Sanções afetam atual secretário do Ministério da Saúde e o coordenador para a COP30, acusados pelo secretário de Estado americano de fomentarem “esquema de trabalho forçado do regime cubano”.O Departamento de Estado dos EUA tomou medidas para revogar vistos de dois brasileiros responsáveis pela implementação do programa Mais Médicos no Brasil, entre eles, o atual secretário de Atenção Especializada à Saúde do governo federal.

O secretário de Estado americano, Marco Rubio, acusou os funcionários de serem cúmplices de um “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano” devido à contratação de profissionais de saúde de Cuba durante os primeiros anos do programa no Brasil.

“O Mais Médicos foi um golpe diplomático inaceitável de ‘missões médicas’ estrangeiras”, disse ele em publicação no X nesta quarta-feira (13/08).

Foram revogados os vistos de Mozart Julio Tabosa Sales e Alberto Kleiman. Seus familiares também ficaram proibidos de entrar nos EUA.

Tabosa Sales era secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde quando o programa foi lançado pelo governo de Dilma Rousseff, em 2013.

Hoje, é secretário de Atenção Especializada à Saúde no governo federal. Ele se tornou o primeiro funcionário do governo Lula a ser diretamente sancionado pela Casa Branca.

Já Kleiman atuava como assessor internacional da Saúde e posteriormente assumiu cargo na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), escritório regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) responsável por mediar a parceria do governo brasileiro com Cuba.

Em 2024, Kleiman ocupou o cargo de diretor de Relações Internacionais e Parcerias da Presidência da República e, em 2025, se tornou coordenador para a Conferência do Clima da ONU, a COP30, por meio da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

EUA acusam exploração

O convênio entre Brasil e Cuba se manteve entre 2013 e 2018. À época, o objetivo do programa era ampliar o acesso à saúde levando médicos a regiões onde havia escassez de profissionais. As vagas que não fossem ocupadas por brasileiros seriam preenchidas por médicos de outros países, a maioria, cubanos.

“Como parte do programa Mais Médicos do Brasil, esses funcionários usaram a OPAS como intermediária com a ditadura cubana para implementar o programa sem seguir os requisitos constitucionais brasileiros, burlando as sanções dos EUA contra Cuba e pagando conscientemente ao regime cubano o que era devido aos médicos cubanos”, disse o Departamento de Estado em um comunicado.

“Dezenas de médicos cubanos que participaram do programa relataram ter sido explorados pelo regime cubano como parte da iniciativa”, concluiu.

Programa foi alvo de críticas

Na última década, o programa foi alvo de polêmicas, reformas e desmontes. Ao ser lançado, o Mais Médicos foi duramente criticado pela categoria, que refutava o argumento sobre falta de profissionais de saúde no país.

Associações do setor também criticavam a possibilidade de médicos cubanos atuarem no Brasil sem a revalidação do diploma e sem a exigência de conhecimentos elevados da língua portuguesa.

Em 2018, o governo cubano se retirou da parceria após o então presidente eleito Jair Bolsonaro sugerir que faria modificações no programa no ano seguinte. Para Havana, os termos colocados pelo futuro governo não eram aceitáveis.

Na ocasião, Bolsonaro também defendeu que os médicos cubanos estavam sujeitos a trabalho escravo no Brasil e alterou o escopo do programa.

O Mais Médicos foi retomado com o antigo nome, mas sob um novo modelo, durante o atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Casa Branca mira missões médicas cubanas

A medida foi anunciada como parte de um esforço mais amplo da Casa Branca contra missões médicas cubanas que, segundo os EUA, exploram profissionais da saúde com trabalho forçado.

Em junho, restrições de visto também foram aplicadas a funcionários de governos da América Central. Quatro meses antes, o governo americano já havia mirado autoridades cubanas envolvidas nos programas de envio de profissionais ao exterior.

Nesta quarta-feira, Rubio confirmou que nacionais de países africanos, além de Cuba e Granada também foram sancionados, sem citar os nomes dos funcionários afetados.

Os Estados Unidos e Cuba mantêm uma relação conflituosa desde que Fidel Castro (1926-2016) assumiu o poder em 1959. Um embargo comercial dos EUA está em vigor há décadas.

Rubio, ex-senador dos EUA e filho de imigrantes cubanos que foram para o estado americano da Flórida nos anos 1950, sempre se opôs a uma relação mais próxima com Havana.

Desde que assumiu o cargo, ele tem sinalizado uma postura mais dura contra o país caribenho, revertendo uma tentativa do governo do ex-presidente americano Joe Biden de aliviar as sanções contra Cuba.

Eduardo Bolsonaro comemora novas sanções

Nesta quarta-feira, o deputado federal e filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, afirmou que o anúncio de Rubio “reforça o compromisso da administração Trump em conter e punir regimes autoritários”.

O parlamentar faz repetidas reuniões com membros da Casa Branca em busca de sanções contra autoridades brasileiras. “A medida é também um recado inequívoco: nem ministros, nem burocratas dos escalões inferiores, nem seus familiares estão imunes”, disse ele.

Além dos dois funcionários da Saúde, ministros do STF e seus familiares também já tiveram seus vistos revogados pelos EUA.

gq (OTS, Reuters)