Em carta a Donald Trump, 11 congressistas democratas acusam presidente de favorecer interesses pessoais e indicam riscos da medida para a economia americana.Senadores americanos do partido Democrata criticaram as sobretaxas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra o Brasil. Em carta endereçada ao republicano, onze congressistas chamaram a medida de “abuso de poder”, uma vez que não se trata de corrigir um déficit comercial, como ocorre nas negociações com outros países.

“Os Estados Unidos e o Brasil têm questões comerciais legítimas que devem ser discutidas e negociadas. No entanto, a ameaça de tarifas feita por sua administração claramente não tem esse objetivo. Tampouco se trata de um déficit comercial bilateral”, diz a carta. Segundo o Comitê de Relações Exteriores do Senado americano, o texto foi enviado nesta sexta-feira (25/07) à Casa Branca, mas assinado no dia anterior.

Os senadores também acusam Trump de priorizar sua agenda pessoal em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro e em detrimento dos interesses do povo americano.

“Interferir no sistema jurídico de outra nação soberana cria um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação”, afirma o texto, sobre a tentativa de pressionar a Justiça brasileira contra a condenação de Bolsonaro.

“Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses processos em favor de um amigo constitui um grave abuso de poder, enfraquece a influência dos EUA no Brasil e pode comprometer nossos interesses mais amplos na região”, continuam os congressistas.

O texto foi liderado por Tim Kaine, senador do estado da Virgínia que pautou e aprovou uma resolução no Senado para encerrar as tarifas americanas contra o Canadá.

Custo interno e aproximação com a China

Em outro trecho da carta, o grupo argumenta que as sobretaxas contra produtos brasileiros afetarão 130 mil empregos nos EUA sustentados pelo comércio com o Brasil e subirão preços de produtos como o café.

Para os senadores, a guerra comercial contribui para fortalecer os laços do Brasil com a China “em um momento em que os EUA precisam agir de forma agressiva para conter a influência chinesa na América Latina”.

EUA preparam arcabouço legal

Segundo reportagem publicada pela Bloomberg News, os EUA agora procuram formas de criar um arcabouço legal para justificar as tarifas de 50% impostas contra o Brasil.

Diferente de outros países afetados pelas medidas de Trump, o Brasil não possui superávit comercial na relação com os EUA.

Agora, a Casa Branca estaria preparando uma declaração de emergência, normalmente usada para impor sanções ou medidas tarifárias em situações de emergência nacional, para enquadrar a sanção contra produtos brasileiros.

Em visita a Osasco, em São Paulo, nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a cobrar da Casa Branca espaço para negociação. Segundo ele, seu vice, Geraldo Alckmin, procura o governo americano diariamente, mas não é recebido.

Alckmin chegou a se reunir com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, em uma conversa reservada no último sábado. Em entrevista ao Estadão, o vice-presidente disse ter destacado o interesse em ampliar investimentos e relações bilaterais do governo brasileiro, mas não conversou com o americano sobre a situação jurídica de Bolsonaro.

gq (OTS)