13/11/2025 - 10:44
Governos europeus saem em defesa da lei internacional após dois meses de ataques a supostas narcolanchas. Reino Unido teria limitado compartilhamento de inteligência.Governos da Europa vêm reagindo criticamente aos dois meses de ataques pelos Estados Unidos (EUA) a supostas embarcações do narcotráfico na costa latino-americana. Para analistas, o gesto de aliados americanos manda uma importante mensagem política, mesmo que não garanta a amenização da tensão militar instalada no Mar do Caribe.
A França condenou na terça-feira (11/11) as operações militares comandadas pelo chefe da Casa Branca, Donald Trump , na sua autoproclamada guerra ao narcotráfico. Durante reunião do G7, o ministro do Exterior francês, Jean-Noël Barrot, ressaltou que os ataques ignoram as leis internacionais.
Dias antes, durante uma cúpula de alto nível na Colômbia, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, pediu o fortalecimento da unidade entre a América Latina e a União Europeia em defesa do direito internacional. A fala foi interpretada como referência implícita à tensão corrente.
Enquanto isso, fontes britânicas citadas pela emissora de televisão CNN afirmam que o Reino Unido decidiu deixar de compartilhar informações de inteligência que poderiam servir aos ataques americanos no Caribe. O objetivo seria evitar que o governo britânico se torne cúmplice de ações ilegais.
Quase ao mesmo tempo, a Colômbia adotou a mesma decisão. Em outubro, os EUA aplicaram sanções contra o presidente Gustavo Petro, alegando que o mandatário falhou no combate ao tráfico de drogas.
Importância simbólica
O explícito posicionamento sobre os ataques por altos níveis de governos europeus são tidos como simbolicamente importantes por analistas ouvidos pela DW.
“O que podemos estar vendo é uma distância demarcada destas ações, que demonstram que, também a nível político, não só a nível da comunidade de direitos humanos, há um rechaço dela”, diz Carolina Jiménez, presidente do Escritório de Washington para a América Latina (WOLA, na sigla em inglês).
A alegada decisão britânica seria um particular ponto de atenção para a Casa Branca, num possível sinal de que um eventual fortalecimento da ofensiva militar americana não será bem recebido. “EUA e Reino Unido são muito próximos em matéria militar e de inteligência e mantém um diálogo jurídico sólido e franco,” explica o antropólogo Brian Finucane, do Programa dos Estados Unidos da organização International Crisis Group.
Outros países poderiam ainda seguir o exemplo do Reino Unido e restringir sua cooperação militar ou em matéria de inteligência se considerarem as operações americanas ilegais, afirma o especialista.
Sinais de ameaça
O papel da Europa pode ser ainda mais relevante, dado que os Estados Unidos vêm enviando sinais de ameaça. O envio do porta-aviões USS Gerald Ford para as águas do Caribe acendeu um alerta na região.
A moderna embarcação transporta mais aviões de guerra do que quase todos os países da América Latina e um número de aeronaves próximo ao da Venezuela, principal alvo da hostilidade americana.
“A chegada de um porta-aviões com tecnologia tão avançada e que representa, sem dúvida, um grande ativo militar para os Estados Unidos não é um simples gesto: demonstra a clara disposição deste governo de ampliar a ameaça. A grande questão é por que ele está lá. Não há justificativa em termos de combate ao narcotráfico”, afirma Jiménez.
Não existem evidências de que o governo americano planeje uma intervenção militar na Venezuela , para além do envio de equipamento militar ao Caribe. A ofensiva, entretanto, vem levantando especulações entre observadores políticos e na população.
