29/04/2025 - 18:52
Na última quinta-feira, 24, a revista Science descreveu um comportamento até então inédito: lagartas carnívoras parecem estar “vestindo” os restos mortais de suas presas. Batizada de “colecionadora de ossos”, a espécie foi observada no Havaí, em uma faixa única de 15 km quadrados nas montanhas da ilha de Oahu.
Apesar de parecer chocante, a classe de lagartas carnívoras já era conhecida pelos estudiosos, tratando-se de uma raridade evolutiva. Elas ficam abrigadas em teias de aranhas em troncos e pedras, de modo que se alimentam dos insetos e outros artrópodes capturados. Segundo David Wagner, entomologista da Universidade de Connecticut, a relação de dependência da lagarta para com a seda da aranha é uma das mais improváveis do mundo animal.
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Daniel Rubinoff, entomologista da Universidade do Havaí e um dos autores do estudo, descobriu a espécie coletora de ossos ainda em 2008. Ela é extremamente difícil de ser encontrada, contando apenas com 62 indivíduos registrados. Os especialistas categorizam a lagarta como pertencente ao gênero Hyposmocoma, que é a fase larval de pequenas mariposas do Havaí.
Antes de emergirem como mariposa, as lagartas tecem um casulo de seda móvel, que elas permanecem carregando até se tornarem adultas. Esse é um comportamento relativamente comum em alguns animais, que muitas vezes “enfeitam” a sua casa com pedaços de madeira ou algo a fim de ampliar a camuflagem.
Porém, diferente de outras espécies, a coletora de ossos recebeu esse nome por colar em seu próprio casulo pedaços de insetos mortos. Cientistas puderam identificar pelo menos seis diferentes tipos de animais aglutinados na lagarta, como besouros e carunchos. Além disso, também observaram exoesqueletos que haviam sido deixados por aracnídeos como parte da “decoração” da casa.
A espécie também surpreende por ser seletiva na hora de escolher sua armadura de ossos.
“Essas lagartas são capazes de discernir diferenças entre objetos em seu ambiente”, disse Rubinoff.
Por fim, essas lagartas carnívoras precisam manter a cautela pois, uma vez hospedadas nas teias de aranhas, também correm risco de serem perturbadas pelos colegas aracnídeos. David Wagner acredita que a “vestimenta zumbi” da lagarta possa ajudá-la a passar despercebida, já que não foi identificado nenhum ataque de aranhas contra a espécie.