18/11/2015 - 15:29
Como dotar uma criança de uma sólida noção de certo e errado? Uma pesquisa recente da Universidade de Chicago (EUA) mostra que o desafio começa com os pais: sua sensibilidade aos sentimentos alheios e à injustiça pode influenciar bem cedo a evolução moral dos filhos.
Os neurocientistas Jean Decety e Jason Cowell testaram em laboratório 73 bebês de um ano de idade para saber como eles reagiam a situações relativas à moral. Antes dos testes, os pais responderam a questões sobre seus valores a respeito de empatia, justiça e equidade, o temperamento de seus filhos e informações demográficas gerais.
As crianças viram animações em que quatro personagens exibiam comportamentos pró-sociais (como ajudar e compartilhar) ou antissociais (como empurrar e derrubar). Enquanto isso, Decety e Cowell mediam seus padrões de ondas cerebrais por eletroencefalograma e registravam os movimentos dos seus olhos. Depois, os pesquisadores deram às crianças brinquedos que representavam os personagens “bons” e os “maus” das animações e anotaram quais elas preferiam, a partir dos movimentos que faziam. O exercício seguinte foi propor-lhes um jogo de compartilhamento: cada uma delas recebeu dois brinquedos e alguém aparecia pedindo para brincar também com um deles.
Os cientistas notaram que os padrões cerebrais das crianças variavam enquanto elas observavam os comportamentos pró-sociais e antissociais, e que elas acompanhavam por mais tempo os personagens pró-sociais, o que combinava com estudos anteriores. O número de bebês que “escolheram” personagens com comportamento pró-social para brincar foi quase igual ao dos que optaram pelos outros. Os primeiros, porém, exibiram um padrão cerebral diferente, previsível pela sensibilidade dos pais à justiça. Para Decety, esse padrão indica que as crianças não apenas prestavam atenção ao que se passava, mas avaliavam as situações. Os pesquisadores supõem que isso tenha raízes genéticas e biológicas, ou talvez combine a herança dos genes e o ambiente social da criança.
Os cientistas notaram ainda uma correlação entre índices mais elevados de empatia cognitiva dos pais (a capacidade de ver as coisas pela perspectiva alheia), índices mais altos de autorregulação dos bebês (a capacidade de acalmar-se sozinhos) e maior facilidade em compartilhar brinquedos no jogo. A explicação para isso também pode ser genética, social ou uma combinação desses fatores, acreditam Decety e Cowell. “Se queremos que nossas crianças sejam sensíveis à justiça (…) e se se revela que a forma como as conduzimos ou cuidamos delas pode afetar seu senso de justiça desde muito cedo, então vamos prestar mais atenção nisso”, diz Decety.