03/12/2025 - 15:40
Por que nos lembramos com clareza de onde estávamos durante um evento traumático, mas esquecemos o que almoçamos na terça-feira passada? Um novo estudo publicado na revista científica Science Advances oferece uma resposta inédita: o cérebro utiliza eventos emocionais como uma “âncora” para estabilizar e resgatar memórias que, de outra forma, seriam descartadas.
A descoberta: o cérebro não grava tudo passivamente; ele seleciona o que guardar baseando-se na relevância emocional;
O mecanismo: memórias “fracas” ou banais podem ser salvas do esquecimento se ocorrerem próximas a eventos de forte impacto emocional;
Tecnologia: pesquisadores utilizaram Inteligência Artificial para analisar grandes conjuntos de dados de memória;
Aplicação: a descoberta abre portas para novos métodos de ensino e tratamentos para Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).
Conduzida por cientistas da Universidade de Boston (EUA), a pesquisa desafia a visão antiga de que a memória funciona como um arquivo linear. Segundo Chenyang Lin, um dos autores do artigo, foi possível provar pela primeira vez que o cérebro resgata memórias fracas “de forma gradual, guiando-se por sua grande semelhança com eventos emocionais”.
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O efeito da emoção na memória
O estudo sugere que episódios triviais do cotidiano se tornam memoráveis se ocorrem logo antes ou depois de um momento de grande carga afetiva — seja alegria intensa ou medo.
“A memória não é apenas um dispositivo de gravação passivo. O cérebro decide o que é importante ou não. Por isso, acontecimentos emocionais podem ‘estabilizar memórias frágeis’, fazendo com que elas sejam mais facilmente lembradas”, explica Robert Reinhart, coautor do estudo.
Para chegar a essa conclusão, a equipe realizou testes com 650 participantes, mostrando dezenas de imagens em sequências variadas. Os dados foram processados por algoritmos de Inteligência Artificial, que identificaram um padrão claro: as imagens neutras apresentadas em conexão temporal com imagens emocionalmente carregadas tinham taxas de retenção significativamente maiores.
Impacto na educação e na saúde mental
As implicações práticas da descoberta são vastas. No campo educacional, professores poderiam utilizar materiais emocionalmente envolventes (como narrativas ou vídeos impactantes) para ajudar os alunos a reterem conceitos complexos ou “chatos”, que normalmente seriam esquecidos rapidamente.
Na saúde mental, o entendimento desse mecanismo é crucial para tratar o TEPT. Muitas vezes, pacientes com trauma sofrem ao lembrar de detalhes irrelevantes que estavam presentes no momento do evento estressante. Compreender como o cérebro “amarra” essas memórias pode ajudar a desenvolver terapias para desvincular o trauma dos gatilhos cotidianos.
