Apesar de dividirem o mesmo território, capivaras e crocodilianos mantêm uma convivência curiosamente pacífica na natureza. Frequentemente vistas descansando às margens de rios, lagos e pântanos da América do Sul, as capivaras parecem ignorar a presença de predadores como jacarés e, na maioria das vezes, essa tranquilidade é recíproca.

As capivaras (ou Hydrochoerus hydrochaeris) são os maiores roedores vivos do planeta e estão distribuídas por grande parte do continente sul-americano. Vivem em grupos e passam boa parte do dia se alimentando de grama e plantas aquáticas, sempre próximas à água. Esse hábito as coloca diretamente no território de crocodilianos que habitam áreas alagadas, especialmente nas selvas da América do Sul.

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Ainda assim, ataques são raros. Em entrevista ao IFLScience, a especialista certificada em capivaras e professora assistente da Universidade Bethune-Cookman, na Flórida, dra. Elizabeth Congdon explicou que é incomum ver jacarés caçando ou se alimentando de capivaras na natureza.

Isso não significa que o roedor nunca faça parte da dieta desses predadores. Segundo a pesquisadora, em períodos de escassez, a espécie pode acabar sendo consumida, mas trata-se de uma exceção.

“É raro, especialmente quando há abundância de peixes e presas mais fáceis de controlar do que uma capivara. Eu já as vi dormindo lado a lado na natureza”, disse o dr. Congdon ao IFLScience.

A principal exceção, segundo a especialista, são os mais jovens. “A exceção são os filhotes. Filhotes são petiscos para muitas coisas, até mesmo para aves de rapina”. A explicação para essa trégua inesperada está na capacidade de defesa do animal. Embora pareçam dóceis à distância, as capivaras possuem dentes incisivos grandes e extremamente afiados, capazes de causar ferimentos significativos.

“As capivaras têm dentes grandes e afiados. Levando em conta o tamanho do corpo, acho que simplesmente não vale a pena o trabalho e o risco de se machucarem”, explicou o dr. Congdon. Essa reputação pacífica não se limita aos crocodilianos. Como herbívoros pouco agressivos, as capivaras costumam compartilhar o espaço com diversas outras espécies, tornando-se uma presença comum e tolerada às margens dos rios.

“Tenho fotos de capivaras com pássaros pousados em suas costas, tartarugas tomando sol em suas costas enquanto dormem, e há muitos exemplos em zoológicos e em cativeiro”, continuou Congdon. “Se elas tiverem um pedaço de grama para comer ou um lago agradável para se refrescarem, estão bem.”

Apesar da boa convivência com muitos animais, a maior ameaça às capivaras não vem da fauna silvestre, mas dos humanos. Embora jacarés, onças-pintadas, sucuris, jaguatiricas, harpias e outros predadores possam caçá-las em determinadas circunstâncias, a pressão mais significativa ocorre por meio da caça humana.

Em diversas regiões da América do Sul, comunidades consomem capivaras selvagens, mesmo com restrições legais em alguns países. Para reduzir o impacto sobre as populações naturais, fazendas de capivaras surgiram nos últimos anos, e a espécie demonstrou adaptação surpreendente à criação comercial.

Ainda assim, especialistas alertam para não confundir o comportamento tranquilo do animal com passividade absoluta. Quando ameaçadas, capivaras podem reagir. Embora não existam estatísticas consolidadas sobre ataques de roedores gigantes na América do Sul, reportagens e vídeos que circularam nas redes sociais indicam casos em que capivaras atacaram pessoas e animais de estimação, resultando em mordidas dolorosas.