País se une à Itália ao destacar embarcação de guerra para proteger ativistas que tentam furar bloqueio marítimo imposto por Israel, no intuito de levar ajuda humanitária à população do território palestino.Após iniciativa semelhante da Itália, a Espanha também decidiu enviar nesta quinta-feira (25/09) um navio de guerra para auxiliar a flotilha internacional que navega rumo à Faixa de Gaza, na tentativa de entregar ajuda humanitária à população do território palestino, em uma ação sem precedentes por parte dos governos europeus.

Algumas embarcações que integram a flotilha foram atacadas por drones, com os organizadores da iniciativa jogando a culpa sobre Israel.

A Flotilha Global Sumud – a maior e mais ambiciosa missão marítima reunida para tentar chegar à Gaza – é composta por 52 barcos civis que visam romper o bloqueio naval israelense. Estão a bordo parlamentares, políticos, juristas e ativistas, como a sueca Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila.

Os principais navios da missão partiram da Espanha em 1º de setembro, rumo ao leste através do Mediterrâneo, e foram acompanhados por barcos de outros países que aderiram ao longo do caminho.

“Não é ato de guerra, mas sim, de humanidade”

Nesta quarta-feira, o Ministério da Defesa italiano informou que uma fragata que fora enviada horas após a flotilha ter sido alvo de um ataque a caminho de Gaza seria substituída por outra embarcação, acrescentando que o objetivo era proteger as pessoas a bordo.

O Ministério do Exterior da Itália afirmou que Bélgica, França e outros países europeus solicitaram assistência aos seus cidadãos na flotilha.

“Não é um ato de guerra, não é uma provocação; é um ato de humanidade, que é um dever de um Estado para com seus cidadãos”, disse o ministro italiano da Defesa, Guido Crosetto, à câmara alta do Parlamento italiano, ao explicar a decisão de enviar um navio.

José Manuel Albares, ministro espanhol do Exterior, afirmou nesta quinta-feira que a proteção fornecida pelo navio militar não representa um ameaça a ninguém, incluindo Israel.

Albares disse que a Espanha aceitou o pedido da Bélgica para auxiliar cidadãos do país a bordo da flotilha, e estava em conversações com a Irlanda sobre a mesma questão.

Granadas de atordoamento e pó de mico

A Itália enviou uma primeira fragata depois de a flotilha ter denunciado um ataque de drones que lançaram granadas de atordoamento e pó de mico sobre as embarcações, enquanto navegavam em águas internacionais a 30 milhas náuticas (56 quilômetros) da ilha grega de Gavdos.

Ninguém ficou ferido, mas alguns barcos sofreram algumas avarias. Os membros da flotilha culparam Israel pelos ataques

Todas as tentativas anteriores, desde 2010, foram frustradas pelas forças israelenses. Israel sustenta que o bloqueio naval à Gaza, imposto em 2007, após o grupo islamista Hamas assumir o poder do enclave, é necessário para impedir que o grupo – classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia (UE) e muitos outros países – consiga importar armas.

Mas, na visão de muitas organizações de direitos humanos e ONGs, o bloqueio constitui uma punição coletiva, ilegal segundo o direito internacional.

A situação humanitária em Gaza, que já era grave, se deteriorou ainda mais nos quase dois anos da guerra.

Em 2010, dez ativistas turcos foram mortos por comandos israelenses que invadiram o navio Mavi Marmara, que liderava uma flotilha de ajuda humanitária em direção a Gaza.

Ativistas rejeitam Chipre como alternativa

A Itália propôs um acordo pelo qual suprimentos de ajuda poderiam ser deixados em Chipre e entregues ao Patriarcado Latino de Jerusalém, da Igreja Católica, que então os distribuiria em Gaza. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, disse que Israel apoiava a ideia.

No entanto, a delegação italiana rejeitou nesta quinta-feira a sugestão, em nome da flotilha. “Nossa missão permanece fiel ao seu objetivo original de romper o cerco ilegal [de Israel] e entregar ajuda humanitária à população sitiada de Gaza”, afirmou o grupo italiano em um comunicado.

Meloni, tradicional aliada de Israel, enfatizou nesta quarta-feira que o uso de força militar não será exercido pela Marinha de seu país e criticou a iniciativa da flotilha como “gratuita, perigosa e irresponsável”.

O Ministério do Exterior de Israel instou os membros da flotilha a descarregar a ajuda humanitária em qualquer porto de um país próximo a Israel, deixando a cargo das autoridades israelenses a tarefa de transportá-la a Gaza, sob pena de sofrerem consequências.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, afirmou e postagem no X que a rejeição da flotilha à proposta italiana de desembarcar a ajuda em Chipre mostrou “que seu verdadeiro propósito é a provocação e servir ao Hamas”.

“Israel não permitirá que navios entrem em uma zona de combate ativa e não permitirá a violação de um bloqueio naval legal”, escreveu ele.

Aumentam os riscos para os ativistas

A flotilha informou na manhã de quinta-feira que seus navios estavam navegando em baixa velocidade em águas territoriais gregas, tendo sido submetidos a “atividade moderada de drones” durante a noite e estavam se dirigindo para águas internacionais.

Algumas pessoas a bordo dos navios da flotilha decidiram desembarcar e estão sendo substituídas por outros ativistas, relatou Annalisa Corrado, membro do Parlamento Europeu pelo Partido Democrático da oposição na Itália, que está em um dos barcos.

“Está claro que as tensões estão aumentando e, com elas, os riscos também. Os que desembarcam decidiram que esses níveis de risco não são mais compatíveis com o que estão dispostos a suportar”, relatou a eurodeputada.

A guerra em Gaza foi desencadeada pelos ataques terroristas liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 contra Israel, que mataram em torno de 1.200 pessoas, além de outras 251 que foram levadas como reféns.

A ofensiva israelense em retaliação matou mais de 65 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas. O conflito propagou a fome no enclave, destruiu a maioria dos edifícios e forçou o deslocamento da população, em muitos casos, várias vezes. Na semana passada, uma comissão de inquérito independente da ONU chegou à conclusão que Israel está cometendo genocídio na Faixa de Gaza.

rc/md (Reuters, AP)