23/05/2025 - 12:50
País entra em seu terceiro dia de inundações e contabiliza cinco mortos. É a maior precipitação registrada na região de New South Wales em 100 anos.O número de mortos nas enchentes recordes que atingem o leste da Austrália subiu para cinco nesta sexta-feira (23/05), terceiro dia consecutivo de inundações no país. Ao menos 50 mil pessoas ficaram ilhadas após a água cobrir casas com lodo, destruir estradas e danificar plantações e pastagens.
Serviços de emergência encontraram o corpo de um homem de 80 anos em sua residência na região costeira de New South Wales nesta sexta-feira. Um homem de 63 anos também foi encontrado morto na quarta-feira em sua casa alagada na cidade de Moto. O corpo de outras três vítimas já haviam sido retiradas de carros tomados por água e lama.
Segundo os serviços meteorológicos do país, o volume de chuva se equiparou, em três dias, ao esperado para 6 meses. É a maior precipitação registrada em cem anos para a região de rios e vales de New South Wales, localizada a cerca de 400 quilômetros ao norte de Sidney.
Com o início do recuo do volume de água, equipes de resgate iniciaram uma grande operação de limpeza para avaliar os estragos causados pela chuva. Pequenos municípios rurais foram os mais atingidos.
A prefeita da cidade agrícola de Kempsey, Kinne Ring, disse que dezenas de comércios e casas foram inundadas. O chefe do Serviço de Emergência Estadual, Dallas Burnes, informou que mais de 2 mil trabalhadores foram mobilizados para missões de resgate e recuperação. “O foco para nós no momento será o reabastecimento das comunidades isoladas”, afirmou.
O evento tem sido chamado pela imprensa internacional de “enchente do século”.
Estradas fechadas, casas sem luz e resgates por helicóptero
Milhares de pessoas ainda estão sem energia elétrica e várias escolas permanecem fechadas. Muitas estradas estão completamente inundadas. A Pacific Highway, uma importante rota entre Sidney e Brisbane, segue fechada em alguns pontos.
Burnes disse que as equipes já haviam resgatado mais de 600 pessoas desde que o nível da água começou a subir no início da semana. Moradores subiram no teto de carros, casas e pontes antes de serem içados por helicópteros.
Apesar da melhora no nível das águas, Burnes alertou que os lagos de lama ainda representam perigo — inclusive pelo risco de cobras que podem ter invadido casas em busca de abrigo.
“As águas das enchentes têm contaminantes. Pode haver vermes, cobras. É preciso avaliar esses riscos. A eletricidade também pode representar um perigo.”
“Estas são circunstâncias horríveis”, disse o primeiro-ministro Anthony Albanese nesta sexta-feira ao visitar a zona do desastre.
“A Força de Defesa Australiana será disponibilizada. Será necessário um grande esforço de recuperação. Houve danos maciços à infraestrutura”, afirmou a uma rádio local.
No município de Taree, o empresário Jeremy Thornton disse que a enchente foi uma das piores que já presenciou. “Estamos revivendo tudo a cada segundo – ouvindo a chuva, ouvindo os helicópteros, ouvindo a sirene.”
As águas também estão ameaçando os animais, incluindo cavalos, vacas e o diabo-da-tasmânia, ameaçado de extinção.
Moradores relataram terem encontrado vacas mortas em praias, levadas por rios transbordados a partir de pastagens no interior.
Embora os alertas de enchentes tenham sido reduzidos nesta sexta-feira, algumas cidades ainda estavam isoladas, dificultando a avaliação completa dos danos.
O governo declarou estado de desastre natural, liberando mais recursos para as áreas afetadas.
Aumento de eventos climáticos extremos
“Tragicamente, estamos vendo mais eventos climáticos extremos. Eles estão ocorrendo com mais frequência e são mais intensos”, disse Albanese.
De áreas áridas do interior até a costa tropical, vastas regiões da Austrália têm sido atingidas por eventos climáticos extremos.
Segundo o serviço meteorológico, os oceanos ao redor do país têm estado “anormalmente quentes” nos últimos meses. Oceanos mais quentes evaporam mais umidade, o que pode resultar em chuvas mais intensas.
Embora seja difícil atribuir desastres específicos às mudanças climáticas, cientistas alertam que elas já estão alimentando padrões de clima mais extremos.
Para o especialista em modelagem de inundações Mahdi Sedighkia, a emergência desta semana oferece evidências de como as mudanças climáticas podem afetar os padrões meteorológicos regionais.
gq (afp, dpa)