no levantamento do Ministério da Saúde, o ISA noticiou, na última quinta-feira (2), que uma mulher da etnia borari, de 87 anos, morreu em Alter do Chão, no município de Santarém (PA). A indígena teve resultado positivo para o teste de Covid-19 e faleceu no dia 19 de março.