Reunidos em Londres com Zelenski, líderes europeus e de países da aliança militar Otan querem ajudar Kiev a retomar negociações com Trump e apaziguar americano após bate-boca na Casa Branca.O Reino Unido e a França, as duas potências nucleares da União Europeia, estão encabeçando uma “coalizão dos dispostos” a garantir a paz na Ucrânia – isto é, defendendo-a militarmente com tropas e armamentos –, anunciou neste domingo (02/03) o premiê britânico Keir Starmer, após reunião em Londres com lideranças de 18 países.

A coalizão entraria em cena após a assinatura de um cessar-fogo apoiado pelos americanos. Deste modo, os europeus querem desencorajar novos ataques russos contra a Ucrânia, transformando-a em um “porco-espinho de aço indigesto para potenciais invasores”, nas palavras da chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

“Nosso ponto de partida deve ser colocar a Ucrânia na posição mais forte possível agora, para que eles possam negociar a partir de uma posição de força, e estamos reforçando nosso apoio”, disse Starmer ao final da reunião. “Os que estiverem dispostos [a aderir à coalizão] vão intensificar seus planejamentos agora com verdadeira urgência.”

Participaram das discussões governantes europeus e do Canadá e da Turquia, além do chefe da aliança militar Otan, Mark Rutte, e do presidente ucraniano Volodimir Zelenski.

O encontro já estava planejado, mas ganhou caráter de urgência após a implosão de um acordo para exploração de terras raras ucranianas pelos Estados Unidos. A proposta é encampada pelo governo de Donald Trump como solução para o fim da guerra na Ucrânia.

O tratado deveria ter sido assinado na sexta-feira, mas acabou suspenso após Trump e seu vice, JD Vance, baterem boca com Zelenski e o acusarem de ingratidão. A insistência dele em garantias de segurança irritou Trump, que o despachou da Casa Branca e disse que só voltaria a conversar quando ele “estiver pronto para a paz”.

Segundo Starmer, o Reino Unido está “preparado” para ser o fiador da paz na Ucrânia “com botas no terreno e aviões no ar, junto com outros [países]”. O britânico, porém, frisou que embora a Europa tenha que dar conta da parte mais difícil desse trabalho, a paz no continente depende de um apoio sólido dos Estados Unidos – a quem os europeus agora tentarão convencer.

“Rearmar a Europa”

Von der Leyen disse que a União Europeia precisa “se preparar para o pior” e defendeu aumentar o “espaço fiscal” para manter elevados investimentos em defesa por “um período prolongado de tempo”. O bloco encaminhará um plano em 6 de março para “rearmar urgentemente a Europa”.

Assim como outros líderes europeus, von der Leyen defendeu que a Ucrânia precisa de “garantias abrangentes de segurança”. Segundo ela, a UE está pronta para “defender, junto com os EUA, a democracia e o princípio de que há um Estado de Direito, que não se pode invadir […] e atordoar vizinhos ou mudar fronteiras à força”.

O chanceler federal alemão Olaf Scholz, que deve ceder o cargo nos próximos meses para o conservador Friedrich Merz, também defendeu a autonomia ucraniana, posicionando-se contra um veto da Rússia à entrada de Kiev na UE. Segundo Scholz, também não cabe à Rússia condicionar a paz à desmilitarização do país.

A Alemanha, que acabou de sair de uma eleição, até agora vinha evitando a discussão sobre o envio de tropas alemãs à Ucrânia. O assunto era considerado delicado, e os conservadores, que venceram o pleito descartaram a ideia durante a campanha. Resta saber se eles mudarão de ideia agora.

Starmer reconheceu que será preciso envolver Moscou num acordo de cessar-fogo, mas frisou que, diante de seu histórico de desrespeito a acordos, Vladimir Putin não deveria poder ditar quais garantias serão oferecidas à Ucrânia.

Ele justificou o apoio europeu à Ucrânia como necessário à estabilidade e segurança do próprio Reino Unido e de todo o continente. “O caminho para garantir estabilidade é garantir que somos capazes de defender um acordo na Ucrânia. Porque tem uma coisa que nossa história nos ensina: se há conflito na Europa, ele surgirá em nosso litoral.”

Além do empréstimo de 2,26 bilhões de libras esterlinas (R$ 16,75 bilhões) à Ucrânia anunciado no sábado, Starmer prometeu mais 1,6 bilhão de libras esterlinas em financiamento para compra de “mais de 5 mil mísseis de defesa aérea” de fabricação britânica.

O anúncio deste domingo deve implicar no aumento de gastos com Defesa num contexto de arrocho fiscal, possivelmente demandando cortes em outras áreas, como gastos com assistência social, educação e investimentos em infraestrutura.

ra (dpa, ots)