02/10/2025 - 16:20
Quase 20 marcas suspenderam vendas após órgão regulador constatar que o fator de proteção real do produto era menor que o indicado na embalagem.Fabricantes de 18 marcas de protetor solar suspenderam as vendas do produto na Austrália após um órgão do governo identificar que muitos não ofereciam ofator de proteção alegado na embalagem.
Uma primeira investigação realizada em junho pelo grupo de defesa do consumidor Choice descobriu que, das 20 marcas populares de protetor solar testadas, apenas quatro correspondiam com precisão às suas indicações de Fator de Proteção Solar (FPS).
Após o caso vir à tona, a Administração de Produtos Terapêuticos (TGA, na sigla em inglês), órgão regulador do governo australiano, conduziu uma nova análise e identificou que 21 produtos não cumpriam o fator de proteção prometido.
Em alguns casos, marcas que alegavam possuir FPS de 50+ “provavelmente não tinham um FPS superior a 21”, disse a autoridade. Em um dos exemplos encontrados pela Choice o fator de proteção não passava de 4.
Após a divulgação do relatório do governo na última terça-feira (30/09), oito marcas recolheram seus produtos de forma voluntária, 10 tiveram suas vendas suspensas por decisão do órgão, dois seguem em análise e um não é vendido dentro do país.
Problemas na testagem
Os 21 produtos investigados usam a mesma fórmula base, diz a TGA, produzida pela farmacêutica Wild Child Laboratories.
Segundo o próprio órgão regulador, não foram encontrados problemas na linha de produção da fórmula, o que indica que erros podem ter ocorrido na testagem. O FPS do produto fabricado pela farmacêutica era determinado pela Princeton Consumer Research (PCR Corp), uma empresa americana especialista em testes clínicos que atua em diversos países.
Em resposta ao relatório, a Wild Child Laboratories afirmou que encerrou seu contrato com a empresa. O movimento foi seguido por outras farmacêuticas que também realizavam testes clínicos na PCR Corp.
Em nota enviada a veículos de imprensa, a PCR Corp defendeu que as discrepâncias são explicadas por fatores externos.
“Fatores externos ao laboratório – como variabilidade de fabricação entre lotes, diferenças na matéria-prima, embalagem, condições de armazenamento, idade do produto e manuseio no mercado – podem influenciar o FPS dos produtos vendidos posteriormente. O desempenho do protetor solar medido em laboratório reflete o lote exato e a condição da amostra enviada naquele momento”, disse em nota.
O FPS mede quantas vezes o produto aumenta a proteção natural da pele contra os raios solares, a chamada radiação ultravioleta, mas seu grau efetivo pode variar de acordo com a hora do dia, o local e a estação do ano.
De acordo com os padrões de teste atuais, fatores como a quantidade de protetor solar aplicada e o grau de vermelhidão observado na pele podem afetar os resultados.
Penalidades por rotulagem imprecisa
A Austrália classifica os protetores solares como produtos terapêuticos. Ou seja, são tomados como relativos à saúde humana, e não têm caráter puramente cosmético. Por isso, são regulamentados para garantir sua segurança e eficácia.
As empresas podem enfrentar penalidades por rotulagem imprecisa e pelos riscos causados à saúde. A Austrália tem a maior taxa de câncer de pele do mundo – estima-se que quase 19 mil australianos foram diagnosticados com melanoma em 2024, segundo dados oficiais.
Para especialistas ouvidos pela imprensa australiana, o problema pode afetar produtos de outros países, já que a PCR Vorp emitia certificado de FPS também para empresas estrangeiras. Algumas das marcas identificadas pela TGA também exportavam o produto.
gq/md (AFP, OTS)