01/04/2025 - 15:14
Um estudo publicado na revista científica “Icarus” e liderado por um pesquisador da Unesp (Universidade Estadual Paulista) apontou que existem indícios da existência de um nono planeta no Sistema Solar. Na pesquisa, que contou com a participação de cientistas dos EUA e da França, foi estudada a influência do eventual “Planeta-9” na órbita de corpos celestes que ficam além de Netuno.
Conforme o estudo, o corpo celeste exerceria uma força gravitacional nos objetos posicionados no Cinturão de Kuiper — disco de cometas, asteroides e planetas anões — e na Nuvem de Oort. “Esse tipo de fenômeno ajudou a descobrir outros planetas do Sistema Solar, como Netuno e Urano”, pontuou Rafael Ribeiro de Sousa, da Unesp, em declaração divulgada pela universidade, acrescentando que a influência de um astro em outros é algo que “conhecemos na Física”. “Por isso, conseguimos fazer previsões bastante refinadas”.
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A suspeita da existência de um nono planeta surgiu em 1846, quando astrônomos acreditavam que algum astro poderia influenciar as órbitas de Urano e Netuno. Apesar da descoberta de Plutão, em 1930, foi constatado que não poderiam ser atribuídos a ele os efeitos observados nos outros corpos celestes do Sistema Solar.
Segundo a pesquisa, o hipotético Planeta-9 deve estar localizado além do Cinturão de Kuiper, em uma região fria, externa e longe do Sol, seguindo uma órbita que possivelmente está a uma distância 600 vezes maior da estrela do que a Terra.
Para identificar o nono planeta visualmente, os astrônomos tentam encontrar as características do astro, como seu tamanho, trajetória, tempo necessário para percorrer sua órbita e tipo de influência gravitacional exercida. Os detalhes permitem que os cientistas apontem seus telescópios para a região do espaço onde o corpo celeste estaria localizado a fim de observá-lo.
Com a evolução das técnicas astronômicas, foram descobertos seis objetos transnetunianos — que estão além de Netuno — entre 2004 e 2013. A análise das órbitas destes astros indicou que todos parecem apontar para a mesma direção, como se sentissem os efeitos gravitacionais de outro corpo celeste.
A suposição é de que o nono planeta tenha uma órbita longa, levando dez mil anos para completar uma volta no sol. Ainda, a distância da estrela faz com que a luz refletida pelo astro seja de baixa intensidade, dificultando a sua observação.
Simulação do Sistema Solar
Na pesquisa liderada pelo pesquisador da Unesp, foi conduzido um experimento de simulação da história dos astros do Sistema Solar durante 4,5 bilhões de anos com o hipotético Planeta-9 incluído. O modelo demonstrou que a presença do corpo celeste resultava na formação do Cinturão de Kuiper e da Nuvem de Oort, além de uma segunda nuvem que funcionaria como um “reservatório”.
Ainda, foram calculadas as órbitas de cometas que surgiram a partir desses “reservatórios”, com um olhar mais atento sobre quatro objetos que possuem dez quilômetros de diâmetro e levam menos de 20 anos para completar suas órbitas. Os astros que surgiram no experimento que contou com a presença do nono planeta existem no Sistema Solar.
“Descobrimos que houve um ‘match’, uma coincidência. Nossas simulações foram consistentes com as observações das órbitas dos cometas”, afirmou Sousa. “Produzimos uma estimativa sobre o número de cometas com mais de dez quilômetros de diâmetro que seriam produzidos, e comparamos com os cerca de quatro já observados. Sem a presença do ‘Planeta-9’ na simulação, o número não chega a um. Com ele, pode chegar a 3,6 — o que é muito mais próximo da realidade”, acrescentou o pesquisador.
Para que a evolução do Sistema Solar e a formação de cometas fosse compatível com a realidade, o grupo descobriu que o nono planeta deve ter 7,5 massas terrestres, sendo menor que Urano. Agora, os astrônomos pretendem refinar a simulação para identificar mais objetos transnetunianos.