23/08/2025 - 11:52
Juri alemão considerou “Sound of Falling” uma obra “sem paralelo no cinema”. Longa venceu Prêmio Conjunto do Júri no festival francês e ganha força na corrida pela estatueta de melhor filme internacional.Um drama que entrelaça as vidas de quatro mulheres em sua luta contra a opressão e a violência ao longo de um século representará a Alemanha na disputa pelo Oscar 2026, na categoria melhor filme internacional. O prêmio foi vencido neste ano por Ainda Estou Aqui e pode ter o também brasileiro O Agente Secreto como concorrente na próxima edição.
Celebrado no Festival de Cannes de 2025, o filme In die Sonne schauen (“Olhando para o sol”, em tradução livre), da diretora alemã Mascha Schilinski, desbancou outros quatro inscritos e foi tomado pelo júri que o elegeu como “formalmente intransigente, emocionalmente existencial e artisticamente único”. Na versão em inglês, o filme é apresentado como Sound of Falling.
O júri independente de nove especialistas, nomeado pela German Films, a agência internacional do cinema alemão, afirmou que o filme não tem paralelo “no cinema alemão e internacional”.
“Como uma obra de urgência rara, magistralmente dirigida, poética, universal e corajosa, ‘In die Sonne schauen’ é uma experiência física que reverbera e se grava na memória”, acrescentou o júri. A decisão foi anunciada na quinta-feira (21/08).
Drama conecta história de quatro mulheres
O filme se passa em uma fazenda isolada de Altmark, região do centro-norte alemão que, desde a reunificação do país, compõe o estado de Saxônia-Anhalt . Ele narra a história de quatro mulheres que viveram ali em diferentes épocas.
A primeira protagonista, Alma, cresce pouco antes da Primeira Guerra Mundial, no Império Alemão. Ao descobrir que recebeu o nome de sua irmã falecida, ela vive com o medo constante de compartilhar o mesmo destino.
Em seguida, a narrativa apresenta Erika, que habita a fazenda durante a Segunda Guerra Mundial. Fascinada pelo tio ferido na guerra, ela se perde em fantasias perigosas. Angelika, por sua vez, vive no local nos anos 1980, período em que a região fazia parte da Alemanha Oriental, equilibrando-se entre a vontade de viver e o desejo de morte.
Por fim, Nelly é uma criança dos anos 2020, cujos pais se mudaram de Berlim para a fazenda, então bastante deteriorada, a fim de renová-la.
As quatro personagens estão ligadas de maneira inquietante por medos não ditos, traumas reprimidos e segredos familiares enterrados. Um evento trágico se repete, fazendo com que os limites entre passado e presente se confundam.
Um “filme do século” que conquistou Cannes
Sound of Falling abriu o concurso oficial do Festival de Cinema de Cannes deste ano e foi reconhecido com o Prêmio do Júri, que na hierarquia segue apenas a principal honraria, a Palma de Ouro. Nesta edição, a premiação foi compartilhada com outra obra, Sirat, do espanhol Oliver Laxe.
O drama de Schilinski também foi elogiado pela crítica do festival: o portal especializado Filmstarts chamou-o de “filme do século”, o Hollywood Reporter destacou-o como “um retrato envolvente e corajoso da feminilidade” e a revista Deadline afirmou que “o excelente filme é uma obra-prima de brilho etéreo e inquietante”.
Em Cannes, o brasileiro O Agente Secreto também foi premiado com o troféu de melhor direção, para Kleber Mendonça Filho, e melhor ator, para Wagner Moura. Portais internacionais o colocam como um dos favoritos a disputar o Oscar de melhor filme internacional ao lado da obra de Schilinski.
A diretora agradeceu à nomeação. “Estamos incrivelmente felizes pelo reconhecimento e pelo apoio que estamos recebendo com nosso filme. Em nome de toda a equipe, gostaria de agradecer pela grande honra de In die Sonne schauen representar a Alemanha no Oscar”, disse Mascha Schilinski.
“Esperamos que a visibilidade deste filme faça com que cineastas na Alemanha encontrem mais abertura e apoio ao tentar explorar novas formas de narrativa”, disse ela.
Após sua estreia em Cannes, Sound of Falling também foi exibido em festivais em Xangai, República Tcheca e em diversos eventos na Austrália. No início de setembro, o filme fará sua estreia no Festival de Cinema de Toronto, no Canadá; nos cinemas alemães, estreia em 28 de agosto. Ainda não há previsão de lançamento no Brasil.
O longo caminho até o Oscar
Os produtores de Sound of Falling enfatizaram a importância de haver mais mulheres representadas no Oscar. Como destacam em sua declaração, até hoje, apenas nove diretoras foram indicadas ao prêmio na categoria “Melhor Direção”.
A submissão do filme, entretanto, não garante necessariamente que ele será indicado. De todas as obras internacionais apresentadas até 1º de outubro deste ano, a Academia selecionará 15 finalistas, cujo anúncio ocorrerá em 16 de dezembro. A lista com os cinco indicados finais será divulgada em 22 de janeiro de 2026.
A última vez que um filme alemão chamou atenção no Oscar foi em 2023, com Nada de Novo no Front ,de Edward Berger. O épico anti-guerra baseado no romance de Erich Maria Remarque de 1929, ganhou não apenas o prêmio de melhor filme internacional, mas também outras três estatuetas.