Na Dinamarca, a partir de 2040, a aposentadoria será possível apenas aos 70 anos de idade. Medida é debatida também entre governantes da Alemanha, que sofre com envelhecimento da população.À medida que a vida profissional se aproxima do fim, muitas pessoas que ainda estão empregadas e, assim, prestes a se aposentar, enfrentam uma série de questionamentos: a aposentadoria será suficiente ou ainda será necessário seguir trabalhando? A pobreza na velhice é uma ameaça?

A Dinamarca busca sanar o problema com uma medida que não é exatamente original e que pode provocar conflitos: com 81 votos a favor e 21 contra, o parlamento aprovou uma lei que eleva a idade da aposentadoria para 70 anos, a partir de 2040, para todos os cidadãos nascidos após 31 de dezembro de 1970. Antes, até 2030, a idade mínima, que atualmente é de 67 anos, subirá para 68 anos, e até 2035, para 69.

Antes disso, no ano passado, a social-democrata e primeira-ministra Mette Frederiksen, de 47 anos, havia dito que estava disposta a rever o sistema assim que a idade de aposentadoria atingisse 70 anos.

O gráfico abaixo mostra como a idade oficial de aposentadoria varia de país para país na comparação internacional. Vale ressaltar, porém, que em muitos países as pessoas seguem trabalhando mesmo depois disso.

Modelo para a Alemanha?

O novo governo alemão ainda está tentando descobrir como lidar com os problemas do sistema de previdência, e muitos detalhes ainda estão em debate.

Na conferência estadual do partido conservador União Democrata Cristã (CDU) em Stuttgart, o chanceler federal, Friedrich Merz, comentou que “muitas coisas corretas foram escritas no acordo de coalizão”. Mas um dos pontos que o acordo deixou em aberto é justamente o futuro do sistema de seguridade social. “Da forma como está hoje, ele só poderá permanecer por mais alguns anos, na melhor das hipóteses”, reconheceu o chanceler.

Fato é que há uma necessidade fundamental de reforma dos sistemas de previdência, saúde e seguro assistencial para o longo prazo.

Na semana passada, o economista e ex-assessor do governo alemão Bernd Raffelhüschen defendeu que a Alemanha copiasse o modelo dinamarquês: “Deveríamos aumentar a idade de aposentadoria para 70 anos rapidamente para que possamos pegar ao menos alguns dos baby boomers”, declarou ao jornal Augsburger Allgemeine Zeitung.

Raffelhüschen argumentou que, até 2035, a Alemanha perde a cada ano um milhão de trabalhadores que se aposentam, o que faz aumentar as contribuições previdenciárias para os mais jovens.

Beveridge vs. Bismarck

Quando se fala em financiamento de sistemas previdenciários, há basicamente duas escolas, que recebem o nome de seus teóricos ou idealizadores: a legislação social criada pelo então chanceler federal alemão Otto von Bismarck, no século 19, e o modelo Beveridge, formulado na década de 1940.

Esse último é um sistema de bem-estar social que abrange toda a população e é financiado pela receita tributária. Baseia-se nos cálculos do economista britânico William Henry Beveridge, que era membro do grupo liberal do parlamento do Reino Unido na época.

O modelo britânico contrasta com o de Bismarck, que prevê um sistema de seguro no qual trabalhadores e empregadores alimentam um fundo. Em termos simples, é um modelo de pagamento por meio de rateio, no qual a população ativa financia as aposentadorias dos que não estão mais trabalhando.

No entanto, comparar os sistemas previdenciários na Europa só é possível até certo ponto, pois vários países têm uma mistura dos modelos de Bismarck e Beveridge. Além disso, os detalhes, às vezes muito específicos e complicados, diferem de país para país.

A questão demográfica

O princípio bismarckiano aplicado na Alemanha esbarra num problema cada vez mais evidente: o envelhecimento da população. O número de pessoas na ativa, que contribuem para a seguridade social, não aumenta na proporção necessária para cobrir os gastos com o número cada vez maior de aposentados. Além disso, os contribuintes estão vivendo mais devido ao aumento da expectativa de vida – ou seja, demandam pagamentos previdenciários por mais tempo.

O resultado disso são fundos de pensão cada vez mais sobrecarregados. Como consequência, ou as contribuições terão que continuar aumentando, ou as pensões não poderão mais ser reajustadas para compensar a inflação – ou, ainda, o nível geral da pensão cairá.

Trabalhar por mais tempo

É claro que a perspectiva de aposentar-se mais cedo é tentadora. Às vezes, é preciso parar antes que o corpo fique incapaz de lidar com as demandas. O “último terço da vida” pode ser também um momento para fazer atividades específicas e individualmente gratificantes, ao mesmo tempo em que se passa mais tempo com a família.

E isso também influencia a economia: pessoas com mais tempo também têm mais oportunidades de gastar dinheiro – desde que a aposentadoria seja suficiente. Isso poderia incentivar o consumo privado, o que, por sua vez, beneficiaria a economia.

Mas trabalhar por mais tempo também pode ter suas vantagens. Há os que, na faixa dos 60 anos, ainda se sentem em forma e apreciam o trabalho. São pessoas que buscam passar sua experiência e conhecimentos adiante e manter contato com os mais jovens, o que beneficia empregadores. E isso também pode atenuar, pelo menos um pouco, a escassez de mão de obra qualificada.

Às vezes mais cedo, às vezes mais tarde

As estatísticas apontam que a idade legal da aposentadoria só corresponde ao fim da vida profissional de fato em pouquíssimos casos, já que a maioria se aposenta mais cedo. Isso pode ocorrer porque o corpo simplesmente não responde mais como deveria ou por esgotamento, que ocorre principalmente entre profissionais do ramo criativo.

Em alguns países, as pessoas trabalham além da idade da aposentadoria, como na Nova Zelândia ou no Japão, também na Suécia e na Grécia. Mas fazem isso por vontade própria? As razões são tão particulares, em alguns casos, que não podem ser representadas em estatísticas.

Equilíbrio social

Algumas condições estruturais, no entanto, poderiam ser alteradas. Por exemplo, a taxa de reposição bruta — o percentual do valor do benefício em relação ao último salário — é um fato importante na hora de decidir em qual momento se aposentar. Se essa diferença for muito grande, algumas pessoas não podem se dar ao luxo de parar de trabalhar.

A pobreza na velhice poderia ser evitada se o nível da pensão fosse ajustado para ser suficiente para fornecer ganhos adequados após uma longa vida de trabalho. Mas isso custa alto, um dinheiro que não está disponível no fundo de pensão. Por outro lado, aumentar o valor das contribuições dos que estão na ativa comprometeria a capacidade deles de economizar para a própria aposentadoria.