11/12/2025 - 15:18
Arqueólogos identificaram a evidência mais antiga já registrada de um fogo produzido por grupos humanos no interior de Suffolk, no leste da Inglaterra. Escondido por 400 mil anos em Barnham, a descoberta data de muito antes do que qualquer outro vestígio conhecido.
Entre os sinais estão a presença de um solo avermelhado que funcionava como uma lareira e machados de sílex, ferramenta pré-histórica feita de rochas, fragmentados pela ação de chamas. Além disso, foram encontrados dois pequenos pedaços de pirita, mineral que produz faíscas quando golpeado contra uma pedra.
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Para a equipe do British Museum, responsável pelo estudo publicado na Nature, esse conjunto revela que os humanos primitivos, muito provavelmente neandertais, eram capazes de fazer e manter fogueiras.
“Este é um sítio de 400 mil anos onde temos as primeiras evidências de produção de fogo, não apenas na Grã-Bretanha ou na Europa, mas, na verdade, em qualquer outro lugar do mundo”, disse Nick Ashton, curador de coleções do Paleolítico no Museu Britânico, em uma coletiva de imprensa.
A importância da descoberta
A capacidade de acender uma fogueira é um marco histórico que permitiu uma transformação no modo de vida dos humanos. Foi o fogo que permitiu aquecer o corpo, afastar predadores, iluminar as noites e cozinhar alimentos, processos diretamente ligados ao desenvolvimento do cérebro humano.
O fogo também foi responsável por reorganizar a vida social. A luz permitiu prolongar as atividades, aprimorar ferramentas e criar um ambiente comunitário e de convivência, segundo pesquisadores.
Até agora, os exemplos mais antigos de fogo produzido intencionalmente vinham da França e eram 350 mil anos mais novos. Outros locais, como Israel, Quênia e África do Sul, apresentam vestígios ainda mais antigos, datados entre 800 mil e mais de 1 milhão de anos, mas sem a confirmação de que não foram incêndios naturais.
A novidade de Barnham é justamente essa: há indícios de repetição e controle técnico. Ashton observou, porém, que é improvável que essa habilidade tenha surgido no local pela primeira vez. “Acho que muitos de nós suspeitávamos que havia uso regular de fogo na Europa há cerca de 400 mil anos. Mas não tínhamos evidências”, disse.
As provas do estudo
A pirita encontrada no sítio é a chave para diferenciar uma fogueira natural de uma fogueira feita por humanos, segundo o estudo. O mineral não existe na região onde o acampamento estava localizado, o que significa que alguém teve que trazê-lo, provavelmente porque sabia que, ao ser golpeado contra o sílex, poderia produzir faíscas.
Para confirmar a origem do fogo, a equipe também analisou os sedimentos avermelhados. Com isso, constataram que as propriedades químicas indicavam altas temperaturas e queimadas localizadas incompatíveis com as encontradas em incêndios naturais de grande escala. Alterações minerais nos solos também apontam para episódios repetidos de queima, o que indicia o uso contínuo do local como fogueira.
Nenhum osso humano foi encontrado, mas o período histórico estimado aponta para grupos de Neandertais que habitaram a região durante o mesmo período a cerca de 130 quilômetros dali, em Swanscombe, Kent. Na época, a Grã-Bretanha estava ligada à Europa por uma ponte de terra, o que facilitava e permitia deslocamentos.
“Um dos aspectos interessantes agora é usar as técnicas que demonstraram a produção de fogo em Barnham e ver se, ao analisarmos outros sítios em mais detalhes, conseguimos encontrar o mesmo em outros locais na Grã-Bretanha, na Europa, talvez até além”, disse Stringer.
