Hanover e Frankfurt terão pontos de venda onde participantes do programa poderão adquirir cannabis. Objetivo é analisar comportamento dos usuários e embasar cientificamente futuras políticas nacionais sobre drogas.As cidades alemãs de Hanover e Frankfurt realizarão projetos pioneiros na Alemanha para a distribuição controlada de maconha em pontos de venda. O projeto de cinco anos de duração será acompanhado de um estudo científico realizado pela Escola Superior de Medicina de Hanover juntamente com a Universidade de Ciências Aplicadas de Frankfurt.

Em Hanover, o programa deverá ter aproximadamente 4.000 participantes em idade adulta que devem estar dispostos a tomar parte regularmente na pesquisa científica. Todos eles receberão identidades com carteiras de identificação com pseudônimos que poderão ser utilizadas somente para adquirir o produto nos pontos de venda.

Essa identificação – ou um código QR na embalagem – servirá para assegurar a distribuição legal do produto. Quem repassar a quantidade adquirida a terceiros será imediatamente eliminado do projeto.

Os funcionários nos pontos de venda serão treinados para oferecer aconselhamento aos usuários. Em caso de comportamentos abusivos por parte dos consumidores, os funcionários poderão intervir para evitar o agravamento da dependência.

A prefeitura de Hanover informou nesta quarta-feira (31/10) que as vendas estão programadas para começarem no inicio de 2025.

Análise comportamental dos usuários

Frankfurt terá um modelo de projeto semelhante, onde voluntários registrados poderão comprar cannabis e outros produtos contendo o princípio ativo da droga, o tetrahidrocanabinol, em lojas especializadas por um período de cinco anos.

Todos os participantes deverão ser moradores de Frankfurt, ter acima de 18 anos e estar em boas condições de saúde, além de participar em pesquisas e exames físicos regulares. O estudo será supervisionado por um especialista.

O público geral não poderá adquirir maconha nesses pontos de venda. Mulheres grávidas ou em fase de amamentação, pessoas com problemas mentais e menores de idade estão proibidos de participar. A supervisão científica do estudo estará a cargo do médico da Universidade de Ciências Aplicadas de Frankfurt, Heino Stöver.

Os estudos visam fornecer informações dobre o comportamento dos usuários, os efeitos da maconha sobre a saúde, além de coibir o mercado ilegal. As duas cidades também terão projetos para melhorar a proteção aos jovens

As pesquisas deverão fornecer informações sobre os efeitos da comercialização legal da maconha e a frequência de consumo. “Queremos nos distanciar de presunções e do debate ideológico”, afirmou Sylvia Bruns, diretora do Departamento de Temas Socias de Hanover.

Base para futura política de drogas

“Os dados coletados pelo estudo podem formar uma importante base para a criação de uma política de drogas voltada para o futuro”, afirmou a professora da Escola Superior de Medicina de Hanover, Kirsten Müller-Vahl.

A cidade de Wiesbaden já iniciou um projeto semelhante, com a distribuição de maconha ocorrendo em farmácias.

As duas entidades parceiras do programa trabalham em conjunto com a empresa Sanity Group, sediada em Berlim, especializada na utilização cannabis medicinal. A empresa opera desde 2023 dois pontos de distribuição como parte de um estudo semelhante na Suíça, e recentemente coletou amostras de cannabis vendida no mercado negro em 30 cidades alemãs.

Uso recreativo legalizado

O consumo de maconha foi parcialmente legalizado na Alemanha em abril deste ano. O governo decidiu liberar o consumo e o plantio de cannabis sob o argumento de que a antiga política de drogas atingiu o seu limite.

Desde de 1º de abril, maiores de 18 anos podem portar até 25 gramas de maconha. Essa quantidade equivale a entre 50 e 100 baseados. Além disso, maiores de idade também poderão cultivar até três plantas, desde que destinadas ao uso pessoal, e armazenar até 50 gramas da erva seca dentro de casa.

Apesar da proibição anterior da compra e da posse, o consumo da droga triplicou nos últimos 30 anos, de acordo com dados do Centro Alemão para Questões de Dependência. O mercado ilegal está associado ainda a um risco maior para a saúde, já que não se sabe o teor de THC da maconha traficada ou se há aditivos tóxicos ou impurezas que não podem ser avaliados pelo consumidor, alega a entidade.

A nova lei define que todos os adultos poderão manter até 50 gramas de cannabis em casa e carregar até 25 gramas.

rc (DPA, ots)