Uma equipe internacional de cientistas confirmou, com imagens de microscópio, a presença transitória de músculos presentes em nossos ancestrais, mas normalmente ausentes do ser humano adulto durante o desenvolvimento embrionário normal. Seu estudo, publicado em 1º de outubro na revista “Development”, revela também a existência de outros músculos não descritos anteriormente em embriões humanos.

Com sete semanas de gestação, por exemplo, as mãos e os pés do embrião têm cerca de 30 músculos. Quando a gestação chega à 13ª semana, um terço desses músculos iniciais desaparece ou se funde com outros.

Músculos nas pernas, no tronco, nos braços e na cabeça também aparecem e desaparecem durante o desenvolvimento, descobriram os pesquisadores depois de analisar imagens detalhadas em 3D de embriões e fetos humanos até 13 semanas de gestação.

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Esses músculos são denominados atávicos. Desde que Charles Darwin propôs sua teoria da evolução, os cientistas argumentaram que a ocorrência de estruturas atávicas apoia fortemente a ideia de que as espécies mudam ao longo do tempo a partir de um ancestral comum por meio da “descendência com modificação”.

Segundo o biólogo Rui Diogo, da Universidade Howard, de Washington (Estados Unidos), coautor do estudo, ao lado de cientistas doa Universidade Sorbonne e do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês), esses músculos atávicos são construídos como uma base para começar a reduzir o conjunto final de músculos com os quais as pessoas nascem.

Ausência de descrição

“O que é fascinante é que observamos vários músculos que nunca foram descritos no desenvolvimento pré-natal humano, e alguns desses músculos atávicos foram vistos mesmo em fetos com 11,5 semanas de idade, o que é bastante atrasado para os atavismos de desenvolvimento”, declarou Diogo.

Outros animais mantiveram alguns desses músculos. Chimpanzés adultos e embriões humanos têm músculos ancôneos epitrocleares em seus antebraços, mas a maioria dos humanos adultos não. Os ancestrais dos humanos também perderam os músculos dorsometacarpais das costas da mão cerca de 250 milhões de anos atrás, quando mamíferos e répteis se dividiram na árvore evolutiva.

Os lagartos ainda têm esses músculos. Eles aparecem em embriões humanos, mas depois se perdem ou se fundem com outros músculos durante o desenvolvimento e não são encontrados na maioria dos adultos.

Algumas pessoas retêm alguns desses músculos, o que acarreta variações anatômicas inofensivas. Por exemplo, cerca de 13% dos indivíduos analisados em um estudo tinham músculos ancôneos epitrocleares nos antebraços.