19/11/2025 - 7:35
Embora diferença possa parecer pequena, 0,5 °C a mais na temperatura média global pode levar a consequências catastróficas.Quando nasceu o Acordo de Paris em 2015, em resposta ao aquecimento global e às mudanças climáticas , as coisas rapidamente se tornaram matemáticas.
Para desacelerar o aquecimento do planeta causado pela queima de petróleo, carvão e gás , e associado a tempestades devastadoras, inundações, secas e ondas de calor, os países definiram um número como meta principal.
Eles concordaram em tentar limitar o aumento da temperatura média global a 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais. Caso não atingissem essa meta, prometeram ficar abaixo de 2 °C.À primeira vista, pode parecer uma diferença insignificante, mas, como os cientistas apontam regularmente, é crucial.
Da mesma forma que um leve aumento na temperatura corporal pode fazer com que os humanos se sintam mal, o excesso de calor na atmosfera pode afetar o planeta. Ele intensifica a força e a probabilidade de eventos climáticos extremos, impactando desde o custo dos alimentos e apólices de seguro residencial, à migração, à saúde humana e à segurança hídrica.
No entanto, na década que se passou desde que o Acordo de Paris foi firmado, a maioria das nações continuou queimando combustíveis fósseis e emitindo gases de efeito estufa, como o CO2.
Agora, para muitos especialistas, a meta de 1,5 °C já parece muito difícil de ser alcançada. Mas o que significa, na prática, um aquecimento maior do que isso?
Por que 1,5 °C
A escolha de 1,5 não é aleatória. O esforço para impedir que as temperaturas subam acima desse limite tem razões claras. Quanto mais quente o mundo fica, mais as pessoas são expostas ao calor mortal, as nações à elevação do nível do mar e os ecossistemas ao colapso. Por exemplo, o risco de perdas irreversíveis de ecossistemas marinhos e costeiros é muito maior quando 1,5 °C é ultrapassado.
Um relatório publicado no mês passado pela iniciativa internacional de cientistas Atribuição Climática Global e pela organização de pesquisa Climate Central constatou que, desde o Acordo de Paris, o mundo aqueceu 0,3 °C. Mesmo esse aumento aparentemente pequeno se traduzem em 11 dias mais quentes que o normal extras por ano.
No momento, cientistas e especialistas concordam amplamente que a meta de 1,5 °C está fora de alcance. “Pelo menos temporariamente”, de acordo com uma pesquisa recente da ONU, que afirmou que a única maneira de voltar aos trilhos até 2100 seria reduzir as emissões em mais de 55% nos próximos 15 anos. Isso exigiria reduções radicais e rápidas nos gases de efeito estufa .
As consequências de 2 °C
Já os 2 °C vinham sendo defendidos por cientistas, e posteriormente por políticos, muito antes que a meta fosse consagrada no Acordo de Paris como objetivo alternativo, caso os países não atingissem a marca de 1,5 °C.
Por mais próximos que os números pareçam, eles estão atrelados a realidades muito diferentes. De acordo com a ONG World Resources Institute (WRI), enquanto um aquecimento de 1,5 °C fará com que 14% da população mundial fique exposta a calor extremo, um aumento de 2 °C impactará mais de um terço da população mundial. Além disso, com um aquecimento de 2 °C, entre 800 milhões e 3 bilhões de pessoas em todo o mundo sofreriam com a escassez crônica de água.
As emissões em 2030 teriam que cair 25% em relação aos níveis de 2019 para manter o mundo na trajetória de 2 °C, de acordo com o último relatório Lacuna de Emissões da ONU.
Sarah Heck, da Climate Analytics, instituto de ciência e política sem fins lucrativos, afirma que um aumento de 2 °C na temperatura da atmosfera levaria a verões sem gelo no Ártico pelo menos uma vez por década, em vez de uma vez por século em um cenário de 1,5 °C.
O derretimento do gelo agrava a elevação do nível do mar, que ameaça comunidades costeiras, ilhas baixas e a vida selvagem. E o degelo do permafrost libera o metano, um potente gás de efeito estufa aprisionado, que causa ainda mais aquecimento.
E se a temperatura subir mais?
Apesar das metas estabelecidas no Acordo de Paris, a atualização mais recente da temperatura global, feita pelo serviço independente de monitoramento Climate Action Tracker, mostra que, com as políticas atuais de redução de emissões, o mundo deverá aquecer cerca de 2,6 °C até 2100.
Esse nível de aquecimento pode levar ao colapso dos ecossistemas marinhos e a um aumento drástico de eventos climáticos extremos, como secas e chuvas intensas. Também aumenta a probabilidade de desencadear “pontos de inflexão” climáticos catastróficos e, em alguns casos, irreversíveis, como a perda significativa de calotas polares e o recuo de geleiras de montanha das quais bilhões de pessoas dependem para obter água doce.
Eventos climáticos extremos atingiram novos patamares em 2024, o ano mais quente já registrado. Incêndios florestais atingiram os EUA, ondas de calor castigaram a Índia e muitas outras partes do mundo, o supertufão Yagi devastou o Sudeste Asiático e enchentes catastróficas deixaram o Rio Grande do Sul debaixo da água. A Atribuição Climática Global afirma que as mudanças climáticas contribuíram para o deslocamento de milhões de pessoas e levaram à morte de pelo menos 3.700 em 2024.
O cientista climático Adam Levy afirma que será difícil para os humanos se adaptarem a um aquecimento de 2,6 °C e pede aos países e às pessoas que se lembrem de outro número. “O mundo seguirá aquecendo enquanto continuarmos adicionando dióxido de carbono à atmosfera. Portanto, independentemente do que esteja acontecendo, os limites de temperatura, as metas, zero é o número que devemos sempre ter em mente”, destacou.
