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Assim como parecia pouco para o fotógrafo de natureza Fábio Arruda associar o Ceará unicamente à imagem de lindas praias, também seria pouco resumir em uma única foto cada lugar que compõe a diversidade do seu estado natal. Para driblar esses poréns, ele escolheu uma boa variedade de cenários e o recurso do time-lapse. Como o nome em inglês descreve, a técnica consiste em fotos tiradas em intervalos de tempo fixos, para depois serem exibidas em sequência, de 24 ou 30 quadros por segundo, dando uma sensação de um vídeo acelerado.

Assim nasceu o projeto “Lapso, o invisível visível”, uma expedição fotográfica para despertar a paixão e o cuidado pelas riquezas naturais dessa região brasileira. “O time-lapse é uma foto em movimento, que consegue mostrar fenômenos pouco visíveis a olho nu, seja ele o movimento da maré – que demora seis horas para subir e seis horas para baixar –, o vento que mexe uma planta e move um aerogerador, ou o movimento da Terra em relação à Via Láctea”, conta Arruda.

Para um time-lapse de 10 segundos, por exemplo, são necessárias pelo menos 300 fotografias e muitas horas de dedicação. Quando falou com PLANETA, no início de dezembro, Arruda já reunia cerca de 180 mil fotos, quase 3 terabytes (TB) de informação. A técnica, que antes demandava um equipamento acoplado à câmera chamado intervalômetro, agora já está disponível entre as opções dos modelos de máquina mais profissionais e até mesmo por meio de aplicativos para smartphones.

Dos seis profissionais envolvidos no projeto Lapso, dois trabalham de seus escritórios na edição de imagens, enquanto quatro viajam no veículo 4×4 apelidado Carcará, nome da ave de rapina típica da região. “A ave é muito guerreira, e nosso carro precisa ser mesmo muito guerreiro para enfrentar as estradas que estamos pegando. Chegamos a lugares, no interior da caatinga, totalmente sem comunicação, o que parece fora da realidade de hoje”, afirma Arruda.

A diretriz para escolher esses lugares era a mistura de elementos geográficos diferentes daqueles mais associados ao estado. Mesmo no litoral, o fotógrafo procurou mostrar as áreas menos conhecidas, como de mangue e falésias. No interior, buscou a caatinga e o sertão, mas evitou o chão rachado pela seca, apesar de o Ceará estar sofrendo atualmente uma das maiores estiagens da sua história. “Queria tirar essa outra imagem – errônea – associada à região”, pontua.

O objetivo maior de Arruda com esse projeto é despertar as pessoas para a beleza da natureza e a importância de preservá-la. “Nunca quis fotografar prédios, pessoas, eventos, etc. Não tenho nada contra, acho bonito, aprecio o trabalho dos colegas que fazem isso, mas não tenho prazer em fazer o mesmo. E tive de criar coragem para assumir isso para mim e dizer isso aos outros”, revela. Já para fotografar um beija-flor, Arruda conta que foi capaz de ficar esperando três dias. Seu interesse pelo meio ambiente vem da infância, quando assistia à série de TV de Jacques Cousteau. “Já fui ativista, já fui afiliado ao Partido Verde, mas, quando fui ficando mais velho e amadurecendo, resolvi lutar com outras armas, a fotografia.”

O projeto Lapso começou com uma tentativa de crowdfunding (sistema de vaquinha virtual), mas se tornou viável mesmo por meio de parcerias educacionais – um viés que tem tudo a ver com o passado de Arruda, antes professor de informática. O Sistema Ari de Sá de ensino (SAS), usado em mais de 500 escolas do país, irá incorporar as sequências registradas ao seu material de estudo. A TV Ceará transmitirá, a partir de 14 de janeiro, toda quinta-feira, um episódio novo, até março. Além disso, as produções podem ser acompanhadas no blog do fotógrafo, Impressões de Viagens, e os vídeos­ podem ser vistos pelo canal do YouTube.