17/11/2025 - 7:37
Em referendo, equatorianos recusam mudança constitucional que permitiria a atuação de tropas estrangeiras no país. Resultado representam uma derrota para o presidente Daniel Noboa.A população do Equador rejeitou neste domingo (16/11) que o país volte a abrigar bases militares estrangeiras. A decisão foi tomada em um referendo nacional e representa uma derrota para o presidente equatoriano, Daniel Noboa, que defendia a implementação de forças americanas no país para combater o avanço do narcotráfico.
Até o momento, 61% dos eleitores se opuseram à retomada de bases estrangeiras no Equador, proibidas desde 2008. Com 96% dos votos computados, o resultado não pode mais ser revertido. Além disso, 62% da população também rejeitou a proposta de convocar uma nova Assembleia Constituinte que teria o objetivo de desenhar uma nova Carta Magna, mais dura contra o crime organizado.
Os equatorianos também rejeitaram o fim do financiamento estatal aos partidos políticos (58%) e a redução do número de congressistas (53%).
O resultado foi tomado como surpresa pelo gabinete de Noboa, já que as pesquisas de intenção de voto davam como certa sua vitória. Ele acatou a derrota em uma publicação no X. “Estes são os resultados. Consultamos os equatorianos e eles falaram. Cumprimos o que prometemos: perguntar-lhes diretamente. Respeitamos a vontade do povo equatoriano. Nosso compromisso não muda”, escreveu.
O presidente equatoriano chegou a receber representantes dos EUA para apresentar as antigas bases militares americanas nas cidades costeiras de Manta e Salinas, hoje usadas pelas forças armadas equatorianas.
Até 2008, Manta era o centro operacional das atividades de interceptação dos EUA, e foi fechada após uma reformulação da Constituição comandada pelo ex-presidente Rafael Correa, que proibiu bases estrangeiras. O referendo acontece em meio à escalada da pressão militar da Casa Branca nas águas do Caribe e do Pacífico, onde realiza sequentes ataques a supostos barcos de narcotraficantes. Noboa defende essa ofensiva como estratégia contra o tráfico de cocaína que sai sobretudo de seus portos.
Esta era a última tentativa do presidente equatoriano de passar a medida, que já havia sido rejeitada em embates com parlamentares. Ele também foi barrado pela Justiça ao tentar passar outras mudanças na lei, como a castração química para estupradores ou a vigilância sem ordem judicial. Quase 14 milhões de eleitores foram convocados para votar de maneira obrigatória.
Nas ruas de Quito, dezenas de pessoas celebraram os resultados com apitos e gritos de “fora Noboa, fora”. “É o triunfo do povo equatoriano sobre a ditadura”, disse à agência de notícias AFP Ricardo Moreno, um aposentado de 70 anos.
Campanha “nefasta”
O Equador atravessa uma crise de segurança, sendo responsável pela maior taxa de homicídios da América Latina: 39 por cada 100 mil habitantes em 2024, segundo a Insight Crime.
No poder desde novembro de 2023, Noboa tem mobilizado soldados nas ruas e nas prisões e declarado frequentes estados de exceção, criticados por organizações de direitos humanos, que também denunciam abusos das forças de segurança e aumento dos desaparecidos em operações policiais e militares.
Nascido nos EUA e com um discurso duro contra o crime, Noboa fez campanha intensa pela mudança na Constituição. Poucos minutos após iniciada a votação, anunciou a captura na Espanha do chefe da poderosa organização criminosa Los Lobos. “Hoje capturamos ‘Pipo’ Chavarría, o delinquente mais buscado da região (…) que fingiu sua morte, mudou de identidade e se escondeu na Europa”, escreveu no X.
Noboa aposta na cooperação internacional para frear o narcotráfico e se converteu em um dos maiores aliados do governo de Donald Trump. Desde que chegou ao poder, estreita laços com Washington mediante acordos migratórios, tarifários e de segurança.
Este é o pior revés eleitoral do presidente depois de que, em 2024, ele conseguiu a aprovação via referendo da extradição de equatorianos e do aumento de penas para o crime organizado.
gq/cn (AFP, EFE, DW)
