06/06/2025 - 11:50
Insatisfeito com o governo Trump, funcionário da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA teria oferecido segredos de Estado ao serviço secreto alemão em troca de cidadania. Homem arrisca pena de morte.Um cidadão americano que trabalhava como especialista em cibersegurança na Agência de Inteligência de Defesa (DIA), órgão das Forças Armadas dos Estados Unidos, foi preso em flagrante no final de maio sob a acusação de tentar repassar segredos de Estado a um “governo amigo” que o teria delatado. Segundo a imprensa alemã e o jornal americano Washington Post, esse país era a Alemanha.
Nathan L.*, 28 anos, teria oferecido informações classificadas altamente sensíveis num email endereçado em março ao Serviço Federal de Inteligência da Alemanha (BND), informaram as emissoras públicas alemãs WDR, NDR e o jornal alemão Sueddeutsche Zeitung. Na correspondência, ele teria dito agir por insatisfação com o governo do presidente americano Donald Trump.
O técnico não teria sido específico em sua crítica a Trump, mas o presidente certamente preocupou setores do país com uma onda de demissões no funcionalismo público que atingiu também as agências de inteligência e serviço secreto, bem como o FBI (a polícia federal dos EUA).
“As mais recentes medidas do atual governo me inquietam profundamente”, teria escrito Nathan, segundo um relatório do FBI. “Eu não concordo ou me alinho aos valores desta administração e pretendo agir para apoiar os valores que os Estados Unidos um dia representaram (…). Para isso, estou disposto a compartilhar informações classificadas às quais tenho acesso.”
Mas em vez de se deixar seduzir pela oferta, o BND aparentemente optou por reportar o caso aos americanos – com quem os alemães mantêm, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, uma estreita cooperação em matéria de segurança, e de cujas informações de inteligência a Alemanha frequentemente depende.
Agente infiltrado do FBI teria se passado por representante da Alemanha
Uma vez notificadas, as autoridades americanas puseram Nathan em contato com um agente infiltrado do FBI que se fez passar por um representante do “governo amigo” – termo usado pelo Departamento de Justiça americano, que não revelou a qual país o homem teria feito a oferta.
Para provar que realmente tinha informações valiosas, L. teria anexado à correspondência uma foto de seu crachá funcional – não sem antes apagar sua foto e nome. Imagens em poder das autoridades americanas mostrariam o técnico supostamente fazendo anotações num papel em frente ao computador do trabalho, escondendo-as nas meias e contrabandeando-as depois para fora do DIA.
As autoridades americanas afirmam ainda que Nathan teria entregue um pendrive com nove documentos classificados como secretos ou ultrassecretos.
Indagado sobre como gostaria de ser recompensado pelos serviços, o rapaz teria dito ao agente do FBI infiltrado desejar obter a “cidadania do seu país” – um passaporte alemão –, já que ele não esperava que “as coisas aqui melhorem tão cedo”.
Segundo o procurador assistente que atua no processo contra Nathan, Gordon D. Kromberg, o caso dele pode ser punido até com pena de morte ou prisão perpétua.
Serviço secreto alemão não confirma nem desmente a história
Procurado, o BND não confirmou nem desmentiu a história, alegando não se pronunciar publicamente “sobre assuntos que dizem respeito a eventuais informações ou atividades de inteligência”, segundo nota citada pela WDR. Tais avaliações, afirmou o porta-voz, são feitas principalmente em relatórios ao governo e em reuniões sigilosas dos comitês do Parlamento alemão.
Para o governo alemão, o episódio pode ter sido uma chance valiosa de melhorar as relações com os americanos. Apesar de, oficialmente, nada ter mudado até agora na cooperação entre as forças de segurança dos dois países, fontes do governo alemão citadas pela WDR dizem que a cooperação anda prejudicada. Um dos exemplos citados foi a dissolução súbita de uma unidade especial americana que mantinha contato regular com os alemães e era responsável por impor sanções à Rússia.
A Alemanha, que recebe muitos alertas dos EUA sobre possíveis ameaças à segurança do país, teme as consequências de um eventual estancamento desse fluxo de informações – não à toa, já que Washington responde por 76% das atividades de inteligência dentro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Desde que voltou à Casa Branca, em janeiro deste ano, o governo de Donald Trump já deu sinais de que pode deixar a inteligência alemã no escuro. Recentemente, o representante do Partido Republicano no comitê de serviço secreto do Senado, Tom Cotton, defendeu que os EUA deixem de encaminhar informações a Berlim, principalmente aquelas que sirvam para monitorar eventuais ilegalidades dentro do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD).
*A DW segue o Código de Imprensa alemão, segundo o qual o nome completo de suspeitos de crimes não deve ser divulgado, a não ser em casos específicos de interesse público.
ra (ots)