01/08/2007 - 0:00
Dizem que o primeiro encontro a gente nunca esquece. O livro Encontros com Médiuns Notáveis, de Waldemar Falcão, traduz a surpresa, o mistério e o impacto de um primeiro encontro. São 200 páginas ágeis, intrigantes, sedutoras, reveladoras, nos levando por caminhos trilhados pelo autor em sua jornada pela espiritualidade. Este escritor-músicoastrólogo não deseja convencer ninguém de que, como dizia Leonardo Boff, “existe o invisível, ele é parte do visível”. Não, definitivamente Waldemar Falcão não quer convencer ninguém. Não levanta teses científicas, não arrola provas documentais, apenas conta histórias que viveu com grandes médiuns. E sabe contá-las muito bem.
Em Encontros com Médiuns Notáveis, de Waldemar Falcão, o leitor é levado a sobrevoar um mundo habitado por médiuns verdadeiramente notáveis, e, por isso mesmo, tão diferentes e tão iguais a cada um de nós. São pessoas que fazem, com muita clareza, o intermédio entre o visível e o invisível, o céu e a terra, o espiritual e o material.
São operários que constroem pontes para o “outro lado da vida”. Seres humanos capazes de feitos surpreendentes e que, ainda mais surpreendentemente, padecem dos mesmos males de corpo e de alma que todos nós padecemos.
Ao longo de eras, a figura do médium esteve revestida de um caráter mítico. Um dos grandes méritos deste livro é desmistificar a aura dos médiuns, mostrá-los como seres comuns, carregando nas costas seus destinos e dramas individuais. Assim, nessa “intimidade humana”, vamos conhecer dona Célia, considerada por Chico Xavier como “a maior médium do mundo”.
…Dons mediúnicos
Luiz, um dos médiuns mencionados pelo autor.
Também ficamos sabendo dos segredos de Lourival, o famoso “Bruxo das Laranjeiras”, e encontramos o seu Paulo, generoso médium de materialização de jóias. Por fim, somos apresentados a Nazaré, a Luiz e a Walkyr, todos dotados de capacidades mediúnicas impressionantes.
Na história da humanidade os médiuns tiveram um papel de enorme influência. O físico Patrick Drouot nos faz lembrar na apresentação do livro que “todas as culturas antigas e préindustriais reconheceram o grande valor dos conselhos esclarecedores fornecidos pelos médiuns como sendo um meio importante de aprendizado a respeito dos aspectos ocultos do mundo e de conexão do ser humano com as dimensões espirituais da existência”.
Ninguém melhor que dona Célia para provar que essa conexão é possível. Essa octogenária socialista, exatéia, de olhos profundamente míopes, viu sua vida mudar drasticamente de um modo que jamais poderia acreditar. Já era mulher feita quando foi acometida por uma febre sem diagnóstico médico que durou nada menos que um ano e meio. Era o chamado da espiritualidade.
Após esgotar todos os recursos da medicina tradicional, dona Célia abriu mão de sua concepção atéia e recorreu a um centro espírita como última saída. Seu diagnóstico foi instantâneo: se quisesse ter a sua saúde de volta, ela precisaria trabalhar sua mediunidade. A vida lhe mostrou os caminhos e, durante muitos anos, dona Célia passou a psicografar milhares – talvez milhões – de mensagens de “espíritos desencarnados para espíritos encarnados”.
Sua precisão é tanta que, em suas psicografias, ela incluiu informações como o endereço completo, incluindo o CEP, os números dos telefones fixo e celular, o número de processos, os costumes secretos e apelidos de infância do destinatário. Até animais enviam mensagens do além para seus donos referindo-se a detalhes, como o tipo de ração que recebiam, a música que costumavam ouvir.
No livro, ele é descrito como alguém dotado de capacidades mediúnicas impressionantes.
Se a ponte que dona Célia construiu entre o mundo material e o imaterial era pavimentada por letras, a ponte de Lourival, o “Bruxo de Laranjeiras”, era cimentada com ervas misteriosas e cirurgias de efeitos curativos fantásticos. Assim como outros médiuns que operam os corpos físicos de seus pacientes, Lourival também não se utilizava de nenhum método de assepsia em seus instrumentos de trabalho. Instrumentos, por sinal, nada sofisticados.
Se ia operar na casa de um paciente, requeria dele qualquer objeto perfurante: uma tesoura, uma lâmina de barbear, qualquer coisa. E a anestesia? Aí entra a sofisticação do médium: o seu anestésico era a música de boa qualidade. Em seu time de anestesistas figuravam Tom Jobim, Miúcha, Chico Buarque e o próprio Waldemar Falcão na flauta, sua especialidade. São vários, aliás, os personagens da Música Popular Brasileira que Waldemar arrola em suas histórias. Encontramos, por exemplo, Ney Matogrosso, Gilberto Gil e Milton Nascimento, que chegou a fundir uma cadeira que Lourival utilizava para medir a aura de seus pacientes.
