A população de moais, as características estátuas de figuras humanas da Ilha de Páscoa (Rapa Nui, território chileno no Pacífico Oriental), ainda não é totalmente conhecida, sugere uma descoberta feita em fevereiro: o leito de um lago seco na ilha ocultava uma dessas esculturas, de porte relativamente pequeno. O anúncio do achado foi feito por Salvador Atan Hito, vice-presidente da Ma’u Henua, organização indígena que supervisiona o parque nacional da ilha. A rede de TV americana ABC News foi a primeira a divulgar a descoberta.

Há mais de 900 moais na Ilha de Páscoa, com tamanhos bem diversos. O mais alto supera 10 metros de altura. O peso médio é de 3 a 5 toneladas; as estátuas mais pesadas podem pesar até 80 toneladas.

“Os moais são importantes porque realmente representam a história do povo Rapa Nui”, disse Terry Hunt, professor de arqueologia da Universidade do Arizona (EUA), à ABC. “Eles eram os ancestrais divinizados dos ilhéus. Eles são icônicos em todo o mundo e realmente representam o fantástico patrimônio arqueológico desta ilha.”

O moai descoberto em fevereiro. Crédito: Ma’u Henua

Mudanças climáticas

Embora o moai recém-descoberto seja menor do que a média, sua descoberta é a primeira feita em um leito de lago seco. Foram as mudanças no clima da região que favoreceram o achado: o lago ao redor da escultura havia secado.

Segundo explicado pela Ma’u Henua em um comunicado, a descoberta foi feita por “uma equipe de voluntários científicos da Universidade do Chile, Universidade Andrés Bello e Universidade O’Higgins, que estão colaborando com a Ma’u Henua e a Conaf (Corporação Nacional Florestal do Chile) como resultado do incêndio que ocorreu no Rano Raraku [vulcão extinto onde as estátuas eram feitas] em 4 de outubro.”

Os pesquisadores relataram a descoberta do possível moai na cratera do Rano Raraku em 20 de fevereiro. Depois disso, a Unidade de Patrimônio e Conservação Ma’u Henua inspecionou o terreno e fez o laudo arqueológico, “observando que esse vestígio está localizado dentro da lagoa/zona úmida da cratera”.

Segundo um estudo publicado na revista PLOS ONE, o lago desapareceu entre 2018 e 2021. Se as condições secas persistirem, é possível que mais moais atualmente desconhecidos possam aparecer.

Achado singular

“Eles foram ocultos pelos juncos altos que crescem no leito do lago, e a prospecção com algo que pode detectar o que está sob a superfície do solo pode nos dizer que, de fato, há mais moais nos sedimentos do leito do lago”, afirmou Hunt. “Quando há um moai no lago, provavelmente há mais.”

“Este moai tem um alto potencial de estudo científico e natural, é um achado muito singular, pois é a primeira descoberta de um moai dentro da lagoa da cratera do Rano Raraku, algo nunca visto”, informa o comunicado da Ma’u Henua. “Seu estudo poderia gerar outra perspectiva da história que conhecemos e como nossos ancestrais usaram esse assentamento e recursos culturais, bem como as transformações ideológicas e rituais ao longo do tempo, que dependeram estritamente das mudanças ambientais/climáticas em Rapa Nui, as quais afetaram diretamente essa zona úmida, que sofreu alterações ao longo dos anos, passando por períodos de seca e alagamento.”

A organização acrescentou: “(…) torna-se muito relevante o levantamento da tradição oral, dos nossos sábios (…) que, através da sua história e cantos ancestrais, podem proporcionar um melhor e maior conhecimento sobre este extraordinário achado”.