07/12/2025 - 12:47
Alfredo Díaz, de 55 anos, foi preso em novembro de 2024 após questionar reeleição de Maduro. Processado por “terrorismo”, ele aguardava julgamento em local que funcionaria como “centro de tortura”.Um ex-governador crítico ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela e processado por “terrorismo” e “incitação ao ódio” morreu neste sábado (06/12) na prisão.
A informação foi divulgada por representantes de organizações de direitos humanos e confirmada pelo Ministério do Serviço Penitenciário, que atribuiu a morte a um infarto.
Alfredo Díaz, que governou Nova Esparta de 2017 a 2021, havia sido preso em novembro de 2024 em meio à crise deflagrada após a contestada reeleição de Maduro . Ele havia questionado a falta de transparência em relação à divulgação dos resultados do pleito e denunciara, dias antes de ser preso, a crise elétrica em Nova Esparta – fruto, segundo Caracas, de ataques da oposição.
Uma nota divulgada pela administração penitenciária venezuelana afirma que Díaz, de 55 anos, teria sido “imediatamente” encaminhado para atendimento médico ao manifestar “sintomas compatíveis com um infarto do miocárdio”, e que morreu minutos após ser transferido para o Hospital Universitário de Caracas.
“Centro de tortura”
Segundo Alfredo Romero, diretor da ONG Foro Penal, que defende presos políticos, Díaz só teria tido autorizada uma única visita da filha na prisão.
Ele estava detido em El Helicoide, a sede do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), em Caracas. A oposição venezuelana e ativistas de direitos humanos afirmam que o local é um “centro de tortura”.
Segundo o advogado Gonzalo Himiob, do Foro Penal, ele ainda aguardava julgamento. “Fomos designados por sua família como representantes legais, mas o governo lhe impôs um defensor público”, afirmou.
Em nota, o ministério penitenciário disse que Díaz estava sendo processado “com plena garantia de seus direitos” e com “respeito dos direitos humanos”.
Segundo Romero, 17 presos políticos morreram sob custódia do Estado venezuelano desde 2014 – destes, ao menos seis eram opositores mortos desde novembro de 2024, presos na esteira dos protestos pós-reeleição.
“Quem assume a responsabilidade por isso e pelas outras mortes que ocorreram?”, indagou Romero.
O Foro Penal afirma que o país mantém encarcerados pelo menos 887 presos políticos. “A repressão basicamente se converteu em um mecanismo ou estratégia do regime para intimidar”, disse Romero.
A líder da oposição venezuela María Corina Machado, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz , disse que a morte de Díaz “se soma a uma alarmante e dolorosa cadeia de falecimentos de presos políticos detidos no contexto da repressão pós-eleições”.
“As circunstâncias dessas mortes – que incluem a negação de atendimento médico, condições desumanas, isolamento e torturas, tratamento cruel, desumano e degradante – revela um padrão consistente de repressão estatal”, disse Machado em nota coassinada por Edmundo González Urrutia, apontado pela oposição como vitorioso do pleito de 2024 e que hoje vive no exílio .
Os protestos contra a reeleição de Maduro resultaram na morte de 28 pessoas e detenção de outras cerca de 2,4 mil, a maioria acusados de “terrorismo” – destes, aproximadamente 2 mil foram soltos desde então.
ra (AFP, EFE)
