23/11/2025 - 18:05
Ucranianos, europeus e americanos discutem em Genebra proposta para acabar com invasão russa. Kiev exige maiores garantias de segurança contra futura agressão de Moscou.A Ucrânia e seus aliados europeus apresentaram neste domingo (23/11) uma versão revisada do plano de paz elaborado pelos Estados Unidos para encerrar a invasão russa a territórios ucranianos.
As revisões contestam os limites que os EUA haviam imposto às Forças Armadas de Kiev e concessões territoriais, de acordo com um documento visto pela agência de notícias Reuters.
O plano americano exigia, por exemplo, que a Ucrânia abrisse mão de parte de suas armas de longo alcance e cedesse territórios controlados pela Rússia, dando a Moscou um controle sem precedentes sobre a soberania militar e política do país.
A contraproposta, preparada para negociações que acontecem em Genebra, permitiria que a Ucrânia mantivesse até 800 mil soldados em tempos de paz, em vez do limite integral de 600 mil sugerido no plano original dos EUA.
O rascunho europeu diz que a Ucrânia se comprometeria a não tentar recuperar áreas ocupadas por meios militares, com negociações sobre acordos territoriais partindo da linha de contato existente.
O documento afirma que a possível adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) depende de consenso total entre os membros da aliança, o que, segundo ele, não existe atualmente. Também define que a Aliança Transatlântica não estacionaria permanentemente tropas sob seu comando na Ucrânia durante tempos de paz.
Contudo, na proposta europeia a Ucrânia receberia uma garantia de segurança dos EUA que reflete o Artigo 5 da Otan, que estipula que um ataque a um membro da aliança é considerado um ataque a todos.
O plano também prevê que Kiev seja compensada financeiramente, inclusive por meio de ativos soberanos russos congelados, que permaneceriam bloqueados até que a Rússia indenize a Ucrânia pelos danos da guerra.
Também diz que a Ucrânia deve realizar eleições nacionais o mais rápido possível após a assinatura de um acordo de paz.
Falando à DW, após a cúpula do G20 em Joanesburgo, o chanceler federal alemão Friedrich Merz disse que a Europa rejeita pontos apresentados pelos EUA que afetam a soberania ucraniana. “Eu tive uma ligação com o presidente Trump antes de deixar o país. Eu disse a ele que poderíamos concordar com alguns pontos, mas há outros com os quais não podemos concordar, e eu disse a ele que estamos totalmente alinhados com a Ucrânia”, afirmou.
“Não sabemos qual pode ser o resultado dessas negociações. No fim das contas, a soberania da Ucrânia não pode ser questionada.”
Trump critica falta de “gratidão” da Ucrânia
As negociações acontecem em meio a atritos entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelenski.
Nas redes sociais, o americano alegou que a liderança ucraniana “não expressou gratidão” pelos esforços da Casa Branca de elaborar um plano de paz. “Enquanto a Europa continua a comprar petróleo da Rússia, os EUA seguem vendendo massivas quantias de armas para a Otan para distribuição à Ucrânia”, disse.
Trump se referia à reação inicial de Zelenski ao plano americano, amplamente considerado como favorável à Rússia. Na sexta-feira, o ucraniano afirmara que a proposta de Washington exigia a Kiev escolher entre perder a dignidade ou perder um parceiro essencial.
Após as publicações de Trump, porém, Zelenski mudou o tom. “A Ucrânia é grata aos Estados Unidos, a cada coração americano, e pessoalmente ao presidente Trump pela ajuda que vem salvando vidas ucranianas”, publicou.
Negociadores elogiam avanços
Segundo negociadores ucranianos, as negociações em Genebra já levaram a alterações no plano de paz que o colocam mais próximo dos desejos de Kiev.
O representante da Ucrânia Rustem Umerov disse que a versão mais recente do texto incorpora demandas da Ucrânia. “A versão atual do documento, embora ainda esteja nos estágios finais de aprovação, já reflete a maioria das prioridades fundamentais da Ucrânia”, disse.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, também argumentou que os ajustes no polêmico plano de paz de 28 pontos de Trump avançaram.
“Temos um produto de trabalho muito bom que já foi construído com base nas contribuições de todas as partes envolvidas”, disse Rubio durante uma breve aparição diante da imprensa.
Trump deu à Ucrânia até 27 de novembro, quando os EUA celebram o Dia de Ação de Graças, para aprovar o plano, mas também sinalizou que pode haver alguma flexibilidade no prazo.
Rubio descreveu as negociações em Genebra como “o encontro mais produtivo e significativo” sobre o conflito ucraniano desde que o governo Trump se envolveu nos esforços para encerrar a guerra iniciada pela Rússia em 2022.
gq (DP, DW, OTS)
