Uma praia brasileira banhada por um mar de gelo. Pode parecer estranho, mas ela existe na ilha do Rei George, na Antártida. O local onde fica a Estação Antártica Comandante Ferraz, base brasileira de pesquisa no continente gelado, é considerado território nacional. As novas instalações da base vão ser inauguradas em janeiro de 2020. O governo federal investiu cerca de US$ 100 milhões na construção da unidade, que recebeu os equipamentos mais modernos do mundo e foi ampliada. O capitão de fragata Luiz Filho, chefe da estação, diz que “é uma honra ter esta estação sendo construída em nosso território e certamente ela vai servir de modelo para outros países”.

Ocupando uma área de 4.500 metros quadrados, ela poderá hospedar 64 pessoas. A nova estação vai ser mais moderna e maior do que anterior. Antigamente havia cinco laboratórios, número que vai passar para 17 depois da reinauguração. Cientistas da Fiocruz vão ter um laboratório exclusivo de microbiologia para pesquisar fungos que só existem na Antártida. A Agência Internacional de Energia Atômica também já confirmou que vai desenvolver projetos no local. Além disso, a estação está adaptada para receber pesquisadores das áreas de oceanografia, glaciologia e meteorologia.

Cena do entorno da estação: condições climáticas difíceis. Crédito: Maurício de Almeida/TV Brasil

Faltando quase dois meses para a reinauguração, uma equipe da Marinha, que coordena a obra, visitou a estação de pesquisa a fim de fazer os ajustes finais. A vistoria foi coordenada pelo contra-almirante Sérgio Guida, gerente do Programa Antártico Brasileiro. Ele percorreu toda a unidade e ficou satisfeito com o que encontrou. “A obra está dentro do cronograma e certamente ficará pronta na data prevista”, revelou.

LEIA TAMBÉM: Base brasileira na Antártida está mais perto com nova conexão de internet

Estrutura elevada

O projeto arquitetônico da estação impressiona no meio do gelo antártico. Algumas medidas foram tomadas para adaptar a base às condições climáticas do local. Para ficar acima da densa camada de neve que se forma no inverno, o prédio recebeu uma estrutura elevada. Os pilares de sustentação pesam até 70 toneladas e deixam o centro de pesquisa a mais de três metros do solo.

A estação também oferece conforto. Os quartos, com duas camas e banheiros, lembram acomodações de um hotel. Eles vão abrigar pesquisadores e militares. A estação também tem uma sala de vídeo, locais para reuniões, academia de ginástica, cozinha e um ambulatório para emergências.

Sala de ginástica: um dos confortos para os ocupantes da base. Crédito: Maurício de Almeida/TV Brasil

Uma das maiores preocupações é com a segurança. Por isso, entre todas as unidades da base foram instaladas portas corta-fogo e também foram colocados sensores de fumaça e alarmes de incêndio. Nas salas onde ficam máquinas e geradores, as paredes são feitas de um material ultrarresistente. No caso de um incêndio, elas conseguem suportar o fogo durante duas horas e não permitem que ele se espalhe por outros locais. Esse tempo possibilita acionar o esquadrão anti-incêndio e retirar as pessoas da estação em segurança.

A nova base Comandante Ferraz também foi construída com objetivo de reduzir ao máximo a agressão ao meio ambiente. Da energia consumida no centro de pesquisa, 30% vem de fontes renováveis produzidas no local. Atrás da estação fica uma usina eólica que aproveita os fortes ventos antárticos. Placas para captar energia solar também foram instaladas na base e vão gerar energia principalmente no verão, quando o sol na Antártida brilha mais de 20 horas por dia.

Eliminação do diesel

Outro detalhe é que o calor produzido pelos geradores de energia, em vez de ser lançado para o ar, é canalizado para aquecer a usina. Essa técnica elimina a utilização de diesel para alimentar o sistema de climatização. A novidade foi elogiada pelo contra-almirante Sérgio Guida: “A Antártida é um patrimônio da humanidade que precisa ser preservado, e o Brasil está dando uma lição de sustentabilidade para o mundo”.

Turbina eólica: 30% da energia consumida na estação terá origem em fontes renováveis. Crédito: Maurício de Almeida/TV Brasil

O projeto de reconstrução da estação começou a ser executado em 2017. A empresa responsável pela obra é a China Electronics Import and Export Corporation, que precisou dividir o trabalho em três etapas porque só é possível fazer qualquer tipo de serviço externo na Antártida durante o verão. Entre abril e outubro, os fortes ventos, as nevascas constantes e a temperatura (que pode chegar a 40 graus negativos) inviabilizam qualquer tipo de atividade. Para driblar o problema, os chineses adotaram a seguinte estratégia: construir os módulos na China no inverno e transportar e instalar na Antártida nos verões de 2017, 2018 e 2019.

Antes da reinauguração da estação de pesquisa, a Base Comandante Ferraz já ganhou um novo sistema de comunicação. A empresa Oi instalou antenas para facilitar a transmissão de dados. Os equipamentos permitem conexão direta com internet, chamadas de vídeo e a realização de videoconferências.

 

* O repórter viajou a convite da Marinha do Brasil