02/12/2020 - 16:42
As plaquetas são essenciais para a coagulação. A presença no sangue de sua forma não madura pode ser um indicador precoce de que o paciente do coronavírus necessitará de terapia intensiva, conclui estudo internacional.Ainda não se sabe por que a infecção com o vírus Sars-Cov-2 transcorre para muitos branda ou assintomática, enquanto para outros representa perigo de vida. Nesses casos, costuma ocorrer uma reação inflamatória mal direcionada do organismo, atingindo os pulmões, por vezes também o coração ou os rins. Muitas vezes, os capilares são danificados e se formam coágulos em excesso no pulmão. Essa é a causa de morte mais frequente nos quadros clínicos graves.
Pesquisadores do grupo PMI Precision Medicine in Chronic Inflammation (Medicina de precisão em inflamações crônicas), uma equipe de cientistas de faculdades e centros de pesquisa da Alemanha e Holanda, encontraram megacariócitos no sangue de pacientes de covid-19, um indício que pode servir como alerta precoce para um curso patológico grave.
Essas “protocélulas imaturas” dos trombócitos ou plaquetas normalmente se localizam na medula espinhal, onde amadurecem até se transformarem nas células que desempenham um papel central na coagulação sanguínea. No entanto, no decorrer de uma intoxicação sanguínea, eles podem ser liberados na corrente.
“Conhecemos tais inundações de protocélulas no sangue nos pacientes graves, por exemplo, de sépsis bacterial”, explica um dos autores do estudo, Florian Tran, do Instituto de Biologia Molecular Clínica da Universidade de Kiel. O fato poderia indicar que as células não maduras são o que desencadeia os perigosos processos de coagulação.
Antecipando-se à covid
A equipe teuto-holandesa encontrou, ainda, nas amostras, hemácias imaturas. Essas células vermelhas, que normalmente também amadurecem na medula, são responsáveis pelo transporte de oxigênio no sangue. Seu excesso aponta para uma falta de oxigenação, uma reação de emergência usual do organismo em caso de enfermidade pulmonar grave.
“Em combinação com outros dados, como taxas laboratoriais e avaliação das substâncias mensageiras de inflamações, pudemos estabelecer uma espécie de impressão digital, uma assinatura do funcionamento alterado dessas células, e acompanhá-lo ao longo do tempo”, relata Neha Mishra, outra autora do estudo.
Monitorando essa “impressão digital” no sangue dos pacientes de covid-19, seria possível reconhecer precocemente um curso clínico grave e preparar com antecedência o atendimento de emergência.
Uma equipe internacional realizou a pesquisa, cujos resultados foram publicados na revista especializada Immunity por especialistas da Universidade Christian Albrecht de Kiel (CAU), da Clínica Universitária de Schleswig-Holstein (UKSH) e das universidades de Nijmegen, Bonn, Colônia, Lübeck e Tübingen; assim como do Centro de Pesquisa Borstel, Centro de Pneumologia Leibniz e do Centro Alemão de Doenças Neurodegenerativas (DZNE); em cooperação com a associação de pesquisa Deutsche Covid-19 Omics Initiative (DeCOI).