As garrafas de vidro que contêm água, refrigerantes, cerveja ou vinho contêm mais microplásticos do que o equivalente em garrafas de plástico, segundo estudo de resultado surpreendente publicado nesta sexta-feira (20) pela agência francesa de segurança alimentar.

Os pesquisadores têm detectado os minúsculos pedaços de plástico, em sua maioria invisíveis, em todo mundo: do ar que respiramos até a comida que consumimos, assim como dentro do corpo humano.

Embora não existam provas diretas de que a presença em larga escala de plástico seja prejudicial à saúde humana, a constatação abre um novo campo de pesquisa.

Guillaume Duflos, diretor de pesquisas da agência francesa de segurança alimentar ANSES, disse à AFP que o objetivo era “investigar a quantidade de microplásticos em diferentes tipos de bebidas vendidas na França e examinar o impacto dos diferentes tipos de embalagens”.

Os cientistas encontraram, em média, quase 100 partículas de microplásticos por litro em garrafas de vidro de refrigerantes, limonada, chá gelado e cerveja.

O resultado representa entre cinco e 50 vezes mais do que a taxa detectada em garrafas de plástico ou latas de metal.

“Esperávamos o resultado oposto”, disse à AFP a estudante de doutorado Iseline Chaib, que participou do estudo.

As amostras detectadas apareceram principalmente nas tampas das embalagens.

“Detectamos que, no vidro, as partículas detectadas tinham a mesma forma, cor e composição de polímero – portanto, o mesmo plástico – que a tinta na parte exterior das tampas que fecham as garrafas de vidro”, explicou.

A tinta nas tampas também apresentava “pequenos arranhões, invisíveis a olho nu, provavelmente devido à fricção entre as tampas quando estavam armazenadas”, destacou a equipe de pesquisadores.

No caso da água, tanto natural quanto mineral, a quantidade de microplásticos era relativamente baixa em todos os casos: entre 4,5 partículas por litro nas garrafas de vidro e 1,6 partícula nas garrafas de plástico.

O vinho também continha poucos microplásticos, mesmo em garrafas de vidro com tampas.

Duflos afirmou que a razão da discrepância “ainda precisa ser explicada”. Os refrigerantes, no entanto, continham quase 30 microplásticos por litro, a limonada 40 e a cerveja cerca de 60.

Por não existir um nível de referência para uma quantidade potencialmente tóxica de microplásticos, atualmente não é possível afirmar se estes números representam um risco para a saúde, indicou a ANSES.

Contudo, os fabricantes de bebidas poderiam reduzir facilmente a quantidade de microplásticos liberados pelas tampas das garrafas, acrescentou.

A agência testou um método de limpeza que envolvia soprar as tampas com ar, depois enxaguá-las com água e álcool, o que reduziu a contaminação em 60%.

O estudo publicado pela ANSES foi publicado no mês passado no site do Journal of Food Composition and Analysis.