Um enorme complicador no segmento da exploração espacial é o fato de que, a princípio, tudo tem de sair da Terra já embarcado na espaçonave – ou seja, deve caber no cone do nariz de um foguete e resistir às duras condições do lançamento. E se pelo menos boa parte desse material pudesse ser fabricada e montada no espaço? Um substancial avanço nesse sentido foi anunciado em agosto pela empresa Made In Space, da Califórnia: uma impressora 3D criada por ela foi bem-sucedida em um teste realizado durante 24 dias de junho dentro de uma câmara de vácuo térmico (TVAC, na sigla em inglês) no Centro de Pesquisa Ames, da Nasa, a agência espacial americana. A notícia abre caminho para a construção de grandes estruturas, como telescópios, fora da Terra.

Ao longo do período de testes, a impressora produziu vários objetos de liga de polímero, o maior dos quais era uma viga de 85 centímetros de comprimento. Foi a primeira vez que uma impressora 3D criou “estruturas estendidas” em um ambiente com semelhanças em relação ao do espaço (vácuo e temperaturas similares; a gravidade terrestre, porém, foi mantida), disseram representantes da Made In Space durante o evento de divulgação.

O telescópio James Webb exigirá mais de 80 operações pós-envio para ficar pronto (Foto: Divulgação)

“Esse é um marco importante, porque significa que agora podemos desenvolver as coisas no espaço de forma adaptável e sob demanda”, disse Andrew Rush, diretor executivo da Made In Space. “Reduzimos significativamente o risco dessa tecnologia”. Imprimir em 3D na gravidade zero já não é um problema, e a própria Made In Space demonstrou isso. Ela fabricou as duas impressoras 3D instaladas a bordo da Estação Espacial Internacional (uma delas é de propriedade da Nasa, e a outra é da Made In Space, que a opera com fins comerciais).

Construção e montagem

A máquina testada em junho integra o sistema robótico Archinaut, desenvolvido pela Made In Space por encomenda da Nasa. Também fazem parte do Archinaut braços robóticos que, na proposta, vão trabalhar associados a uma ou diversas impressoras 3D com o objetivo de construir e montar estruturas em pleno espaço. “Acreditamos que a fabricação e a montagem robótica espacial vão revolucionar a maneira como projetamos e implantamos e operamos sistemas no espaço”, disse Steve Jurczyk, diretor da Direção da Missão de Tecnologia Espacial da Nasa, no evento de agosto.

Teste de impressora 3D da Made In Space na gravidade zero: sucesso (foto: Nasa)

Um exemplo claro dessa mudança seria a construção de telescópios muito maiores do que os atuais.­ A mão de obra para pôr em atividade o Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês), da Nasa, cujo lançamento está previsto para novembro de 2018 e que tem um espelho primário de 6,5 metros de largura, evidencia isso. Ao custo total de US$ 8,8 bilhões, o JWST deixará a Terra tão compactado que vai exigir mais de 80 operações separadas de disposição de componentes após a decolagem até ficar pronto para observar os céus, disse Jurczyk. A complicada estratégia daria conta de telescópios com espelhos primários de até 8 metros, mas a Nasa quer aparelhos maiores, com espelhos primários de 12 metros.

Aqui entram os avanços da Made In Space com o Archinaut. Para Rush, o sistema facilitaria e baratearia esse processo, ao deixar para os gerentes de missão a tarefa mais simples de lançar o material básico rumo à nave espacial equipada com três braços robóticos, responsável por construir o telescópio em órbita. A capacidade de trabalho do Archinaut não se limita a isso: segundo seus criadores, ele também poderá consertar e ampliar satélites em órbita. A Made In Space já tem sua programação para tudo isso. O próximo passo é integrar as operações da impressora e dos braços robóticos do Archinaut, seguido de uma missão de demonstração da tecnologia na órbita terrestre. A empresa calcula que o sistema estará em plena operação em meados da próxima década.