16/10/2025 - 9:48
Todos os reféns do Hamas que sobreviveram estão de volta a Israel. As famílias começam agora a revelar as condições em que eles foram mantidos, de torturas a jogos de cartas com seus captores.É um momento de emoções contraditórias em Israel. Os corpos de 28 reféns mortos ainda não foram todos devolvidos pelo Hamas. Ao mesmo tempo, há alegria pela libertação dos 20 reféns sobreviventes mantidos em cativeiro em Gaza por dois anos. No entanto, os primeiros relatos sobre o tempo que passaram em cativeiro são angustiantes.
Desde que o cessar-fogo entrou em vigor e os reféns foram libertados, emissoras de TV e rádio em todo o país têm transmitido entrevistas ininterruptas com os parentes dos reféns, que descrevem as condições extremas em que os 20 jovens foram mantidos desde sua captura em 7 de outubro de 2023. O ataque liderado pelo Hamas ao sul de Israel desencadeou uma guerra devastadora em Gaza.
Alguns dos homens contaram ter sido mantidos em túneis subterrâneos por um longo tempo, sem acesso à luz do sol ou a ar fresco. Outros falaram sobre terem sido espancados e torturados e, às vezes, não receberem comida suficiente. Alguns conseguiram jogar cartas com seus captores, apesar das condições perigosas em que estavam mantidos. Seus relatos não podem ser verificados de forma independente.
Irmãos gêmeos capturados se reencontram
De acordo com reportagens da mídia israelense, os irmãos gêmeos Gali e Ziv Berman, que foram levados do kibutz Kfar Aza, perto da fronteira com Gaza, foram mantidos separados e só se reencontraram na segunda-feira (13/10), dia em que foram libertados.
Eles relataram um completo isolamento do mundo exterior, enquanto outros reféns estavam cientes dos protestos em Israel que pediam sua libertação.
Espancado até perder a consciência
Uma das manifestantes era Anat Angrest, mãe do soldado capturado Matan Angrest, que fez campanha incansável pela libertação dos reféns. Ela diz que o filho passou por condições particularmente angustiantes durante o cativeiro, provavelmente por ser um soldado das Forças de Defesa de Israel (IDF).
“Matan tem queimaduras graves em toda a mão direita. Ele tem deformidades nos dedos e outros ferimentos, incluindo na visão. Ele disse que passou por torturas muito severas, pelo menos nos primeiros meses”, disse ela ao canal de TV israelense 12.
Matan Angrest, agora com 22 anos, foi capturado como soldado das IDF de uma unidade de tanques estacionada ao longo da fronteira com Gaza em 7 de outubro.
“Durante o sequestro, ele se lembra de ter sido abusado”, disse sua mãe. “Ele se lembra de ter sido espancado tão violentamente que perdeu a consciência. Ele se lembra de ter sido coberto com sacos pretos, arrastado, abusado e interrogado. Ele passou por muita coisa.”
Angrest também lhe contou que foi mantido a maior parte do tempo em túneis, e que viu as paredes desabarem em meio a fortes ataques israelenses nas proximidades.
Transferências dentro de Gaza
Omri Miran, 48, pai de duas meninas, foi feito refém no kibutz Nir Oz. Seu pai, Dani Miran, disse à mídia israelense que o filho conseguiu jogar cartas com seus sequestradores.
“Ele jogou cartas com eles muitas vezes, durante a manhã inteira, até a hora da oração. E ele esperava para começar um novo dia de cartas, isso o mantinha vivo”, disse Dani Miran.
O irmão de Omri disse que ele foi transferido para mais de 20 locais diferentes no território palestino, em condições extremamente perigosas e sob intenso bombardeio da força aérea israelense.
De acordo com as autoridades de saúde locais de Gaza, mais de 67 mil palestinos foram mortos na guerra, a maioria civis. O número é considerado confiável por organizações internacionais. Acredita-se que milhares de outras pessoas estejam soterradas nos escombros.
Dois anos nos túneis de Gaza
Outro relato angustiante veio do pai de Avinatan Or, que disse que seu filho foi mantido principalmente em túneis por dois anos.
“Durante os dois anos, ele ficou no túnel. Após sua tentativa de fuga, ele foi espancado, e as condições de seu aprisionamento pioraram, e ele foi colocado em uma espécie de gaiola dentro de um túnel. É um milagre que ele tenha permanecido são”, disse Yaron Or à rádio nacional israelense KAN.
“Ele foi trancado em uma espécie de jaula com o comprimento e a largura de um colchão e 1,80 metro de altura. Avinatan tem quase dois metros de altura. Ele ficou algemado às grades por mais de um ano”, disse seu pai.
Imagens do sequestro de Avinatan Or foram capturadas e publicadas pelo Hamas após 7 de outubro. Or e sua namorada, Noa Argamani, estavam no festival de música Nova quando ocorreu o ataque liderado pelo grupo extremista. Ela foi levada pelos militantes palestinos, enquanto Or foi forçado a se afastar sob a mira de uma arma.
Argamani foi libertada em uma operação especial israelense em junho de 2024, que envolveu ataques aéreos massivos na área, matando dezenas de palestinos.
Impacto das negociações
Alguns reféns disseram que suas condições mudaram nas últimas semanas, aparentemente em relação às negociações de cessar-fogo. Reféns libertados anteriormente disseram que, dependendo dos desenvolvimentos políticos, a forma com que era tratados mudava para melhor ou para pior.
Todos os 20 estão agora em hospitais em Tel Aviv e arredores e enfrentam um longo caminho para a recuperação.