Partido Democrático, principal sigla da oposição, escolhe Elly Schlein para se contrapor à premiê ultradireitista Giorgia Meloni. Ela trabalhou nas campanhas de Barack Obama e é bissexual e defensora dos direitos LGBTQ+.A legenda de centro-esquerda italiana Partido Democrático (PD) elegeu pela primeira vez em sua história uma mulher como líder, com o objetivo de tentar dar nova energia à agremiação, em meio à ascensão da ultradireita no país.

Elly Schlein, de 37 anos, é também a líder mais jovem na história do partido progressista pró-Europa, que vem atravessando uma crise de identidade agravada pela ascensão ao poder da ultradireitista Giorgia Meloni e seu partido Irmãos de Itália, no ano passado.

Ela será a líder da oposição no Parlamento, o que faz com que esta também seja a primeira vez em que os principais partidos políticos italianos serão representados por mulheres. Schlein e Meloni possuem visões antagônicas em uma série de temas.

A premiê ultradireitista se coloca como uma defensora dos valores tradicionais da família e da Igreja Católica, também no que diz respeito ao sexo e ao aborto. Schlein, por sua vez, é bissexual e atua na defesa da igualdade de gêneros e dos diretos LGBTQ+.

A esquerdista derrotou nas eleições internas do PD neste domingo (26/02) o favorito Stefano Bonaccini, governador da região da Emilia-Romagna, por 53,8% a 46,2%. Antes da divulgação dos dados oficiais, o partido afirmou que em torno de um milhão de eleitores participaram da votação, o que indica a pior taxa de abstenção já registrada nas votações internas da legenda.

“O povo democrata está vivo e pronto para se levantar. Este é um mandato claro por mudanças reais”, disse Schlein, após a vitória no domingo. “Colocaremos no centro das atenções a batalha contra todo tipo de desigualdade e precariedade.”

Difícil tarefa de unir a esquerda

Apesar de prometer um novo começo para seu partido, muitas das figuras tradicionais do PD declararam apoio à candidatura de Schlein nas últimas semanas.

Com a vitória, ela assume a tarefa monumental de unir o partido e curar as feridas, além de enfrentar o bloco conservador de Meloni nas próximas eleições nacionais, em 2027.

Schlein vai suceder o ex-primeiro-ministro Enrico Letta, líder do partido desde 2021, que renunciou após as eleições gerais de setembro. O pleito resultou na ascensão de Meloni e sua coalizão de direita ao poder.

O PD, abalado por uma esquerda fragmentada e pela campanha fraca nas eleições, na qual fracassou em atrair eleitores, ficou com apenas 19% dos votos, contra 26% do Irmãos de Itália.

Uma pesquisa conduzida entre 15 e 21 de fevereiro afirma que o PD possui 16,9% da preferência do eleitorado, bem abaixo dos 31,1% registrados em favor do partido de Meloni, e atrás de outra legenda de ultradireita, o Movimento Cinco Estrelas (M5S), com 17,2%.

Os eleitores relataram que o PD perdeu sua tradicional ligação com a classe trabalhadora e fracassou ao apresentar um apelo forte ao eleitorado no pleito de setembro do ano passado.

Colaboradora na campanha de Obama

Schlein nasceu em Lugano, na região de língua italiana da Suíça. Seu pai é um americano de ancestralidade judaica e ucraniana, e sua mãe, italiana. Ela é formada em direito pela Universidade de Bologna.

Em 2008, ela deixou a Itália para trabalhar na campanha eleitoral do presidente americano Barack Obama e, mais tarde, na campanha pela sua reeleição.

A esquerdista foi eleita para o Parlamento Europeu em 2014 e se tornou vice-governadora da Elimia-Romagna em 2020, antes de se eleger para a Câmara dos Deputados em 2022.

Schlein não costuma dar declarações sobre sua vida pessoal, mas revelou em uma entrevista em 2020 que era bissexual e estava em um relacionamento com uma mulher.

O jornal esquerdista italiano Domani afirmou que Schlein oferece um “modelo de liderança feminina radicalmente diferente do de Giorgia Meloni”, que se definiu durante a campanha como uma mãe cristã.

rc/bl (AFP, Reuters)