Membro da UE e da Otan, país do leste europeu escolheu como novo presidente Peter Pellegrini, político considerado cético à Ucrânia e que faz parte da coalizão governamental que cortou envio de ajuda a Kiev.Os eslovacos foram às urnas neste sábado (06/04) e elegeram como novo presidente o social-democrata Peter Pellegrini, de 48 anos, considerado do campo pró-Rússia e cético à Ucrânia.

O até agora presidente do Parlamento e líder de um dos três partidos da coligação governista de populistas de esquerda e ultranacionalistas teve 54% dos votos e derrotou o candidato pró-Ocidente Ivan Korcok, que concorreu como independente e teve 46% dos votos.

Durante a campanha, Pellegrini defendeu a necessidade de negociar com a Rússia para pôr fim à guerra iniciada com a invasão da Ucrânia, posição também defendida pelo atual governo eslovaco que, desde que chegou ao poder no outono europeu, interrompeu a importante ajuda militar que o país estava prestando a Kiev.

O resultado, de certa forma, surpreendeu, uma vez que especialistas esperavam uma disputa mais acirrada e também tendo em vista que Korcok havia ficado em primeiro lugar no primeiro turno, há duas semanas.

A taxa de comparecimento às urnas foi de 60%, 18 pontos percentuais a mais do que em 2019. Analistas previam que uma elevada afluência às urnas poderia beneficiar Pellegrini, que conseguiu não só mobilizar seus eleitores como atrair a maioria daqueles que haviam votado em outros candidatos, como o ultranacionalista Stefan Harabin, que havia ficado em terceiro lugar no primeiro turno.

Pellegrini venceu em sete das oito regiões do país, enquanto o seu rival, apoiado pela oposição liberal e pró-europeia, só ficou em primeiro lugar na Bratislava, a capital.

Campanha teve foco na Ucrânia

Korcok, de 60 anos, foi apoiado pelos partidos da oposição. A popular presidente liberal em exercício, Zuzana Caputova, uma apoiadora da Ucrânia como Korcok, não concorreu à reeleição.

Ele centrou sua campanha na defesa do apoio militar à Ucrânia e em posicionar-se como um contrapeso ao governo liderado pelo populista de esquerda, o primeiro-ministro Robert Fico, a quem acusa de violar o Estado de direito com medidas como a eliminação do gabinete do procurador anticorrupção e os seus ataques aos meios de comunicação social.

Embora tenha admitido a derrota e parabenizado Pellegrini, Korcok, ex-ministro eslovaco das Relações Exteriores, criticou a campanha eleitoral como “não transparente”.

“Está provado que é possível tornar-se presidente da Eslováquia espalhando o ódio”, disse. “A campanha eleitoral também pode ser vencida fazendo de mim um candidato de guerra”, acrescentou.

A crítica vem porque, durante a campanha, Fico pintou Korcok como um “fomentador da guerra” por causa do seu posicionamento favorável ao apoio militar à Ucrânia.

Pellegrini também descreveu o rival como um apoiador da guerra e acusou-o de querer enviar tropas eslovacas para combater na Ucrânia. Ele disse à agência de notícias AFP antes do segundo turno das eleições que os políticos eslovacos estavam divididos sobre se a guerra na Ucrânia deveria continuar ou se era hora de negociações de paz com a Rússia.

“Eu pertenço a este último [grupo]”, acrescentou.

Embora enquadrados no mesmo espectro político, Pellegrini é cético à posição do chanceler federal alemão, o também social-democrata Olaf Scholz, um dos maiores apoiadores de Kiev.

Proximidade com o primeiro-ministro

O partido de Pellegrini, o Hlas, é uma cisão do Smer, de Fico. Pellegrini sucedeu a Fico no cargo de primeiro-ministro quando este se demitiu, em 2018, na sequência dos protestos populares e da agitação provocada pelo assassinato de Ján Kuciak, um jornalista que investigava as ligações entre o crime organizado e o poder político.

Após as eleições de setembro do ano passado, o Hlas e o Smer formaram um governo com o ultranacionalista SNS, o que levou à suspensão dos dois partidos do grupo dos sociais-democratas europeus.

Desde 2018, Fico tem adotado posições anti-imigração e eurocéticas que o aproximam do ultranacionalista Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro.

Pellegrini descreveu a sua vitória nas eleições como uma “grande satisfação”.

“Quero ser um presidente que represente os interesses nacionais da Eslováquia”, disse, garantindo que “o país permanecerá do lado da paz e não da guerra”.

A política externa deve permanecer inalterada

Após votar neste sábado, Pellegrini garantiu que a votação “não era sobre a direção futura da política externa”. Segundo ele, a Eslováquia continuará sendo um “membro forte da União Europeia e da Otan”.

Além de sua língua nativa, Pellegrini também fala alemão, inglês e russo e é considerado mais moderado que Fico.

No sistema político eslovaco, o presidente tem principalmente tarefas representativas. Ele ratifica tratados internacionais, nomeia juízes de alto escalão e é comandante-chefe das forças armadas. Também pode vetar leis ou contestá-las perante o Tribunal Constitucional. A cerimônia de posse de Pellegrini está marcada para 15 de junho.

A linha atual do governo eslovaco vai contra a da vizinha República Tcheca, que, depois de a União Europeia falhar no cumprimento da promessa de entregar um milhão de projéteis à Ucrânia até o final do ano passado, liderou uma iniciativa para enviar até 800 mil projéteis a Kiev. Até 1992, os dois países formavam a Tchecoslováquia.

le (Lusa, AFP, RTR, DPA, ots)