28/08/2025 - 15:42
Um estudo publicado na revista científica “PNAS” em 4 de agosto indicou que uma enzima exclusiva dos seres humanos pode ter ajudado a espécie a ter mais eficiência na busca por água e consequentemente mais sucesso na sobrevivência do que os neandertais e denisovanos, que foram extintos.
Há cerca de 600 mil anos, os seres humanos se separaram geneticamente da linhagem que levou ao surgimento de neandertais e denisovanos, os parentes mais próximos ao Homo sapiens na árvore genealógica da evolução. Em algum momento após a divergência, uma enzima chamada de adenilosuccinato liase, ou ADSL, evoluiu de maneira diferente na nossa espécie. As informações são da “CNN Science”.
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A cadeia da enzima tem 484 aminoácidos e um, na posição 429, chamado de alanina, foi substituído por valina no Homo sapiens. Apesar de ser uma pequena diferença, a mudança levou a um ADSL que apenas os seres humanos possuem.
A enzima é um dos componentes necessários para a produção de purina, um bloco de construção do DNA e do RNA. A ausência de ADSL em seres humanos pode levar a comportamentos de hiperatividade ou agressividade.
Conforme estudos anteriores, a variação do ADSL em seres humanos torna a enzima menos eficaz e menos estável na produção de purina, fazendo com que certas moléculas de proteína se acumulem no cérebro. A versão do ADSL em neandertais e denisovanos era mais eficiente na síntese das moléculas.
Para entender como isso poderia alterar o comportamento, pesquisadores do estudo publicado na “PNAS” conduziram experimentos com roedores. Alguns dos animais foram modificados geneticamente com uma versão menos eficiente do ADSL que emula a enzima humana.
Os cientistas restringiram gradualmente o acesso a água dos camundongos ao longo de 12 dias. Posteriormente, o líquido foi disponibilizado aos animais com sinais de luz e som. Ao fim dos testes, foi constatado que ratos fêmeas com a variante do ADSL presente em humanos visitavam mais vezes a área em que a água era distribuída quando estavam com sede do que as cobaias que não foram alteradas geneticamente.
A hipótese dos pesquisadores é de que, em seres humanos, a variação menos eficiente da enzima tinha um impacto positivo no acesso à água, aumentando a competitividade do Homo sapiens na disputa por recursos limitados em ambientes instáveis.
Uma segunda linha de investigação analisou um conjunto de variantes genéticas presente em ao menos 97% dos humanos atuais que torna a ADSL ainda menos eficiente na expressão de RNA.
Segundo Ingrida Domarkienė, pesquisadora sênior do departamento de genética humana e médica da Universidade de Vilnius, na Lituânia, existem cerca de 80 variantes de aminoácidos entre seres humanos e neandertais. Além disso, a especialista, que não participou do estudo, ressaltou que Homo sapiens não são camundongos e as novas descobertas não conseguem, por si só, explicar o comportamento da nossa espécie.
Ainda não há certeza sobre como a ADSL influencia o cérebro humano ou por qual razão as mudanças na enzima em roedores afetou apenas as fêmeas. Para Ingrida, as variações genéticas combinadas com outros fatores, como ambiente, inteligência, resistência a doenças e estrutura social, moldaram o sucesso do Homo sapiens.