São tantas e tão interessantes as histórias reunidas na obra Encontros com Médiuns Notáveis que não foi por acaso que o roqueiro Roberto Frejat escreveu ao autor: “Querido, o seu livro é lindo. Informativo, cativante, doce e intenso. Devorei-o numa viagem.”
Serviço Encontros com Médiuns Notáveis, Waldemar Falcão, Ed. Nova Era, 196 páginas, R$ 29,00.
Entrevista com Valdemar Falcão
Qual a mais notável experiência que você teve com todos estes médiuns citados em seu livro?
Do ponto de vista do fenômeno mediúnico, o que mais me marcou foi o Lourival, mas do ponto de vista da visão do funcionamento e da lógica do mundo espiritual, sem dúvida alguma, foi a dona Célia. Ela tem um enfoque da processualística universal, da lei de causa e efeito, da aproximação entre ciência e espiritualidade, que é uma coisa fantástica. O “Bruxo de Laranjeiras” conquistou meu coração e a dona Célia, minha razão.
Há alguma história do Lourival que você não contou no livro e quer revelar para a Revista PLANETA?
Posso revelar uma história curiosa que a filha dele me contou. Lourival percebeu um espírito no éter querendo encarnar como sua filha. Sabia até o nome que esse espírito deveria ter quando encarnado: Ystatille. Então, procurou uma mulher para conceber essa criança e logo sua filha nasceu… Lourival tinha uma percepção dos campos sutis que era inacreditável.
…Previsão pessoal
O médium Lourival, o “Bruxo de Laranjeiras”, que antecipadamente sabia que seria pai de uma menina.
Como o público recebeu Encontros com Médiuns Notáveis?
A receptividade foi maravilhosa desde o dia do lançamento. Ainda recebo muitos e-mails carinhosos do Brasil inteiro. Meu livro tem circulado muito dentro dos círculos das religiões chamadas mediúnicas. Mas também muita gente que não acreditava em vida após a morte leu o livro, e pessoas que tinham preconceitos em relação aos médiuns deixaram de tê-los.
Soube que Caetano Veloso leu seu livro e adorou…
É engraçada essa reaproximação com Caetano, que eu conhecia profissionalmente, de estúdios de gravação e de shows. Nossos filhos são colegas de escola e, por conta disso, passamos a dividir tarefas de ir levar e buscar a garotada nas festas. Certo dia, meu filho mais velho me trouxe um recado, dizendo que Caetano estava louco para ler o meu livro. Fiz uma dedicatória carinhosa e o enviei a ele, que leu e gostou muito.
Quando um leitor se manifesta em relação a uma obra nossa, isso traz um estímulo grande para escrever novos livros. Quando esse leitor é um marco, um ícone, uma referência na sua vida pessoal e profissional, esse estímulo adquire uma dimensão inimaginável. Caetano tem sido meu farol musical e artístico desde a minha adolescência.
Quais são seus próximos livros?
Depois de Encontros com Médiuns Notáveis, fui convidado por algumas editoras para escrever novos projetos. Em agosto sai, pela Ediouro, O Deus de Cada Um, que retrata a diversidade da experiência religiosa. Pessoas de diferentes credos contam como se aproximaram, viveram e vivem a sua religião. Também estou trabalhando num outro título que sai pela Relume Dumará e que faz parte de uma coleção chamada “Em que acreditam”. Fiquei encarregado de escrever o Em que Acreditam os Astrólogos.
Estou também assessorando editorialmente a Casa da Palavra, que começou a publicar livros na área de espiritualidade e autoconhecimento. Minha função é sugerir títulos e acompanhar a produção e finalização dos projetos. Além disso, vou organizar um livro que vai se chamar Depois da Vida, com a visão de oito diferentes tradições religiosas sobre a vida após a morte.
Você parece transitar muito bem no vasto campo da espiritualidade. Você pertence a alguma religião específica?
Desde muito cedo, eu fiz uma opção por um ecumenismo amplo, geral e irrestrito. Mas acredito que a umbanda seja a síntese do inconsciente coletivo do Brasil. É o sincretismo das nossas diversas religiões, diversas culturas. O espírito brasileiro está muito bem caracterizado nos seus cantos, nos seus rituais e nas suas histórias.
Na verdade, três tradições religiosas moram no meu coração: o catolicismo, no qual fui criado; a umbanda, na qual descobri a espiritualidade; e o orientalismo, principalmente hinduísmo e o budismo, que sempre estudei e pesquisei. Mas eu sigo o exemplo da médium dona Célia: sou, como ela, um aprendiz de universalista…
Você tem medo da morte?
Não, fico só um pouco apreensivo de como o desenlace pode acontecer. Ao contrário de ter medo, tenho a maior curiosidade de encontrar o lado de lá.
E o que você acredita que vai encontrar do lado de lá?
(Risos) Não tenho a menor idéia, e é justamente isso que me fascina, deve ser incrível…