Advertências de Trump e envio de aparato militar para a região alimentam especulações de que os Estados Unidos consideram se juntar à ofensiva israelense contra o Irã.Assim que Israel iniciou sua ofensiva contra o Irã, na última sexta-feira (13/06), os Estados Unidos correram para negar envolvimento nos ataques, que miram instalações nucleares e militares da república islâmica. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou no mesmo dia que Israel tomou medidas “unilaterais”, e o presidente Donald Trump defendeu uma saída diplomática, dizendo acreditar nas negociações nucleares em curso entre Teerã e Washington.

Em menos de uma semana, essa postura mudou. Na terça-feira (17/06), Trump escreveu em sua rede social que os EUA sabem a localização exata do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. “Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá – não vamos tirá-lo de lá (matá-lo!), pelo menos não por enquanto”, ameaçou.

As especulações sobre uma intervenção americana no conflito cresceram na segunda, quando o presidente saiu abruptamente da cúpula do G7, no Canadá, para discutir o conflito com o Conselho de Segurança Nacional americano. “Não estou com muita vontade de negociar com o Irã”, disse aos repórteres a bordo do Air Force One.

De volta a Washington, o presidente postou mensagem em que exigia “rendição incondicional” do Irã.

Israel tem pressionado Trump para que se envolva mais ativamente em sua campanha para desmantelar as instalações nucleares do Irã, muitas delas construídas no subsolo. Segundo autoridades envolvidas nas negociações, Israel conta com armas e aviões americanos para atingir esses alvos de difícil acesso.

Na terça, o vice-presidente americano, J.D. Vance, deu um dos sinais mais claros até o momento de que Trump considera o chamado de Israel. Ele postou no X que o presidente “pode decidir que precisa tomar medidas adicionais para acabar com o enriquecimento de urânio do Irã”. “Essa decisão, em última instância, pertence ao presidente”, complementou.

Segundo relatam jornais americanos, as opções em cima da mesa incluem a utilização de bombas norte-americanas de alta potência, conhecidas como “destruidoras de bunkers”, contra a instalação nuclear iraniana de Fordo, construída debaixo de uma montanha.

Segundo apuração do The New York Times, Donald Trump também poderá enviar aviões-tanque para permitir que os aviões de guerra israelenses realizem missões de longo alcance.

Esmail Baghaei, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, alertou que qualquer intervenção americana seria “uma receita para uma guerra total na região”, em entrevista ao site em inglês da Al Jazeera. Ele também sugeriu que o Irã permanece aberto a uma solução negociada. “A diplomacia nunca acaba.”

Sinais de cooperação

Membros do governo americano insistem que não tomaram decisão sobre qualquer intervenção, que as forças armadas não participaram ativamente do embate até o momento, e que os ataques realizados foram defensivos, para derrubar mísseis iranianos e proteger Israel e as bases americanas.

Mas o governo americano demonstrou sua disposição em atuar do lado de Israel desde que as tensões entre os dois rivais se acirraram. Os EUA determinaram o redirecionamento do porta-aviões USS Nimitz, que estava no Mar da China Meridional, para o Oriente Médio. A previsão é que ele chegue até o fim do mês.

Enquanto isso, o porta-aviões USS Carl Vinson está no Mar da Arábia com mais quatro navios de guerra, como parte da defesa de Israel, posicionados para fornecer segurança às tropas e bases dos EUA ao longo do Golfo de Omã e do Golfo Pérsico.

Aeronaves americanas também foram deslocadas para a região. “Agora temos controle total e completo dos céus do Irã”, escreveu Trump em sua rede social. “O Irã tinha bons rastreadores de céu e outros equipamentos defensivos, muitos deles, mas não se comparam às ‘coisas’ feitas, concebidas e fabricadas pelos americanos. Ninguém faz isso melhor do que o bom e velho EUA.”

A Aurora Intel, grupo que analisa informações de sites públicos de rastreamento de aviões, informou que a Força Aérea dos EUA posicionou mais aeronaves de reabastecimento e caças em locais estratégicos na Europa, incluindo Inglaterra, Espanha, Alemanha e Grécia.

Os militares americanos na região estão em alerta máximo, com precauções adicionais de segurança. Há cerca de 40 mil soldados americanos baseados no Oriente Médio – esse número chegou a 43 mil em outubro, em resposta ao aumento das tensões entre Israel e Irã e aos contínuos ataques a navios comerciais no Mar Vermelho pelos houtis, apoiados pelo Irã no Iêmen.

Conflito se intensifica

A mídia iraniana relatou várias explosões na terça-feira na cidade central de Isfahan, que abriga instalações nucleares.

Áreas residenciais de ambos os países sofreram ataques mortais desde o início dos combates. Israel alega que seus ataques mataram o comandante iraniano Ali Shadmani e seu antecessor, Gholam Ali Rashid, entre outros generais e cientistas envolvidos no programa nuclear.

O conflito inviabilizou uma série de negociações nucleares entre Teerã e Washington, com o Irã dizendo que não negociaria mais com os Estados Unidos enquanto estivesse sob ataque.

O presidente francês Emmanuel Macron disse que Trump tinha um papel fundamental a desempenhar no reinício da diplomacia com o Irã, onde as tentativas de mudança de regime trariam o “caos”.

Desde sexta-feira, pelo menos 24 pessoas foram mortas em Israel e centenas ficaram feridas, de acordo com o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O Irã disse no domingo que os ataques israelenses mataram pelo menos 224 pessoas, incluindo comandantes militares, cientistas nucleares e civis.

sf (AFP, AP, Lusa, ots)